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Nº 1762 - Ano 38
6.2.2012

O termo surgiu em 2004 com Thomas Vander Wal, para designar uma classificação popular que se origina das ações de representação da informação desempenhada pelos usuários de diversos serviços na web. É uma inovação que explora o uso da linguagem cotidiana e o potencial das redes sociais na organização da informação.

Invasão cruzada

Pesquisadores brasileiros e portugueses refletem em livro sobre as novas relações entre escola e família

Itamar Rigueira Jr.

Áreas estanques até pouco tempo atrás, a sociologia da educação e a sociologia da família deixaram de se ignorar e procuram, juntas, entender fenômenos como a chamada “dupla invasão” – do território da escola pela família e vice-versa. Esses fenômenos têm sido discutidos por pesquisadores brasileiros e portugueses em parceria que começa a ganhar contornos de pesquisa conjunta. E as preocupações dos dois países nessa área estão expressas no livro Família, escola e juventude: olhares cruzados Brasil-Portugal (Editora UFMG).

Os primeiros capítulos da obra, que reproduz apresentações do I Colóquio Luso-Brasileiro de Sociologia da Educação, realizado em 2008, em Belo Horizonte, questionam a superconsagrada tese de Pierre Bourdieu a respeito da influência do capital cultural familiar sobre o desempenho escolar. “O debate atual não chega a refutar essa tese, mas a relativiza, valorizando o que definimos como multipertencimento do indivíduo, que se tornou mais plural culturalmente. A escola deixou de ser a grande guardiã da legitimidade cultural”, explica a professora Maria Alice Nogueira, coordenadora do Observatório Sociológico Família-Escola, da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG. Os encontros entre portugueses e brasileiros têm sido promovidos também pelo Observatório da Juventude, da FaE, e pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

A nova divisão do trabalho entre famílias e escolas é outro tema recorrente no livro. A clássica separação das funções – a escola transmite os saberes e os pais promovem formação moral e desenvolvimento psicológico – deu lugar a um quadro em que os papéis estão embaralhados. “As famílias contemporâneas estão ainda mais apegadas ao valor da escolarização dos filhos, e não querem mais deixar essa responsabilidade exclusivamente para as instituições de ensino. Os pais interferem nos processos de ensino-aprendizagem e são convocados a isso por diretores e professores”, conta Maria Alice.

Ela acrescenta que a escola ganhou delegação para contribuir com a formação em torno da cidadania e do bem-estar psicológico dos alunos, e que seus representantes também interferem no cotidiano doméstico, a partir do conhecimento das questões internas à família. Maria Alice Nogueira ressalta, entretanto, que esses movimentos não se dão sem boa dose de tensão. “A parceria é incentivada pelas políticas públicas, mas há uma visão idílica dessa relação que não corresponde à realidade.”

Efeito-escola

De acordo com a professora da FaE, Portugal e Brasil compartilham influências teóricas e bibliográficas (em boa parte de origem francesa) e a recente experiência de democratização de oportunidades no sistema de ensino, com problemas comuns gerados pela afluência de uma parcela da população que não frequentava a escola.

O “efeito estabelecimento de ensino” é outro aspecto tratado pelos pesquisadores dos dois lados do Atlântico. Apoiados em recursos estatísticos que determinam o peso de fatores isolados no desempenho escolar, os estudiosos têm constatado que a origem social e cultural é, sim, mais determinante, mas que a ação da escola pode fazer alguma diferença. “É talvez o campo de investigação mais promissor, já que se trata de pensar formas de minimizar o peso das desvantagens sociais”, afirma Maria Alice Nogueira.

Outros capítulos de Família, escola e juventude são dedicados às novas abordagens dos jovens, que levam em conta não mais apenas o seu papel como alunos, mas também sua atuação fora da escola. Os pesquisadores buscam compreender a fundo a relação desses sujeitos com a escola e com o saber a partir de sua inserção na vida cultural e em ações coletivas no espaço público, além de sua vivência em relação a questões ligadas a gênero, sexualidade e etnia.

Livro: Família, escola e juventude:
olhares cruzados Brasil-Portugal
Organizado por Maria Alice Nogueira, Juarez Dayrell, José Manuel Resende e Maria Manuel Vieira
Editora UFMG
449 páginas / R$ 60 (preço sugerido)