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Nº 1764 - Ano 38
27.2.2012

O termo surgiu em 2004 com Thomas Vander Wal, para designar uma classificação popular que se origina das ações de representação da informação desempenhada pelos usuários de diversos serviços na web. É uma inovação que explora o uso da linguagem cotidiana e o potencial das redes sociais na organização da informação.

Performance em 140 caracteres

Trabalho de mestrado na Comunicação analisa comportamento de Dilma e Serra no Twitter durante a última campanha

Itamar Rigueira Jr.

O sucesso da campanha de Barack Obama nas redes sociais em 2008 inspirou teóricos e militantes de áreas diversas – e não foi diferente com Danny Marchesi de Almeida, que buscava a abordagem de seu projeto de mestrado em Comunicação Social. Mas outro fenômeno envolvendo um político brasileiro foi também decisivo para sua escolha: José Serra, que seria derrotado por Dilma Rousseff em 2010, parecia exibir em seu perfil no Twitter uma persona diferente. Intrigada, Danny resolveu estudar a performance e as interações dos candidatos durante a última campanha presidencial.

A observação do comportamento dos dois principais candidatos durante quase quatro meses de campanha na rede de microblogs permitiu à pesquisadora destacar, nos apontamentos finais de sua dissertação, que “os modos de estar com os outros passam pela estrutura, mas concretizam-se em diferentes formas a partir do momento da interação”.
A pesquisadora não se preocupou com o potencial dos perfis de produzir resultados que se traduzissem em votos, mas em analisar como Dilma e Serra se posicionavam, não apenas no contexto da eleição, mas a partir das especificidades da própria plataforma. “O Twitter funciona sob outra lógica comunicativa. Naquele ambiente os candidatos encontravam de veículos de imprensa a pessoas comuns”, ela ressalta.

Com base em conceitos como o de performance, desenvolvido por Erving Goffman, que trata da atividade do indivíduo de se mostrar, desempenhando papéis em constante interação com outros, Danny procurou apreender os valores transmitidos pelos candidatos. Nessa linha, ela comenta, por exemplo, que Dilma não enfatizou, em sua atuação no Twitter, o fato de ser uma mulher postulando o cargo mais alto do país.

Acenos e conversas

Danny Almeida dedicou manhãs a fio a acompanhar cada post de Dilma e Serra – foram 185 da atual presidente e 1068 do tucano, sem contar as respostas a seguidores, de número difícil de precisar. Ela destaca pontos em comum, mas também uma diferença fundamental entre os perfis @dilmabr e @joseserra_.

De acordo com a pesquisadora, Dilma demonstrava adesão protocolar ao Twitter, como se cumprisse uma obrigação de todo candidato depois da experiência de Obama. “Seu uso da rede foi limitado. Ela não se envolveu nas discussões, apenas se referia à campanha em si, convocando para eventos, por exemplo”, afirma Danny.

José Serra, por sua vez, talvez em função da familiaridade com o ambiente, fez campanha em seus posts: mantendo o típico discurso político, também apresentou alta carga de conversas e expressivismo. Ele mencionou propostas, falou de realizações, atacou e se defendeu por meio das mensagens curtas que caracterizam o Twitter. “Serra fazia brincadeiras e comemorou várias vezes o aumento no número de seguidores de seu perfil”, salienta Danny Almeida, informando que o candidato chegou a 500 mil seguidores, frente aos 330 mil de Dilma.

As diferenças nas performances dos candidatos sugerem, segundo a pesquisadora, que o perfil de Dilma teve forte participação da assessoria, enquanto Serra, que tuitava de madrugada, sempre pareceu produzir pessoalmente a maioria dos posts. Esse aspecto não foi relevante para a análise, segundo Danny Almeida.

Ela ressalta também que as performances no Twitter, que certamente não foram decisivas para a votação recebida pelos dois candidatos, contribuem para a construção da imagem política. E isso extrapola intencionalidades. Um aspecto que se pretende relegar ao fundo pode muito bem ganhar o primeiro plano. “Se pretendeu desfazer a imagem de político sisudo, workaholic e centralizador – como ele mesmo chegou a demonstrar com bom humor –, Serra pode em parte ter sido traído por hábitos como o de postar e responder sempre ele próprio, e durante a madrugada”, exemplifica Danny Almeida.

Dissertação: Candidatos no Twitter – Um olhar sobre a performance e as interações de Dilma e Serra durante a campanha eleitoral de 2010
Autora: Danny Marchesi de Almeida
Orientadora: Vera França
Programa de Pós-graduação em Comunicação Social
Defesa:13 de fevereiro de 2012