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Nº 1762 - Ano 38
6.2.2012

RADICALMENTE poético

Diálogo entre poesia e ciência é o mote do Festival de Verão deste ano

Itamar Rigueira Jr.

A certeza de que a poesia se relaciona com todas as áreas do conhecimento, e de que essas áreas têm potencial de diálogo bem maior do que se costuma imaginar, dá o tom da sexta edição do Festival de Verão da UFMG. O evento será realizado de 17 a 21 de fevereiro, período de Carnaval, com o tema Folia da poesia. Uma das novidades deste ano é o caráter inclusivo do evento – algumas das oficinas poderão receber cegos, surdos e cadeirantes.

Catorze oficinas, com 319 vagas, serão realizadas no campus Pampulha e no Centro Cultural UFMG. As inscrições poderão ser feitas até o início de cada atividade, com exceção das oficinas inclusivas, que terão suas listas de alunos fechadas no próximo dia 13 de fevereiro. A taxa única é de R$ 20.

Tradução literal

Se as edições anteriores do Festival de Verão eram anunciadas como alternativa ao Carnaval, o evento deste ano apropria-se sem constrangimento da ideia de folia. “Tomamos ‘os sentidos do conhecimento’ (tradicional slogan do festival) na direção da tradução literal do francês folie, que é loucura”, explica a coordenadora do evento, Lucia Castello Branco, cujas pesquisas envolvem literatura e psicanálise.
Lucia lembra também que a poesia trata do “sentido na sua radicalidade”. Em sua proposta de abordagem para o Festival em 2012, a escritora e professora da Fale cita o filósofo Jean-Luc Nancy, que vê a poesia como “forma de resistência ao ‘sem sentido’ do mundo, já que é ela própria uma ‘orla de sentido’, mas de ‘um sentido sempre por fazer’”.

Ainda segundo a coordenadora, o objetivo é que “a poesia se ofereça como um elemento transdisciplinar que poderá dialogar com as ciências da vida, as exatas e da terra, e ainda as artes e a filosofia”.

Para todos os gostos

O fogo como fenômeno físico e ecológico e seus efeitos sobre a fauna e a flora da Serra do Rola Moça são temas de oficina da área de Ciências da Vida e da Saúde. Aula prática em campo vai comparar ambientes pré e pós-fogo e características do fogo em diferentes formações vegetais. Outra atividade vai revelar como se dão adoecimento e cura para os índios Maxacali, propondo a elaboração de um diário coletivo sobre o primeiro contato de alunos da área da saúde com esses processos na cultura dessa etnia.

As oficinas da área de exatas contemplam temas atuais, como os quasicristais, conceito proposto há 30 anos e só agora reconhecido – valeu o Prêmio Nobel de Química em 2011 ao israelense Daniel Shechtman. O coordenador da área de Ciências Exatas, da Terra e Tecnologias, professor Alfredo Gontijo, explica que os cristais, tão ligados à vida cotidiana – os naturais compõem as joias e os sintéticos formam a base da revolução da informática – ganharam com os quasicristais uma espécie de dissidência. A oficina vai mostrar como essas estruturas foram observadas por meio da microscopia eletrônica de transmissão e, de forma prática e teórica, diversos conceitos que se relacionam a esse campo.

Outro tema que rendeu o Nobel no ano passado (o de Física, dividido por três cosmólogos) é a expansão acelerada do Universo, que será abordada por outra oficina da área, a cargo do grupo de Astronomia da UFMG. “Os alunos vão compreender o que significa esse fenômeno e conhecer especulações sobre que espaço e tempo estariam sendo ocupados por essa expansão, além de implicações filosóficas”, explica Gontijo. Parte das atividades dessa oficina ocorrerá no Observatório Astronômico Frei Rosário, na Serra da Piedade.

Intervenção

A poeta e letrista Alice Ruiz vai ministrar uma das oficinas da área de Humanidades, Letras e Artes. A ideia é que os participantes entendam as diferenças entre poesia e letra de música, e elaborem letras que poderão ser musicadas pelos alunos da oficina Vai nascer uma canção. Outra das atividades dessa área vai girar em torno da “poesia de intervenção” – com inspiração na obra do catalão Joan Brossa –, que pode ter como suporte o espaço público, o corpo e a natureza. Os participantes serão estimulados a “intervir” em outras oficinas do Festival.

A oficina Máquinas poéticas, esculturas cinéticas simboliza a ideia que norteia os Projetos Especiais desse edição do Festival. A atividade promoverá conexão entre artes e engenharias, com a participação de um técnico que vai auxiliar na elaboração de esculturas cinéticas. Outra oficina – Invenção de práticas do não saber – incentivará crianças e adolescentes, que têm pouca vivência da rua, a criar novos modos de se relacionar com a cidade, compartilhando o espaço público.

“Nossa área pretende explorar o aspecto transversal das áreas do conhecimento”, conta o professor da Escola de Engenharia Marcos Bortolus, coordenador dos Projetos Especiais. A proposta, de acordo com Bortolus, é a de trabalhar com temas transdisciplinares “sem hierarquização do conhecimento, levando a decisões coletivas que dependem do desenrolar das atividades”.

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