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Nº 1324 - Ano 27 - 15.08.2001

Com a ajuda dos universitários

Estudantes da Moradia criam pré-vestibular para alunos de escolas públicas

Marina Torres

auxiliar de escritório Laura Souza terminou o segundo grau em 1991. Quatro anos depois, fez vestibular para Administração de Empresas, mas não foi aprovada. Desde então, sua vontade de entrar para a universidade persistiu, mas Laura não tinha como pagar um pré-vestibular. Por isso, não planejava outra tentativa este ano, até que uma amiga lhe falou do cursinho criado pela Associação dos Moradores da Moradia Universitária da UFMG (AMMU) para estudantes de baixa renda. Ela conseguiu uma vaga e agora está animada para o vestibular 2002.

Desde o início de março, as aulas do pré-vestibular ocorrem em salas cedidas por duas escolas da rede pública municipal: Dom Orioni e Hélio Pelegrino. Os professores são 35 voluntários e estudantes da UFMG selecionados pela AMMU. É o caso de Egmon Pereira, aluno de Matemática, que ensina álgebra no cursinho. Ele acredita que seu trabalho semeia esperança entre os alunos e imagina que, no próximo ano, poderá colher os frutos do seu trabalho voluntário. "Espero encontrar com alguns deles na universidade", afirma Pereira, que tenta passar uma mensagem positiva aos seus alunos. "Sempre estudei em escola pública e acredito que a aprovação no vestibular depende da dedicação de cada um."

Cerca de 100 alunos estão matriculados no pré-vestibular, entre estudantes da terceira série das duas escolas, ex-alunos e outros interessados que foram selecionados. As atividades do cursinho incluem aulas de 19h às 22h30, sempre de segunda a sexta-feira. Antes delas, os alunos contam com atividades de monitoria para dissipar dúvidas. Aos sábados, há monitoria pela manhã, e aulas no período da tarde.

Uma das coordenadoras do programa, Gislene Martins, explica que a iniciativa tem o objetivo de preparar estudantes que não podem pagar cursinho para o vestibular. Os alunos colaboram com uma taxa de R$ 21, que custeia despesas com fotocópias e vale-transporte dos monitores.

Maria Elisa do Carmo, diretora da Dom Orioni, é uma entusiasta do projeto. Ela comprou para a biblioteca da escola os livros de literatura indicados para Vestibular 2002 da UFMG. "A iniciativa despertou o interesse dos alunos para o cxoncurso", afirma a diretora.

É o caso do aluno Donizete Jesus, que anima-se ao ouvir as histórias dos universitários. "Muitos passaram dificuldades, vieram do interior. Eles relatam suas trajetórias e nos deixam mais otimistas". Maurício Reinaldo terminou o segundo grau no ano passado, na Escola Dom Orioni. Ele prestou vestibular para Matemática, mas não foi aprovado. Este ano, estava disposto a estudar sozinho para tentar novamente os exames, quando soube do pré-vestibular criado pela AMMU. Resolveu fazer o curso por causa da proximidade de sua casa e do preço acessível. Segundo ele, os professores preocupam-se com o aprendizado do aluno. "Aqui a turma não é grande como em outros pré-vestibulares. Por isso, os alunos são acompanhados mais de perto".

A aluna Débora Bitencourt afirma que experiências como a da AMMU são muito importantes para a sociedade, pois muitas pessoas não têm condições de pagar cursinho para complementar as aulas das escolas públicas, que considera insuficientes. Opinião semelhante à de seu colega, Ramon Lopes, que lamenta apenas que "oportunidades como essa sejam tão pouco divulgadas".