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Nº 1453 - Ano 30 - 9.9.2004

 

Monumento homenageia
estudantes mortos pela ditadura

Flávio de Almeida



Borato e Nilmário descerram a placa com os nomes dos quatro estudantes: tributo a uma geração que lutou pelas liberdades democráticas
Foto: Foca Lisboa

ma homenagem aos quatro alunos da UFMG mortos pela ditadura militar marcou a abertura, na quinta-feira passada, dia 9, da exposição Liberdade, essa palavra, que comemora os 77 anos da Universidade e celebra a resistência do movimento estudantil a um dos períodos mais autoritários da história brasileira.

A memória dos estudantes Gildo Macedo Lacerda, Idalísio Soares Aranha Filho, José Carlos Novaes da Mata Machado e Walkíria Afonso Costa ganhou um monumento no gramado da Biblioteca Universitária, materializado por quatro troncos cortados, que simbolizam as vidas ceifadas pelo autoritarismo. Na abertura da cerimônia, o reitor em exercício, Marcos Borato, lembrou que o tributo aos quatro estudantes "condensava" a homenagem feita pela Universidade ao movimento estudantil, que sempre se envolveu em grandes causas, como a resistência à ditadura militar.

Participaram da cerimônia o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Nilmário Miranda _ que descerrou junto com Borato a placa do monumento que homenageou os estudantes _, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, o deputado federal Sérgio Miranda, além de três ex-reitores da Universidade: Aluísio Pimenta, Tomaz Aroldo da Mota Santos e Celso Vasconcelos Pinheiro.

Ativo militante do movimento estudantil da época, o prefeito Fernando Pimentel disse que a luta dos quatro estudantes e de tantos outros que perderam suas vidas ou foram torturados, cassados e exilados não foi em vão. "Olhando para trás e observando tudo o que passamos, tenho a certeza de que o sacrifício valeu a pena". Já Nilmário Miranda destacou a tradição de luta da Universidade pelas liberdades democráticas. "Esta universidade nunca se curvou. Ela sempre soube resistir ao autoritarismo", disse o ministro, que também enalteceu o caráter acolhedor da UFMG. "Logo que saí da prisão, em 1975, fui reintegrado à Universidade. Isso ocorreu quatro anos antes da anistia", relatou Nilmário.

Convivência

A cerimônia foi encerrada com um testemunho do chefe de gabinete, Mauro Braga, também de intensa atuação no movimento estudantil. Braga relembrou sua convivência com os quatro homenageados. "Com José Carlos participei do Congresso de Ibiúna, de Gildo fui companheiro de prisão", relatou o professor, que foi mais próximo de Walkíria e Idalísio. "Deles, não fui apenas companheiro de militância. Foram também meus amigos". De Walkíria, Mauro Braga não esquece o "riso barulhento e franco" e de Idalísio guarda as noitadas embaladas pelo seu violão e a lembrança de ter compartilhado com ele a notícia de um acontecimento que marcaria para sempre aquela geração: a edição do AI-5, em 1968.

Um encontro mágico

Durante a cerimônia de abertura da exposição Liberdade, essa palavra, o vice-reitor Marcos Borato lembrou que ela "ainda está em construção". "Estamos recebendo doações de acervos e documentos". Ele revelou, ainda, que a Universidade pretende organizar uma mostra permanente na Biblioteca Universitária.

O vice-reitor também fez questão de destacar o trabalho de um grupo de estudantes, que, sob a coordenação da professora Heloísa Starling, produziu a mostra. "São jovens de 19 a 25 anos que não viveram aqueles tempos, mas conseguiram promover um encontro mágico com o movimento estudantil da época".

Liberdade, essa palavra, em cartaz até o dia 13 de outubro no saguão da Reitoria, reúne cerca de 90 imagens, entre fotos, cartazes, charges e panfletos, que retratam momentos marcantes do movimento estudantil no período de 64 a 84. Outro destaque está na montagem de uma "trilha sonora", com mais de cem músicas entoadas pelos estudantes da época. A mostra foi preparada pelo Projeto República, que organizou o seu acervo, e pelo Centro de Comunicação (Cedecom), responsável pela produção do catálogo. A mostra também contou com o apoio da Coordenadoria de Ação Comunitária (CAC). A curadoria é do professor Fabrício Fernandino.

A mostra está dividida em dois ambientes. Um, mais "soturno", abriga imagens e documentos referentes aos conflitos entre estudantes e representantes do regime militar. O outro revela ao público as manifestações culturais e artísticas que alimentavam o sonho de liberdade.