Busca no site da UFMG

Nº 1768 - Ano 38
26.3.2012

Lupa apurada

Método desenvolvido na UFMG detecta mais de 50% de vermes em folhas de alface; nos EUA, índice é de 10%

Ana Rita Araújo

Consumidas quase sempre cruas, as hortaliças atuam como veículos de transmissão de helmintos intestinais, conhecidos como vermes. Nem sempre as análises microbiológicas e parasitológicas de vegetais processados, realizadas por laboratórios públicos envolvidos com vigilância sanitária, são suficientes para evitar o problema, devido à dificuldade na detecção desses parasitos. Em dissertação defendida no início de março no ICB, a bióloga Flaviane Cristina Lopes Matosinhos padronizou metodologia para detecção de ovos e larvas de helmintos em alface.

O método, segundo ela, poderá ser adotado pelos laboratórios públicos que fazem avaliação de amostras de vegetais comercializados no país, recolhidas aleatoriamente pela Vigilância Sanitária, como é o caso, em Minas Gerais, da Fundação Ezequiel Dias (Funed). Trata-se de amostras dos chamados vegetais minimamente processados, isto é, higienizados pela empresa beneficiadora e que deveriam estar livres de contaminação. Após analisadas, as amostras recebem laudo que atesta se o alimento é ou não apropriado para consumo.

“Tendo em vista que o resultado final da análise parasitológica em vegetais é expresso por presença ou ausência de parasitos, a metodologia proposta apresentou desempenho satisfatório, com detecção de 50% a 62% dos ovos e larvas dos helmintos testados”, resume Flaviane, acrescentando que o método adotado pelo Food Drug Administration (FDA), agência que fiscaliza alimentos e medicamentos nos Estados Unidos, detecta apenas 10% de parasitos.

Segundo a autora, resultados preliminares com rúcula apontam para a possibilidade de utilização do método também para outros vegetais folhosos. “A metodologia mostrou-se simples, de fácil execução e baixo custo. Além disso, a alta sensibilidade obtida nas análises interlaboratoriais e com outra matriz vegetal sugere sua potencial aplicação na rotina de laboratórios de microscopia de alimentos”, completa.

O estudo informa que cerca de dois bilhões de pessoas estão infectadas com helmintos em todo o mundo, e mostra a importância dos vegetais como veículos de transmissão de infecções parasitárias. A contaminação pode ocorrer em todos os pontos da cadeia produtiva, o que inclui o uso de águas residuais para irrigação, adubação orgânica e contaminações pós-colheita. Pesquisas no Paquistão mostram, por exemplo, três vezes mais ovos de helmintos por grama de vegetais recolhidos no mercado do que no campo. Similarmente, estudo realizado em Ribeirão Preto (SP) aponta para a prevalência de 20% de helmintos em hortaliças no campo, frente aos 58% registrados no comércio.

Para obter a padronização do método, Flaviane Matosinhos realizou testes laboratoriais com três tipos de contaminantes em forma de ovos e larvas, em amostras de alface (Lactuca sativa), uma das folhosas mais vendidas no Brasil – só em Belo Horizonte, em 2010, foram cerca de 600 mil quilogramas – e em geral consumida crua.

Desenvolvida no Laboratório de Parasitologia Molecular do Departamento de Parasitologia do ICB, em parceria com o Serviço de Microscopia de Produtos do Instituto Otávio Magalhães da Funed, a pesquisa destaca que os laboratórios de saúde pública devem trabalhar, na garantia da segurança alimentar, com métodos padronizados, publicados em normas ou validados, e que a identificação dos parasitos é fundamental para estratégias de controle.

Dissertação: Padronização de metodologia para detecção de ovos e larvas de helmintos em alface
Autora: Flaviane Cristina Lopes Matosinhos
Defesa: 9 de março de 2012
Orientação: Élida Mara Leite Rabelo, do Departamento de Parasitologia do ICB
Co-orientação: Virginia Del Carmen T. Valenzuela, da Funed
Programa de Pós-graduação em Parasitologia