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Nº 1455 - Ano 30 - 23.9.2004


/ Manuel Marcos Guimarães

O pai da criança


Manuel Guimarães: fundador e primeiro editor do BOLETIM
Foto: Foca Lisboa

Criador e primeiro redator do BOLETIM da UFMG, o jornalista Manoel Marcos Guimarães afirma, na entrevista abaixo, que a publicação ajudou a transformar o cotidiano da Universidade, dando a ela maior transparência. Servidor da Universidade até dezembro de 1996, quando aderiu ao Programa de Demissão Voluntária, Guimarães é consultor em comunicação e apresentador dos programas Contraponto, da Rede Minas, e Mídia no Espelho, da TV Assembléia.

Primeiro como editor e depois como leitor, quais momentos você apontaria como os mais marcantes da história do BOLETIM?

É difícil selecionar momentos, pois entendo que a trajetória de publicações periódicas deve ser analisada sempre pela consistência e constância. De qualquer forma, vale destacar como fundamentais: a decisão de editá-lo, em 1974, quando, além do reitor Eduardo Cisalpino, teve papel essencial o chefe de gabinete, professor Fábio do Nascimento Moura; a primeira reforma editorial e gráfica, quando ele abandonou o estilo semi-telegráfico e assumiu o formato de quase-jornal que ainda tem; e a resolução do Conselho Universitário que o tornou veículo oficial para publicação das decisões do órgão.

Como é olhar para o seu primogênito, agora adulto? Ele continua cumprindo os propósitos que você imaginou ao criá-lo?

É muito bom ver um projeto iniciado por você ganhar vida tão longa e de forma consolidada. Isso significa que a idéia foi boa e, embora não inédita, implantada numa época em que publicações desse gênero ainda não eram uma rotina em organizações. Até onde consigo acompanhar, minha impressão é a de que o BOLETIM continua, sim, cumprindo alguns dos seus propósitos originais, especialmente os de ser o principal veículo de divulgação de informações oficiais da universidade e servir de pauta para a mídia em geral.

Ao longo da história, houve quem defendesse a idéia de que o BOLETIM deixasse de ser um veículo oficial e se transformasse em um "jornal de debates" da comunidade universitária. Sempre resisti à idéia e jamais concordei com os críticos que viam nele uma espécie de "Pravda", aos moldes da imprensa soviética. O BOLETIM nunca se prestou à disseminação de "versões" oficiais, mas se ocupou de divulgar "informações" oficiais, fruto de decisões administrativas ou colegiadas. Ao mesmo tempo, jamais esteve fechado às manifestações dos diversos segmentos universitários ou ao debate de idéias de que são prova as muitas edições temáticas. Além disso, qual publicação oficial que não tivesse tal espírito acolheria, por exemplo, um chargista com total independência de criação? (Ele se refere ao chargista e professor Luiz Oswaldo Rodrigues, o LOR). Acho que o caminho percorrido foi o mais correto, pois possibilitou a circulação de informações, essencial ao debate de idéias.

O BOLETIM surgiu num momento difícil da vida política nacional. Você imaginava que a publicação circularia por três décadas consecutivas?

Quando começamos, naturalmente, não trabalhávamos com o horizonte de 30 anos, mesmo porque o desafio era sempre a edição da próxima semana. As primeiras edições tinham apenas um responsável, obrigado a desempenhar simultaneamente as funções de repórter, redator, editor, datilógrafo e "endereçador". O tempo encarregou-se de consolidar o projeto e hoje, olhando de fora, vejo que o BOLETIM foi o produto-referência que permitiu a implantação e o desenvolvimento da competente estrutura de comunicação social de que a UFMG dispõe.

Com cara de jornal

A linguagem telegráfica, o formato meio-ofício e o texto datilografado dos primeiros anos foram, aos poucos, dando lugar a uma publicação com matérias mais aprofundadas, fotos, ilustrações e cores.

Em 30 anos, o BOLETIM, além de acompanhar a evolução da UFMG, também evoluiu gráfica e editorialmente. A primeira modificação visual veio em 1987, por ocasião das comemorações dos 60 anos da Universidade. A edição 701 circulou com novo formato, em tamanho maior e com composição tipográfica, fotos e ilustrações.

Nessa nova fase, o BOLETIM passou a publicar charges de Luiz Oswaldo Rodrigues, o LOR, cartunista reconhecido nacionalmente e professor da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Suas charges foram publicadas por mais de 10 anos. Também em 1987, o BOLETIM inaugurou a seção Palavra da Comunidade _ hoje Opinião _ espaço de debate de questões ligadas à Universidade.

A partir da edição 1.200, de 2 de setembro de 1998, o BOLETIM ganhou uma versão na Internet, o que alargou significativamente o seu potencial de leitores. A última reforma gráfica estreou na edição de 17 de março de 1999, quando a publicação passou a circular com a cor azul e com o nome BOLETIM no alto da primeira página (que havia sido retirado em 1992). Fontes e vinhetas mais simplificadas marcam o projeto gráfico que perdura até hoje.

O número que
só o editor leu

Quem conferir a mostra sobre os 30 anos do BOLETIM verá que há duas edições com a mesma data: 21 de janeiro de 1977. Observando mais de perto, ficará com a impressão de que se trata do mesmo número. Ledo engano: um circulou, o outro foi lido apenas pelo editor.

Tudo por causa de uma nota que informava que o resultado do Vestibular daquele ano havia saído em tempo recorde. Enquanto a edição com a boa-nova era impressa, a UFMG constatou que o gabaritos das provas de Inglês e Francês haviam sido trocados, o que resultou na alteração de 440 nomes de candidatos aprovados, conforme esclareceu a edição que efetivamente circulou. Resultado: o número que continha o "furo" foi recolhido às pressas, sobrando apenas um exemplar que ficou sob a guarda do jornalista Manoel Marcos Guimarães, editor do BOLETIM à época.