A sétima arte de Minas

Escola de Belas-Artes reúne obras do cinema mineiro em catálogo e DVDs

Maurício Guilherme Silva Jr.

m 1909, o cineasta mineiro Aristides Junqueira pede exoneração do cargo público que ocupa para dedicar-se inteiramente à arte. Naquele ano, como forma de experimentar os equipamentos existentes à época, passa a filmar cenas cotidianas de sua própria família. Parte das imagens captadas é reunida pelo artista em Reminiscências , considerado o mais antigo registro preservado em película do Brasil.

Preocupados em resgatar _ e preservar _ preciosidades do cinema produzido nas Minas Gerais, como o filme de Aristides Junqueira, pesquisadores da Escola de Belas-Artes da UFMG, aliados a profissionais do Centro de Referência Audiovisual (Crav) de Belo Horizonte, desenvolveram o projeto Filmoteca Mineira. As ações do grupo, coordenado pelo professor Luiz Nazario, do departamento de Fotografia e Cinema da EBA, culminaram com a criação de um catálogo e 10 DVDs que analisam e trazem a público cerca de 50 filmes mineiros de décadas diversas.

"Este é o primeiro passo para a preservação de parte importante do cinema mineiro. Hoje, não existem em Belo Horizonte oficinas de conservação de filmes", afirma o professor Luiz Nazario. Para chegar aos DVDs e ao catálogo que descreve características e fichas técnicas das obras cinematográficas, os pesquisadores investigaram e identificaram cerca de 1.600 filmes em película, matrizes em Betacam e vídeos, pertencentes a acervos da Escola de Belas-Artes e do Crav. "Todo o movimento cineclubista dos anos 60 foi resgatado", exemplifica Nazário.

Para revelar um pouco da força, riqueza e intensidade da produção cinematográfica mineira, os pesquisadores transformaram raridades em DVDs e as analisaram em catálogo especial. Apesar dos festivais realizados em pontos diversos de Minas Gerais, é latente a precariedade de filmotecas, espaços propícios à conservação da memória audiovisual de qualquer estado. Ao catalogar os acervos do Crav e da EBA, estudar condições ambientais para conservação e investir na produção dos DVDs, o projeto Filmoteca Mineira busca, em resumo, chamar os poderes públicos "à consciência", para que "coloquem entre suas prioridades a necessidade de preservar as imagens produzidas", enfatiza Nazario.

A transição dos filmes para DVD foi realizada de diversas formas. Obras em película, por exemplo, foram projetadas em telas de cinema. Os pesquisadores gravavam tais imagens em câmera digital de alta definição para, em seguida, copiá-las para o computador. No caso do material gravado em fitas, o conteúdo foi transferido diretamente do reprodutor para o disco rígido dos equipamentos.

Pioneiros e cineclubistas

Além da película de Aristides Junqueira, estão nos DVDs filmes de outros cineastas pioneiros, como Paulo Benedetti, Igino Bonfioli, Almeida Fleming, Pedro Comello, Humberto Mauro e Schubert Magalhães. Também foram incluídos trabalhos de atores e diretores inspirados pela geração cineclubista, como Carlos Alberto Prates, Guaracy Rodrigues, Neville d´Almeida, Helvécio Ratton, João Sette de Barros, Oswaldo Caldeira, Geraldo Veloso, Geraldo Santos Pereira, Rafael Conde, Patrícia Moran e Thiago Matta Machado.

Com curadoria dos alunos da EBA envolvidos no projeto, os DVDs foram divididos em temas, que abordam períodos e acervos importantes no panorama cinematográfico do estado. Obras do Cineclubismo mineiro aparecem no DVD número 1. Os outros tratam de temas e obras, como Núcleo regional de cinema; A flor do caos - Trilogia do caos, parte 1; Cinema e propaganda; Memória e cinema e Canção da primavera.

O projeto não prevê a comercialização dos DVDs, que ficarão à disposição do público interessado na biblioteca da Escola de Belas-Artes e no Crav. O catálago Filmoteca Mineira conta com apresentação do professor Luiz Nazario e ensaios dos curadores Alessandro Costa, Alexandre Pimenta, Alexandre Martins Soares, André Reis, Marcelo La Carretta, Sérgio Vilaça e Soraia Nunes Nogueira.

Livro: Catálogo Filmoteca Mineira

Organizador: Luiz Nazario

DVDs: Cineclubismo mineiro; Nota 10 Belas-Artes; Núcleo regional de cinema; A flor do caos - Trilogia do caos, parte 1; Cinema e propaganda; Memória e cinema; Reminiscências & BHIS: 10 minutos de história, dez minutos de modernidade; Canção da primavera.

Curadores: Alessandro Costa, Alexandre Pimenta, Alexandre Martins Soares, André Reis, Marcelo La Carretta, Sérgio Vilaça e Soraia Nunes Nogueira