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Nº 1380 - Ano 29 - 16.01.2003

/ Maria Lúcia Malard

"O campus ainda é uma ilha de sossego"

Flávio de Almeida

reqüentado diariamente por cerca de 40 mil pessoas, o campus Pampulha precisa de regras que regulamentem a ocupação de seus territórios e de diretrizes que ajudem a resolver problemas, como a falta de segurança, a escassez de estacionamentos e a destinação do lixo.

Essas e outras questões serão contempladas, sob a forma de recomendações, no novo plano diretor da UFMG, que deverá ser aprovado este ano pelo Conselho Universitário. "Um plano diretor estabelece diretrizes gerais para a convivência urbana", define a professora Maria Lúcia Malard, da Escola de Arquitetura e coordenadora da comissão que trabalhou em sua elaboração. Nesta entrevista ao BOLETIM, ela diz que, apesar de viver problemas típicos de uma cidade, o "campus ainda é uma ilha de sossego".

O que é um plano diretor?

O Plano diretor é uma norma geral que estabelece o que a Universidade deve fazer em relação ao uso e à ocupação do território. Ele propõe diretrizes para convivência urbana. Em 1968, a UFMG implantou um plano diretor, denominado Plano Cordeiro (em homenagem ao paisagista Valdemar Cordeiro, que trabalhou em sua elaboração), com leis muito gerais de uso e ocupação do território. Esse plano, de natureza mais paisagística, dividiu o campus em áreas verdes, de serviços, esportiva, residencial, de ensino e cultural. Ele estabeleceu avenidas, ruas e praças e criou regras para construção de edificações.

O que propõe o novo plano diretor?

Seu objetivo é definir regras claras de utilização das diversas áreas. A comunidade universitária quer, por exemplo, que as construções não se verticalizem e que mantenham-se convenientemente afastadas das ruas. Na prática, o plano consagra princípios de qualidade de vida existentes no campus, impedindo que sejam inviabilizados por pressões de alguns se tores. É desejo da comunidade ter esse instrumento em mãos, para não ser obrigada a aprovar coisas de varejo no Conselho Universitário. Estava mesmo na hora de preparar um novo plano diretor, que vai, inclusive, regular as construções do Campus 2000.

O campus já convive com problemas, como a destinação do lixo que produz, o abastecimento de água e a segurança. O plano diretor contempla questões como essas?

O plano faz recomendações. Quanto ao lixo, a recomendação é de que seja mantida a parceria com a SLU para a coleta dos resíduos sólidos. Ele também sugere estudos técnicos e projetos específicos para resolver o problema dos resíduos que podem gerar algum tipo de contaminação. Em relação à água, ele aponta que a Universidade deve aproveitar suas reservas de poços artesianos e manter sua parceria com a Copasa. O professor Chernicharo (Carlos Augusto de Lemos Chernicharo, da Escola de Engenharia), especialista na questão, avalia que uma autonomia completa em relação ao abastecimento de água certamente geraria uma infra-estrutura pesada e que poderia se tornar semiociosa. O campus é uma cidade, mas não interessa à Universidade que o reitor seja um prefeito. Imagine um reitor preocupado em escolher o presidente da "Copasa da UFMG " ou da "Cemig da UFMG"? O novo plano também propõe ações para evitar enchentes. Ele sugere a construção de bacia de contenção na região da Estação Ecológica, vizinha ao anel rodoviário. A Prefeitura quer ser parceira do projeto, porque ele pode resolver o problema em outras áreas.

O plano entra em vigor ainda em 2003?

Sem dúvida. Na reunião do Conselho Universitário, realizada em novembro, a reitora Ana Lúcia Gazzola fixou um prazo até fevereiro para que a comunidade fizesse suas contribuições. A Reitora tem interesse em aprovar logo o documento, para evitar as demandas de varejo, como a construção de laboratórios isolados. Com o plano, ela teria regras bem claras para regulamentar construções.

Quais os principais problemas urbanísticos do campus?

Um dos mais críticos é a questão dos estacionamentos. O plano diretor sugere que a universidade passe a cobrar taxa de estacionamento, prática comum entre todas as universidades norte-americanas e européias que possuem campi urbanos.

E a segurança?

É outro ponto problemático. Temos que cuidar mais da segurança dos edifícios, que são completamente abertos. Os novos projetos de edificações do Campus 2000 não prevêem tantas entradas e saídas quanto os do passado. Terá, no máximo, uma ou duas portarias. Mas, apesar dos problemas de estacionamento e de segurança, o campus ainda é uma ilha de sossego.

Um plano diretor tem "prazo de validade"?

Quando a comunidade percebe que está abrindo muitas exceções em relação ao que foi acordado coletivamente ou quando começam a aparecer demandas e conflitos não contemplados pelas regras em vigor, é porque talvez seja a hora de pensar algo novo. Suponhamos que daqui a 20 anos a UFMG tenha esgotado suas construções nas áreas edificantes definidas por este plano diretor. Talvez ela terá que estudar algumas opções: ceder parte das áreas verdes para as edificantes, liberar a verticalização ou simplesmente construir um novo campus. De qualquer forma, é a sensibilidade dos dirigentes que vai definir o momento de rever o plano.