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Nº 1454 - Ano 30 - 16.9.2004

A melhor amiga dos cientistas

Ana Rita Araújo

idéia de que pesquisadores da área de Ciências Sociais são excluídos do mundo da informática está caduca. Há muito as ferramentas de tecnologia da informação* chegaram aos gabinetes onde a máquina de datilografia reinava absoluta. Sem abrir mão de seus gravadores e das publicações impressas, cientistas sociais já utilizam, por exemplo, programas que os auxiliam na análise qualitativa do conteúdo de entrevistas.

Em dissertação defendida em junho junto à Escola de Ciência da Informação, a pesquisadora Aleixina Maria Lopes Andalécio detectou a crescente aproximação dos pesquisadores da área com o mundo da informática. Além das ferramentas óbvias e quase obrigatórias, como editor de texto e correio eletrônico, crescem as opções de utilização específica, tais como a realização da técnica de grupo focal mediada pelo computador e entrevistas por correio eletrônico ou teleconferência.

"A cada dia surge uma ferramenta, que responde melhor às necessidades da área. As mais específicas foram criadas pelos próprios pesquisadores, mas o mercado também está atento a isso", afirma Aleixina. Funcionário do Centro de Computação da UFMG desde 1975, Xina, como é conhecida na comunidade universitária, trabalha com banco de dados, rede e suporte a usuários. "No contato com usuários, percebi que muitos não costumam usar determinadas características das ferramentas por puro desconhecimento. Resolvi, então, investigar qual a inserção delas na pesquisa em Ciências Sociais", explica.

Evolução

Nas entrevistas que realizou com pesquisadores do doutorado em Ciências Humanas: Sociologia e Política , da Fafich, Xina encontrou vários exemplos da crescente importância dessas ferramentas para as Ciências Sociais. Um dos professores relatou que, há alguns anos, demorou oito meses na análise dos dados para sua dissertação de mestrado. Recentemente, no doutorado, trabalho semelhante foi feito em uma semana. "Ele gastou tanto tempo na primeira análise por desconhecer ferramentas que poderiam auxiliá-lo", explica Xina.

Ela destaca a importância de iniciativas como o Laboratório de Metodologia em Ciências Sociais, na Fafich, em que os alunos têm acesso às tecnologias, e propõe que a Universidade ensine também a usar as ferramentas de tecnologia para obter informações atualizadas, "porque este é um item obrigatório para a formação de um pesquisador".

Outra característica das pesquisas desenvolvidas com base nas ferramentas de tecnologia da informação está nas referências bibliográficas. "Minha dissertação possui 125 itens bibliográficos, metade dos quais obtidos em fontes eletrônicas _ páginas de instituições sérias, revistas virtuais, CDs e banco de artigos. Isso é uma novidade: nos últimos dez anos é que essas fontes passaram a ter importância acadêmica", exemplifica Xina.

Confiabilidade

Mas Aleixina Lopes alerta para a confiabilidade dos dados encontrados na rede mundial de computadores. "É preciso saber o que e onde procurar, para evitar a seleção de dados não-confiáveis", diz. Como experiência, ela procurou três termos em um mecanismo de busca da Internet e os encontrou em 680 mil endereços. "Como selecionar, entre tantos documentos, os confiáveis e relevantes?", questiona. Além do papel do orientador, Xina destaca a importância do treino e do uso de fontes reconhecidamente confiáveis, como o portal de periódicos da Capes.

Em sua dissertação, Xina procurou utilizar todas as ferramentas possíveis, de modo que cada passo na elaboração do seu trabalho fosse também uma forma de testar aquilo sobre o qual estava escrevendo _ da escolha do tema ao software de apresentação da pesquisa. A intermediação da informática incluiu o contato inicial com os entrevistados, realização de três entrevistas por e-mail, transcrições com programa de reconhecimento de voz, análise qualitativa de dados auxiliada por programa específico, planilha eletrônica para as tabelas e editor de texto.

Outra novidade do trabalho é o arranjo hipertextual, que apresenta as citações dos entrevistados. "Me inspirei na diagramação do BOLETIM da UFMG e criei quadros com as citações dentro do corpo da dissertação", conta a pesquisadora. Embora o arranjo fuja ao padrão de trabalhos acadêmicos, a solução encontrada recebeu elogios da banca examinadora.

Já a versão digital da dissertação _ um CD que vai para a biblioteca digital de teses e dissertações da Escola de Ciência da Informação _ também traz inovações. "O CD não é apenas uma cópia da versão em papel", assegura a pesquisadora. Em vez do caminho mais fácil, que seria a conversão do texto em imagem, ela anexou à versão todo o material obtido em fontes eletrônicas citado nas referências bibliográficas, acessadas através de links no corpo do texto.

Dissertação: O uso de ferramentas de tecnologia da informação e comunicação no desenvolvimento da pesquisa em Ciências Sociais: possibilidades e competências

Autora: Aleixina Maria Lopes Andalécio

Orientadora: Regina Maria Marteleto

Defesa: em junho, junto à Pós-Graduação da Escola de Ciência da Informação

* Conjunto de técnicas utilizadas na recuperação, armazenamento, organização, tratamento, produção e disseminação da informação, o que inclui equipamentos, programas e serviços

Foto: Eber Faioli
Legenda: Aleixina Lopes: preocupação com a confiabilidade das informações