Busca no site da UFMG




Nº 1440 - Ano 30 - 27.5.2004

Os caminhos do estresse

Pesquisa investiga núcleos do organismo envolvidos na resposta cardiovascular à tensão emocional

Maurício Guilherme Silva Jr.


m certa medida, as respostas do organismo a situações de estresse emocional são importantes, pois permitem que o indivíduo reaja rapidamente a ameaças impostas pelo ambiente. Há momentos, no entanto, em que as pressões do dia-a-dia podem provocar reações extremas do corpo, desenvolvendo alterações psíquicas, problemas no aparelho gastrointestinal ou ainda graves desajustes do sistema cardiovascular. Hipertensão, arritmia cardíaca, angina, infarto do miocárdio e até mesmo morte súbita são alguns dos exemplos de complicações ocasionadas pelo tipo de estresse, por assim dizer, "maléfico".

Pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Hipertensão do ICB, coordenadas pelo professor Marco Antônio Peliky Fontes, identificaram alguns dos núcleos do sistema nervoso central envolvidos na organização da resposta cardiovascular ao estresse. "Para entendermos onde nascem as complicações cardiovasculares, precisamos compreender primeiro como o sistema nervoso central organiza as reações ao estresse", explica Marco Fontes. No futuro, isso permitirá a identificação e correção das causas que provocam reações exacerbadas do organismo a determinada fonte de tensão.

A equipe do professor Fontes, formada por dois alunos de mestrado e um de iniciação científica, descobriu a participação de duas outras áreas do sistema nervoso nas respostas ao estresse. A literatura especializada já indicava o "núcleo dorsomedial do hipotálamo" (DMH) como região crítica na elaboração das respostas orgânicas aos efeitos da tensão. "Quando, por meio de drogas, inibimos esse núcleo em ratos expos-tos a situações de estresse, a resposta do sistema cardiovascular é bem menor", explica o professor Fontes.

As duas outras áreas envolvidas na resposta ao estresse descobertas pelos pesquisadores do ICB são a "substância cinzenta periaquedutal" (PAG) _ um "relé" sináptico que se conecta diretamente ao hipotálamo dorsomedial; e o "bulbo rostroventrolateral" (BRVL), região localizada nos dois lados da superfície ventral do tronco cerebral. "Quando inibimos esses núcleos propositadamente, a resposta cardiovascular gerada pela ativação do DMH também é reduzida", afirma o professor. No caso da PAG, há evidências de que até mesmo as reações comportamentais, como a ansiedade gerada pela ativação do DMH, são reduzidas.

O processo

O mapeamento da via responsável pela resposta ao estresse indicou que o processo (leia esquema abaixo) começa no núcleo dorsomedial do hipotálamo. De lá, por projeções neuronais, a "informação" é transmitida à substância cinzenta periaquedutal e, então, segue para o bulbo rostroventrolateral. Do BRVL, os "dados" chegam aos neurônios pré-ganglionares da medula _ a chamada cadeia simpática _ e aos vasos. O aumento da pressão arterial é conseqüência direta de tal trajetória dos impulsos gerados pelo sistema nervoso central.

Outro "caminho" analisado pelos pesquisadores diz respeito às vias que levam às alterações de freqüência cardíaca, uma das mais marcantes reações orgânicas nas situações de estresse emocional. As investigações indicam que tal resposta, ao ser gerada pelo hipotálamo dorsomedial, segue para a PAG. A trajetória se completa numa região do sistema nervoso central denominada "núcleo da Rafe", responsável pelo controle dos batimentos do coração.

As descobertas da equipe de Marco Antônio Peliky Fontes serão apresentadas, em julho, no encontro da Federação das Sociedades de Biologia Experimental dos Estados Unidos (Faseb), que acontece no Colorado.

Projeto: O hipotálamo dorsomedial e as vias envolvidas na resposta cardiovascular ao estresse
Coordenador: professor Marco Antônio Peliky Fontes
Alunos: Luiz Gonzaga da Silva Júnior, Daniel Vilela e Rodrigo Menezes
Financiamento: Fapemig e CNPq

Foto (de Eber Faioli): Professor Marco Fontes (à direita) e os alunos Luiz Gonzaga (centro) e Daniel Vilela, do Laboratório de Hipertensão do ICB