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Nº 1323 - Ano 27 - 08.08.2001

À prova de fraude

Dissertação desenvolve técnica

para identificar falsificação de obras de arte

estaurar a beleza original do patrimônio histórico brasileiro não é a única ação bem-sucedida do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (Cecor), da Escola de Belas-Artes (EBA) da UFMG. Investigar falsificações de obras atribuídas a grandes pintores é outra função executada com excelência pelo Centro. Fruto de pesquisa realizada nos laboratórios do Cecor nasceu a dissertação de mestrado defendida, em junho, junto ao departamento de Química do ICEx, pela aluna Patrícia Schossler.

O trabalho, cujo resultado foi o desenvolvimento de técnica inédita para identificação de substâncias modernas em pinturas "clássicas", ajudou na investigação de telas envolvidas num processo de fraude contra um marchand do Rio de Janeiro.

Interdisciplinaridade

Pesquisa com características interdisciplinares, capaz de unir áreas díspares da UFMG, como os departamentos de Artes Plásticas e de Química, a dissertação investigou a base de preparação utilizada em nove quadros de propriedade do marchand carioca. Tratava-se de possíveis obras de pintores como Portinari, Boccioni, Picasso e Miró, em que Patrícia Schossler identificou a presença de substâncias modernas, que jamais poderiam ter sido utilizadas por tais artistas.

As tintas utilizadas por pintores de todo o mundo compõem-se de pigmento, aglutinante e solvente. No caso específico da dissertação de Patrícia Schossler, a principal preocupação foi caracterizar os componentes dos aglutinantes presentes nos quadros. O Cecor já possuía técnica semelhante de identificação. "Mas não podíamos dizer com certeza que as características identificadas diziam respeito a determinado aglutinante. Agora, a situação é diferente", resume o coorientador da pesquisa e professor da EBA, Luiz Antônio Cruz Souza.

Técnica

Identificar claramente as contradições históricas - tintas sintéticas modernas versus pintores clássicos - só foi possível graças ao uso de um método chamado pirólise acoplada a cromatografia a gás e a espectometria de massas. Através da técnica, é possível quebrar o polímero aglutinante em partículas menores, os monômeros. "Após a divisão, feita por cromatografia gasosa, fazemos a análise da massa molecular dos monômeros através de espectometria", detalha o orientador da dissertação, o professor Fernando Carazza, do departamento de Química. Dissecada a estrutura do aglutinante utilizado no quadro, fica fácil identificá-lo. Uma das substâncias encontradas nas telas do marchand carioca foi o Poliacetato de Vinila, um aglutinante moderno, composto de polímero sintético. Seria impossível que Miró ou Portinari tivessem lançado mão do referido produto.

Mais do que pesquisa inovadora, a dissertação de Patrícia ilustra uma linha de trabalho recentemente priorizada pelo Laboratório de Ciências da Conservação da EBA. "Nossa intenção é utilizar métodos físicos e químicos na análise de aspectos importantes para o patrimônio artístico-histórico brasileiro e para o mercado de arte", afirma Luiz Souza.

Dissertação: Caracterização química de materiais pictóricos artísticos: acrílicos e vinílicos

Aluna: Patrícia Schossler

Defesa: junho de 2001, junto ao departamento de Química, do ICEx

Banca: Fernando Carazza (orientador), Luiz Antônio Cruz Souza (co-orientador), Isabel Cristina Pereira Fortes e Marília Ottoni da Silva Pereira, todos da UFMG