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Nº 1353 - Ano 28 - 13.06.2002

Engenharia ganha prêmio com aterro sanitário construído em Catas Altas

Ana Siqueira

ão faz muito tempo, Catas Altas, município com menos de cinco mil habitantes, a 120 quilômetros de Belo Horizonte, não tinha a menor idéia do que fazer com o lixo que produzia. Esse cenário só começou a mudar em 2001, quando os departamentos de Engenharia Sanitária e Ambiental (Desa) e de Transportes e Geotecnia (DETG) da Escola de Engenharia iniciaram, em parceria com a Prefeitura local, a implantação de um aterro sanitário. Um ano depois, a comunidade de Catas Altas já sabe muito bem que destino dar a seu lixo. Uma experiência que acabou premiada na I Mostra de experiências/soluções bem-sucedidas, parte do I Seminário Internacional de Engenharia de Saúde Pública, realizado em março, em Recife.

O projeto é financiado pelo Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (Prosab), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, e inclui-se na linha de alternativas de disposição de resíduos sólidos urbanos para pequenas comunidades. "O objetivo do projeto é buscar o melhor encaminhamento para o lixo, utilizando tecnologia simples, com alternativas práticas e de baixo custo para comunidades de pequeno porte", revela a professora Liséte Celina Lange, do departamento de Engenharia Sanitária, e coordenadora do projeto.

Com duração de dois anos (de janeiro de 2001 a dezembro de 2002), o projeto é constituído de duas etapas. A primeira, já concluída, consistiu na implantação do aterro sanitário. Uma fase que envolveu a elaboração do projeto executivo, o isolamento da área para instalação do aterro, a caracterização do lixo, a definição da melhor forma de dispô-lo e o treinamento do pessoal da prefeitura que trabalha com a coleta do lixo e com a operação do aterro. Além disso, uma espécie de cinturão verde foi plantado em torno da área para aumentar o isolamento do local e atenuar o mau cheiro do aterro.

A segunda etapa, em desenvolvimento, tem como objetivo criar as condições necessárias para que o aterro obtenha o licenciamento ambiental junto à Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam) e consolidar a auto-sustentabilidade do projeto. Para conquistar o licenciamento, que garantirá à cidade o recebimento do ICMS ecológico (parcela adicional do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços concedida a municípios que promovem ações de preservação dos recursos naturais), a Feam deve reconhecer o aterro, ou a cidade terá que promover a coleta seletiva e a compostagem do lixo orgânico. "Estamos trabalhando para cumprir as exigências dessas duas formas de obtenção do licenciamento", conta Liséte Lange.

Custos reduzidos

Com a preocupação de baratear os custos do aterro, a equipe do projeto desdobra-se para encontrar materiais alternativos que substituam os tradicionais com eficácia. "Um exemplo disso é a drenagem dos gases através de tubos construídos com garrafas PET, retiradas do próprio lixo, no lugar dos tubos de PVC", afirma Liséte Lange. Outra alternativa barata e criativa foi desenvolvida para minimizar os efeitos de infiltrações no período de chuvas: uma cobertura temporária construída com bambu e lona.

Graças a soluções como estas, o projeto demandou custos modestos. "No primeiro ano a prefeitura desembolsou R$ 45 mil, com despesas de implantação do aterro, como aquisição de equipamentos, construção da casa de apoio, transporte e diárias dos pesquisadores", detalha a coordenadora do projeto. Como tais itens não constarão dos orçamentos dos anos seguintes, o custo cairá significativamente, ficando em torno de R$ 6 por habitante ao ano. Já os R$ 120 mil liberados pelo Prosab foram destinados à instalação da infra-estrutura necessária à Escola de Engenharia para realizar o projeto e as pesquisas a ele atreladas.

A última tarefa da equipe será a elaboração de uma cartilha para disponibilizar a outras comunidades as informações necessárias à implantação de aterros sanitários. "A multiplicação dos conhecimentos produzidos é uma das prioridades do Prosab, que também prevê cursos de capacitação para os municípios interessados", conclui Liséte Lange.

Projeto: Estudo de implantação de aterros para pequenas comunidades
Equipe: professores Liséte Celina Lange (coordenadora), Gustavo Simões (DETG), três bolsistas de iniciação científica, uma engenheira bolsista e uma bolsista de apoio técnico graduada em Comunicação Social
Valor do projeto: R$ 120 mil
Financiamento: Finep, CNPq e Caixa Econômica Federal

 

Passo a passo

_ O lixo é descarregado em trincheiras, que possuem sistema de dreno para liberação dos gases produzidos pelos resíduos e para coleta do chorume, líquido poluidor gerado pela decomposição de resíduos.
_ O lixo é compactado manualmente com um rolo.
_ Uma fina camada de solo é jogada por cima.
_ A compactação é repetida para adensar ainda mais o lixo e aumentar a capacidade da trincheira.
_ Quando a trincheira se completa, uma camada mais espessa de terra é jogada por cima, e uma placa, fincada, informando o período em que a trincheira recebeu resíduos.
_ O solo é revegetado, evitando possíveis erosões.