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Nº 1323 - Ano 27 - 08.08.2001

Social Hubble volta suas lentes para a Grande BH

Pesquisa coordenada pela Fafich traçará mapa sociológico da metrópole mineira

ue revelações surgiriam caso as lentes do telescópio espacial Hubble pudessem se voltar para cidades do nosso planeta e registrar características sociológicas? A metáfora do potente Hubble tem sido usada para ilustrar uma pesquisa internacional que pretende levantar aspectos como desigualdades sociais, qualidade de vida, trabalho, cultura cívica, associativismo, religiosidade e criminalidade, em cinco países.

A Região Metropolitana de Belo Horizonte é uma das cinco do mundo a ser estudada, com aplicação prevista de questionários em 1.200 residências. A seleção dos entrevistados é feita por amostragem probabilística e inclui bairros, vilas, favelas e condomínios de alta renda. Além da capital mineira, serão pesquisadas simultaneamente as cidades de Varsóvia, na Polônia; Beijing, na China; Cidade do Cabo, na África do Sul e Detroit, nos Estados Unidos.

Segundo a professora Neuma Aguiar, do departamento de Sociologia e Antropologia da Fafich, que coordena o trabalho em BH, o chamado Social Hubble deriva de estudos sobre a cidade de Detroit, que vêm sendo feitos há 50 anos pelo Institute for Social Research (ISR), da Universidade de Michigan. Os idealizadores do projeto acreditam que os grandes problemas da civilização atual requerem abordagens interdisciplinares em uma escala global. "Um dos maiores ganhos que poderá advir do Social Hubble é a criação de uma ciência social de caráter genuinamente internacional", diz a professora.

Tendências

Para estruturar o estudo comparado, pesquisadores dos cinco países reúnem-se periodicamente em seminários internacionais, que discutem os temas da pesquisa e a elaboração dos questionários, adequando as questões gerais a cada contexto. O primeiro encontro ocorreu na UFMG, no final do ano passado. "Depois de montarmos o módulo básico, repetiremos a mesma pesquisa por vários anos, para obtermos uma análise de tendências", explica a professora, lembrando que na UFMG o trabalho não foi concebido apenas para estudar aspectos da vida da população, mas também para tornar-se instrumento de geração de políticas públicas e sociais e para capacitar alunos de pós-graduação.

Durante a disciplina Metodologia de Pesquisa, oferecida este ano pelo departamento de Sociologia e Antropologia, um grupo de 25 alunos de mestrado e doutorado em Sociologia e em Ciência Política prepararam-se para o trabalho. Além de estudar questões metodológicas, os estudantes vão a campo aplicar os questionários, como já fizeram na última semana de maio, durante as entrevistas do pré-teste. Financiada pela Fundação Ford e pelo CNPq, a pesquisa na Grande BH será realizada em outubro e novembro. A apuração ocorrerá em 2002, durante a realização de curso para a análise do material coletado, que propiciará a elaboração de livros, teses e artigos.

 

Experiência começou em Detroit

A experiência do Institute for Social Research (ISR) - que há cinco décadas monitora e interpreta mudanças sociais em Detroit e em grande parte dos Estados Unidos - poderá ser agora partilhada por outros países. O diretor do ISR, David Featherman, vem ajudando a estruturar centros similares em instituições de pesquisa das cidades que integram o Social Hubble.

Com a colaboração dos departamentos de Estatística, de Matemática, do Cedeplar, e de vários pesquisadores de outras instituições brasileiras e internacionais, o departamento de Sociologia e Antropologia da Fafich implantou o Programa de Metodologia Quantitativa, trabalho pioneiro que oferece disciplinas de extensão e de pós-graduação, para treinamento em métodos quantitativos. O programa recebe alunos de vários cursos da UFMG, de outros estados e até de fora do país.

Mas há diferenças entre o trabalho realizado pelo ISR e a proposta do grupo brasileiro de pesquisadores. "Parece que no Brasil o diálogo universidade-governo é maior", acredita a professora Neuma Aguiar, lembrando que os pesquisadores americanos procuram manter a autonomia acadêmica, enquanto no Brasil profissionais universitários costumam ingressar na vida pública. Como exemplos, ela cita a Prefeitura de Belo Horizonte, que conta com integrantes da universidade, e o governo de Minas Gerais, que mantém a Fundação João Pinheiro, responsável pela formação de especialistas em Administração Pública. Esse vínculo será aproveitado para encaminhamento dos resultados da pesquisa para o desenvolvimento de políticas públicas.