Antiga Casa da Cadeia

Ao tratarmos do antigo Fórum, e das funções da Câmara no período colonial, já registramos a excepcionalidade para o período colonial da separação entre as casas da Câmara e da Cadeia, como ocorre em Tiradentes.

As formas de encarceramento por categorias de classe econômica, sexo e cor, foram estudadas magistralmente por Paulo Thedim Barreto. Além do aljube, da sala livre, da sala fechada ou forte, Barreto enumera ainda a moxinga – repartimento com um alçapão cujo acesso só se dava por escada de mão. Incomunicável era também o “segredo”, havendo ainda uma prisão denominada oratório, com um altar, onde passavam os últimos dias os condenados à morte.

Adequando-se ao espírito da Constituição do Império, de 1824, as casas de Câmara e Cadeia sofreram transformações. As prisões se arejaram, separando-se mais claramente os poderes administrativo-judiciais e penitenciários.

Localizada na antiga Rua Direita, que corta a cidade quase em linha reta, a antiga Casa da Cadeia de Tiradentes tem diante de si o Largo do Rosário, que favorece ótima visão do prédio. Após o incêndio que sofreu em 1829, a Cadeia foi reconstruída em 1835, em estilo neoclássico que se prende ao gosto da corte do Rio de Janeiro no século XIX. Desde a chegada da Missão Francesa de 1816, e, sobretudo após a criação do curso de arquitetura na Imperial Academia de Belas Artes, os prédios públicos, pelo menos na Corte, passaram a adotar linhas neoclássicas. Nessa época, teriam sido projetadas as fachadas da Cadeia. De acordo com a tradição local, as suas paredes eram de pedra aparente, tendo-lhe sido acrescentados depois cunhais de massa e cornija bem perfilada.

Como registraram matérias na imprensa das décadas de 1940 e 1950, a Cadeia de Tiradentes ficaria apenas para mulheres. Essa informação confirma a existente em publicação do SPHAN / Pró-Memória, onde vemos que durante certa época a Cadeia encerrava apenas mulheres, escoltadas até o chafariz para lavarem roupa.

Praticamente desativada a partir de 1984, com o envio de presos para o distrito da Vila de Santa Cruz e São João del-Rei, a Cadeia esvaziou-se de suas funções, e nesse mesmo ano, em 27 de setembro, o governo do Estado de Minas Gerais doou o imóvel à Fundação Rodrigo Melo Franco de Andrade. Com o apoio das Minerações Brasileiras Reunidas, foi possível ao SPHAN realizar a obra de recuperação, sob a orientação do arquiteto Roberto Lacerda.

As belas paredes internas de pedra lavrada e duas fortes fileiras de grades nas janelas adequavam-na como espaço de museu, com boa luz e boa ventilação. Uma vez restaurado o prédio, a Fundação decide instalar ali o Museu de Arte Sacra Presidente Tancredo Neves. O Museu teve suas portas abertas de 1986 a 2005.

Mais recentemente, o prédio foi cedido para o Instituto Cultural Flávio Gutierrez, para ali ser instalado o Museu de Sant’Ana, inaugurado em 2014 (http://museudesantana.org.br/).

Os comentários estão encerrados.