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Nº 1768 - Ano 38
26.3.2012

Livros em questão

Pesquisadores, escritores, editores e leitores discutem a convivência do códice e do e-book em série da rádio UFMG Educativa

Itamar Rigueira Jr.

“Com as novas tecnologias de comunicação, a distinção entre um livro impresso e um online é de grande significância. Pode ser que voltemos a desenrolar livros nas telas de computadores, o que é bem diferente de virar páginas. Então, curiosamente, a história do livro como um objeto está voltando, em certo sentido, para onde começou dois mil anos atrás.”

O depoimento é do historiador Robert Darnton, chefe da biblioteca de Harvard e autor da obra A questão dos livros, parte da motivação de série de reportagens da rádio UFMG Educativa (104,5 FM) que será veiculada diariamente a partir desta quarta-feira, dia 28, às 16h45. Ao longo de dez inserções de cerca de cinco minutos, Darnton divide espaço com escritores, pesquisadores – como Emmanuel Fraisse, da Universidade Nova Sorbonne Paris III –, editores, livreiros e leitores, que opinam sob diversos ângulos acerca da emergência de novas formas de leitura em telas digitais e as perspectivas do livro impresso. Os programas são abertos e fechados por trechos de obras declamados por leitores (até então) anônimos.

A questão da interatividade oferecida pelos produtos digitais é relativizada pela pesquisadora Ana Elisa Ribeiro. Ela avalia que não se interage apenas com objetos nos quais se clica para receber determinado tipo de resposta. “É preciso se relacionar também o tempo todo com o livro impresso, você dialoga com o que está lendo, essa questão da interatividade é muito pessoal”, afirma a pós-doutora em Comunicação pela PUC Minas.

Um dos escritores entrevistados é Affonso Romano de Sant’Anna, que destaca a adequação dos diversos textos. “Alguns são mais visuais, outros mais abstratos. A internet possibilita que você coloque imagens e músicas com a interação de vários códigos”, diz o poeta, que também mantém atividade literária online.

Três perguntas

De acordo com a produção, a série também foi inspirada na coletânea Livros e telas (Editora UFMG), organizada por pesquisadoras da FaE, e está estruturada sobre três perguntas básicas: o que é o livro?, qual o futuro do livro? e qual a importância da materialidade para a leitura?. Coordenadora do Grupo de Pesquisa do Letramento Literário (GPELL), da UFMG, Célia Abicalil Belmiro aborda o potencial dos meios digitais na literatura infantil. Ela destaca que os novos meios criam “atenção renovada por parte do leitor, que trabalha a imagem e o texto de forma mais íntegra”.

E a popularização da leitura das telas digitais parece ser capaz de dobrar a resistência ao impresso, na visão da professora Maria da Conceição Carvalho, da Escola de Ciência da Informação da UFMG. “Essas pessoas estão mais dispostas a se comunicar através da escrita e da leitura, conquistadas pela ligeireza, fragmentação e instantaneidade dos textos nos novos meios”, ela depõe.

A série da UFMG Educativa ouviu também livreiros e editores. Sergio França, coordenador editorial do grupo Record, exalta a praticidade do livro digital e a possibilidade do acesso remoto aos clássicos, por exemplo. “O livro digital até ajuda a vender o impresso, porque as pessoas querem ter aquela obra em casa.” Para ele, o novo formato é bem-vindo também quando se pensa que aproxima a literatura dos nativos digitais. “Que ótimo que temos uma forma de alcançá-los”, destaca.

Além da agenda diária

A série Livros e telas – A questão dos livros integra projeto da rádio UFMG Educativa destinado à formação de alunos de Jornalismo. “A partir de certo ponto de seus estágios, os alunos realizam reportagens especiais, mais extensas, que extrapolam a agenda diária. Eles se envolvem desde a concepção até a edição dos programas, passando pela apuração e pela gravação das entrevistas”, explica o coordenador de produção da emissora, Cleiber Pacífico. A série foi produzida por Alessandra Dantas, Antonio Tinoco e Otavio Zonatto, com colaboração de Jessica Almeida, Fernanda Brescia, Raquel Freitas, Sara Dutra e Gilberto Correa (locução).