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Nº 1766 - Ano 38
12.3.2012

ENGENHAR, imitar, INVENTAR

Pesquisadores de várias áreas especulam sobre aspectos a serem valorizados na universidade do futuro

Itamar Rigueira Jr.

O evento de abertura promete dar o tom do seminário que começa nesta quarta-feira, dia 14: o músico e professor da Columbia University George E. Lewis vai conduzir um concerto em que improvisa ao trombone, acompanhado por dois pianos, um deles tocado por Cliff ­Korman, docente da Escola de Música, e o outro controlado por software de sua autoria.

Lewis é conferencista de mais uma etapa do ciclo Universidade do Futuro, que terá como tema Imitar, engenhar, criar. Depois de promover conversas sobre as perspectivas das bibliotecas universitárias e as demandas para as engenharias, a iniciativa da Reitoria e do Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares (Ieat) vai tratar esta semana de aspectos como criatividade, imaginação, imitação, simulações, genialidade e inventividade. O evento se estende até o dia 16, no auditório da Escola de Música.

O professor americano também vai debater com Mario Montenegro Campos, do Departamento de Ciência da Computação (DCC), temas como inteligência, máquina, mente estendida, simulações e improvisações. A mediação do professor Mauricio Loureiro, da Escola de Música e diretor do Ieat, deve explorar a ideia da expressão humana, cruzando as visões de um artista e de um cientista da computação. Montenegro lembra que a improvisação é uma vertente importante do processo criativo, quando se trata do campo da inteligência artificial. “A programação dos robôs inclui o que chamamos replanning, que permite que ele aja de acordo com eventos imprevistos. Mas nem tudo é computável”, comenta o coordenador do Laboratório de Visão Computacional e Robótica (VeRLab).

Os espaços de criação na universidade serão tema de debate com a participação de Ivan Domingues, do Departamento de Filosofia, Ado Jório, do Departamento de Física e diretor da Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), e Jacyntho Lins Brandão, da Faculdade de Letras. Domingues pretende questionar a imposição da produtividade como fator de restrição da qualidade da pesquisa e do ensino. “Os países centrais já discutem alternativas a um cenário em que os pesquisadores gastam mais tempo administrando suas carreiras que se dedicando à sua atividade essencial”, afirma o filósofo, que coordena o ciclo Universidade do Futuro. Ele critica o que chama de taylorização da produção acadêmica, em referência à “tirania dos ranqueamentos e da auditagem”.

Um dos integrantes da segunda mesa do seminário – em torno do papel da imaginação nas ciências, nas artes e nas engenharias –, o professor Marcos Vinicius Bortolus, do Curso de Engenharia Aeroespacial, pretende contribuir com reflexões em torno dos processos criativos. Ele coordena disciplinas que procuram despertar o potencial dos alunos e trabalha também com as turmas da licenciatura indígena da UFMG, destinada a formar professores para atuação nas aldeias. “Não se trata de propor uma metodologia, mas de identificar elementos básicos e ­aspectos norteadores da criatividade. O processo criativo ocorre aqui e agora, em sintonia com o ambiente. Um futuro diferente, inovador, depende de se trabalhar em sintonia com o presente”, afirma Bortolus.

Mimesis

Na última mesa do evento, Paulo Sergio Beirão, Virgílio de Almeida e Carlos Antonio Brandão discutirão as diferenças entre imitação e cópia no âmbito das atividades intelectuais. Cacá Brandão vai propor o resgate do conceito de mimesis, criado na Antiguidade e que caiu em desuso na história da arte a partir do século 16. Segundo tal conceito, imitar não é copiar simplesmente, mas interpretar a natureza e os antigos. “A ideia deve ser retomada porque é atual, já que não se cria nada de absolutamente novo. E podemos fazer uma analogia da atividade artística com a intelectual. Imitar é outra maneira possível de criar, engenhar”, explica o professor da Escola de Arquitetura.

A programação do seminário está no site www.ufmg.br/ieat.

Sob o domínio da improvisação

A improvisação vai conduzir a novos modelos de inteligibilidade, ética e tecnologia, afirma, nesta entrevista ao BOLETIM, o professor George Lewis, músico, escritor e um dos maiores especialistas em improvisação com o uso do computador.

Como será sua participação no seminário?

Em um ambiente cultural, social e econômico globalizado, sistemas digitais interativos nos encorajam a repensar como a prática humana primordial da improvisação produz conhecimento, sentido e relacionamentos. É isso que abordarei em minha conferência. Uma vez que tanto a improvisação quanto a computação são ambientes importantes de exploração interdisciplinar nas artes e nas ciências, estudos de improvisação e interatividade desafiam as concepções tradicionais de identidade humana.

O concerto serve a outro aspecto dessa exploração. No meu trabalho Interactive trio (2007), vamos tocar ao vivo diálogos com um programa de computador, que é um “improvisador virtual” interativo, e toca um piano acústico. O programa que criei analisa aspectos da música em tempo real e gera respostas complexas, além de estabelecer um comportamento próprio.

De que maneiras sua produção e pesquisas podem inspirar debates sobre o futuro da universidade?

Minha tese é a de que a improvisação não está restrita ao domínio artístico, mas se estende a outros aspectos da vida cotidiana, e vai conduzir a novos modelos de inteligibilidade, ética e tecnologia – aspectos críticos da transformação social que a universidade deve também liderar.

Como vê a oposição entre medidas de produtividade acadêmica e a necessidade de mais tempo e criatividade no ensino e na pesquisa?

As universidades devem usar cada vez mais a imaginação para criar recursos e oportunidades para atuação interdisciplinar e colaborativa, promovendo mais eventos como este, residências e intercâmbio de ideias.


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