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Nº 1324 - Ano 27 - 15.08.2001
Tese analisa criação de porcos em espaço aberto

Professora da Veterinária estuda viabilidade econômica do

Sistema Intensivo de Criação de Suínos ao Ar Livre (Siscal)

uando se pensa em criação de suínos, surge na mente a imagem
de animais imundos confinados em pequenos espaços. Apesar de a maior parte dos criadores de porcos no Brasil recorrer a tal prática, há regiões em que os animais nascem e se desenvolvem em terrenos amplos, limpos e cobertos de vegetação. Bastante comum no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o Sistema Intensivo de Criação de Suínos ao Ar Livre (Siscal) é uma alternativa ao confinamento total. Com o intuito de comparar a viabilidade econômica dos dois métodos, a professora Simone Koprowski Garcia, do departamento de Zootecnia da Escola de Veterinária da UFMG, defendeu tese de doutorado, em julho, junto à Universidade Federal de Viçosa (UFV).

A idéia de avaliar a rentabilidade econômica dos dois métodos de criação de suínos vai ao encontro de uma série de tendências. Produtores interessados, por exemplo, em exportar carne de porco, devem ter a consciência de que consumidores estrangeiros não vêem com bons olhos a prática do confinamento total. Além disso, o Siscal é um método mais sustentável, já que não reúne dejetos. "O Siscal é prática comum na Europa. Há grande preocupação com o bem-estar dos suínos. Os europeus sentem-se constrangidos em consumir carne de animais mantidos em más condições", ressalta Simone Garcia.

Cenários

A pesquisa da professora tenta comprovar a viabilidade econômica do Siscal no Brasil e, mais especificamente, em Minas Gerais. A comparação entre os dois métodos permitiu a identificação da melhor opção para os criadores brasileiros com diferentes perfis produtivos. Simone Garcia comparou granjas, que poderiam ser instaladas no estado, com 200, 700 e 1.500 matrizes, em três níveis de produtividade: baixa, média e alta. No total, foram construídos 18 cenários. "A pesquisa mostra que o Siscal é boa alternativa para criações acima de 700 matrizes e com alta produtividade", afirma a professora.

Para chegar a tal conclusão, Simone Garcia analisou diferentes aspectos da criação de suínos. Ela verificou, por exemplo, que o custo de implantação de uma granja, segundo o método Siscal, é menor em até 22,4%. "A literatura especializada indicava que esse índice poderia chegar a 50%. Na prática, isso não acontece", diz. Através do Siscal, o preço para se implantar uma matriz fica entre R$ 1,6 mil e R$ 1,9 mil. Pelo método do confinamento total, o valor gira entre R$ 2 mil e R$ 2,5 mil.

Quanto ao espaço para criação de suínos, os números são bastante díspares. Para instalar uma matriz através do método Siscal, é preciso uma área de cerca de 900 metros quadrados. No confinamento total, 15 metros quadrados são suficientes para cada animal. "Neste caso, o que dificulta a implementação do Siscal é a necessidade de propriedades de grandes dimensões. Mas o preço das terras em Minas Gerais é baixo e não chega a ser um impedimento", explica a professora. Ela reforça que o sistema trará maior rentabilidade apenas para granjas de alta ou média produtividade e com número superior a 700 matrizes. Seu estudo também concluiu que os plantéis mantidos em áreas livres apresentaram margem de lucro 2,5% superior às criações submetidas ao regime de confinamento total.

Tese: Sistema Intensivo de Criação de Suínos ao Ar Livre: viabilidade técnica e econômica

Autora: Simone Koprowski Garcia

Defesa: 30 de julho, junto ao departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV)

Banca: Aloízio Soares Ferreira (orientador), Marília Fernandes Maciel Gomes, Heleno do Nascimento Santos, Juarez Lopes Donzele e Luiz Fernando Teixeira Albino, todos da UFV

 

Prática é comum em outros países

Ainda incipiente no país, o Siscal já é bastante difundido em outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, há granjas que chegam a ter cerca de três mil suínos em áreas livres. No Brasil, os produtores do Sul mantêm criações que giram em torno de 35 a 60 matrizes. Para que o sistema dê certo, alguns cuidados são decisivos. Além de obedecer à proporção de cerca de 900 metros quadrados de terra por leitão, é preciso que a área esteja coberta de gramíneas. Há necessidade, ainda, de se construir abrigos para proteger os porcos do sol. "Nas criações convencionais, os porcos costumam procurar a lama para regular a temperatura do corpo. No Siscal, os abrigos exercem essa função", explica Simone Garcia. Os terrenos devem ser planos, profundos e com boa capacidade de drenagem.