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Nº 1752 - Ano 37
10.10.2011

Educação com RITMO e MELODIA

Por meio de atividade de extensão, Escola de Música forma professores de escolas regulares

Itamar Rigueira Jr.

Em 2012, a música será conteúdo obrigatório nas escolas de educação básica em todo o país. Esta foi uma vitória dos educadores da área, que lutaram pela aprovação de lei sobre o tema, em agosto de 2008. Mas não há professores capacitados para atender a quase 60 milhões de estudantes brasileiros. Nem mesmo a região Sudeste está preparada para a nova demanda.

A Escola de Música da UFMG está fazendo a sua parte e forma no próximo ano a primeira turma do curso noturno de licenciatura – criado em 2009 com recursos do Reuni –, que tem hoje 90 alunos. Enquanto isso, um projeto de extensão oferece formação musical básica a 160 professores da rede municipal de Belo Horizonte.

“A obrigatoriedade do ensino de música nas escolas regulares serve para que se comece a pensar no assunto. Estamos iniciando processo importante de interlocução da universidade com estados e municípios. Queremos influir na reflexão e no trabalho de implantação desse conteúdo”, afirma a professora Betânia Parizzi, coordenadora do Centro de Musicalização Infantil (CMI) da Escola de Música da UFMG.

Uma preocupação é a inclusão nos editais de concursos para as redes públicas da possibilidade de contratação de professores licenciados em Música. Além disso, representantes da UFMG pretendem participar da decisão sobre que faixas de estudantes vão fazer a disciplina e da elaboração de programas para as diversas séries. “É fundamental trabalhar com critérios rigorosos para definição dos conteúdos que devem ser privilegiados e a forma como as novas tecnologias vão ser incorporadas”, diz Betânia.

Betânia Parizzi enfatiza que a volta da música às escolas fará diferença na vida de crianças e jovens. “Será um importante recurso para que práticas sociais, tradições culturais e valores sejam compartilhados, com forte impacto transformador”, ela defende.

Professora de educação física, Aline Malverde já usava a música nas atividades com as crianças, mas de forma intuitiva. ”Sentia falta de conhecimento mais técnico, de dar nomes às coisas, e me esforcei para participar do curso na UFMG”, conta ela, que já está aplicando o que aprendeu e percebe resultados positivos. “Com as dinâmicas e os jogos, as crianças ganham noções de ritmo e tempo musical, que são muito importantes”, afirma Aline, que leciona na Escola Municipal Professor Amílcar Martins, no bairro Santa Amélia.

Audição e performance

O projeto Música na Escola, financiado pelo Ministério da Educação por meio do Programa de Extensão Universitária (Proext), tem oito turmas de 20 professores da educação infantil e das primeiras séries do ensino fundamental. No primeiro semestre, o curso privilegiou a formação musical dos educadores, submetidos a experiências de performance vocal e corporal. Ele ouviram música com atenção voltada para o discurso melódico e foram estimulados a criar composições.

O projeto desenvolvido na Escola de Música da UFMG prevê ainda a elaboração de uma revista online de educação musical que pretende levar esse conhecimento para todo o país. E inclui uma disciplina em que os graduandos aprendem a dar aulas para adolescentes. São 15 alunos que já atuam em escolas da prefeitura de Belo Horizonte. “Queremos espalhar ideias e atividades, fazendo da nossa Escola uma referência na formação de professores de música”, entusiasma-se Betânia Parizzi.

Entre outras iniciativas da UFMG vinculadas de alguma forma à obrigatoriedade do ensino do conteúdo nas unidades de educação básica, estão a criação do Núcleo de Pesquisa em Educação Musical e uma pesquisa realizada no CMI, por alunos de ensino médio, sobre repercussões desse tipo de aprendizado na vida do adolescente. O objetivo é investigar se o estudo da música é compartilhado com pares e familiares, de que forma isso acontece e as consequências dessa interação na vida desses adolescentes.

Villa-Lobos e Getulio

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A história começou com Heitor Villa-Lobos e as motivações nacionalistas do presidente Getulio Vargas, nos anos 1940. O compositor aproveitou o impulso da política para reforçar o lobby pelo ensino de música nas escolas, que se tornou obrigatório. Em função de problemas como a dificuldade de formar professores num país imenso, e com a morte de Villa-Lobos, a ideia se enfraqueceu a partir da década de 60.

Em 1971, lembra Betânia Parizzi, a legislação passou a determinar que as escolas implantassem a “educação artística”, o que pulverizou o ensino, dividido então entre artes plásticas, teatro e outras modalidades. Os professores de música foram deixando o ambiente escolar e a música passou a aparecer apenas em festas e momentos cívicos.

A Lei de Diretrizes e Bases de 1996 implantou a disciplina de artes e delegou poderes aos estados e municípios, mas pouco interferiu na rotina das escolas. Nos anos 2000, com a campanha no Congresso Nacional pela escola em tempo integral como forma de combater o uso de drogas e outros problemas sociais, as associações de educadores musicais se mobilizaram e receberam a adesão de artistas conhecidos. Há três anos, o Congresso aprovou a lei que leva de volta às escolas regulares o ensino de música.