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Nº 1754 - Ano 38
24.10.2011

SAÚDE nas CIDADES

Medicina sedia congresso e conferência relacionados à promoção da saúde

*Alessandra Ribeiro

Aproximadamente 85% da população mundial viverá em áreas urbanas até 2050, segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS). O Brasil praticamente já atingiu esse índice em 2010, de acordo com o censo do IBGE. Nesse cenário, problemas como violência, poluição, trânsito, estresse social e mudanças climáticas se colocam como desafios para a saúde urbana. Ao mesmo tempo, a promoção da saúde passa a exigir a participação não só dos profissionais da área, mas também de diversos setores sociais.

2º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG

Com a proposta de aprofundar discussões em torno dessas questões, o 2º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG será realizado de 2 a 5 de novembro, no Minascentro. Simultaneamente, acontece a 10ª Conferência Internacional de Saúde Urbana (ICUH 2011), entre os dias 1o e 4 de novembro, no mesmo local. Os dois eventos integram as comemorações do Centenário da Unidade.

O tema geral do Congresso é Políticas de promoção de saúde, dividido em sete eixos, que abrangem políticas desenvolvidas pelos governos, pelas organizações, empresas de saúde suplementar, universidades e a mídia, além das iniciativas dos indivíduos em favor da própria saúde. O destaque é o eixo “Políticas urbanas de promoção de saúde”, que abrange a ICUH 2011.

A Conferência é inédita na América Latina. A escolha do Brasil para sediar o principal fórum mundial sobre saúde urbana é justificada pela professora Waleska Teixeira Caiaffa, coordenadora do eixo e da Conferência. “O Brasil é sempre mencionado pelo sucesso das experiências de gestão democrática no planejamento e execução de políticas públicas na área”, afirma, destacando que o SUS é considerado uma iniciativa bem-sucedida, apesar de o país também ser caracterizado pela desigualdade no acesso à saúde.

ICUH 2011

O tema da ICUH 2011 é justamente Ações da saúde urbana direcionadas à equidade. A cidade de Belo Horizonte será apresentada como modelo de governança e de gestão participativa. A programação inclui visitas guiadas às áreas de intervenção dos diversos programas municipais, como Projeto Vila Viva, Orçamento Participativo, BH Cidadania, Academias da Cidade, entre outros.

Maconha e aborto: polêmicas à vista

Um dos conferencistas do eixo “Promoção da saúde nas organizações”, o cardiologista Julizar Neto, médico sênior da Petrobras, afirma que o Brasil é bastante avançado na regulamentação das normas que orientam a saúde e a segurança no trabalho. Mas, segundo ele, as ações ainda estão muito restritas ao cumprimento da legislação trabalhista e, quanto muito, à atividade física, à alimentação saudável e ao controle da dependência química entre funcionários. “A proposta é ir além do que já é praticado e abranger outras dimensões – espiritual, social, emocional, o desenvolvimento intelectual do trabalhador, a capacitação dele para o exercício de suas atividades, o desenvolvimento de novas habilidades e a autoestima”, exemplifica.

Duas sessões interativas prometem levar polêmica ao Congresso. Uma delas, coordenada pelo professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, Ênio Pietra Pedroso, será sobre o uso medicinal da Cannabis sativa, a maconha. Ele defende amplo debate sobre drogas por parte da sociedade. “O uso de drogas lícitas e ilícitas é um dos problemas de maior gravidade da atualidade, por isso é necessário que seja discutido por um viés educacional – e não somente policial – com a escola, organizações não governamentais e Estado”, afirma.

O debate terá como palestrantes o psiquiatra Antônio Waldo Zuardi, da Universidade de São Paulo (USP), e o professor do Departamento de Farmacologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) Fabrício de Araújo Moreira. Ambos desenvolvem estudos sobre o potencial terapêutico da erva.

A outra polêmica em pauta é a descriminalização do aborto, na sessão coordenada pelo professor Edison Corrêa, do Departamento de Pediatria, com a participação do frei Cláudio Van Balen e da representante da Comissão de Cidadania e Reprodução, Fátima de Oliveira, ligada ao movimento feminista. Edison Corrêa não espera que o debate termine com uma posição definitiva sobre o assunto, mas ressalta que a ideia é aprofundar argumentos. “A Faculdade de Medicina assume um papel social ao oferecer abertura para um assunto da sociedade, que geralmente não está na sala de aula”, avalia Corrêa.