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Nº 1469 - Ano 31 - 20.1.2005


A descoberta da China

Criação de curso de mandarim na UFMG abre perspectiva de intercâmbios para mineiros

Ana Maria Vieira


eijing ou Pequim; Mao Zedong ou Mao Tse-Tung? A pergunta, feita há algum tempo a internautas por um portal da Internet, soou provocativa e sem relevância. A surpresa viria adiante com o volume e a qualidade de respostas recebi-das. Uma delas ensinava, apropriadamente, que já "existe em português uma palavra, Pequim, designando o nome da cidade que em pinyin se escreve Beijing". Escolher o quê?

A polêmica revela alterações ocorridas na grafia de nomes próprios e toponímios chineses, após adoção do sistema pinyin durante o período maoísta. A reforma da língua estabeleceu a grafia oficial de pala-vras chinesas para o exterior, em alfabeto latino, e reduziu o número de caracteres estudados. Desde então, estudiosos da língua precisam conhecer "apenas" cinco mil ideogramas.

É dessa experiência que, a partir de março, começam a partilhar alunos matriculados na primeira turma do curso de extensão em mandarim oferecido pela UFMG. "O primeiro ano tem caráter preparatório para introduzir o estudante ao universo da cultura e da língua chinesa", explica a professora Eliana Amarante, diretora da Faculdade de Letras (Fale).

O curso será ministrado pelo professor do departamento de Química da UFMG, Liu Wen Yu, que deverá, ainda, orientar e supervisionar alunos da Fale como multiplicadores. "Nosso objetivo", explica a diretora, "é criar novos campos de interesse em outras línguas, além das ocidentais".

O compromisso em atender demandas do mundo contemporâneo permitiu expandir, nos últimos dois anos, a oferta no ensino das línguas japonesa, árabe e tcheca. Porém, de acordo com Eliana Amarante, a criação do curso de chinês foi dificultada pela ausência de profissionais qualificados em Belo Horizonte _ diferentemente dos cursos livres, a UFMG exige, além do conhecimento da língua, formação universitária.

Centro de estudos

Superado o obstáculo, com o apoio da Diretoria de Relações Internacionais da Universidade, Amarante avalia que a abertura do curso de mandarim, além de sinalizar o reconhecimento do papel da China no cenário internacional, pode ser o embrião para a criação de um centro de estudos chineses, proposto pela reitora Ana Lúcia Gazzola.

O interesse também foi manifestado pelo governador Aécio Neves, durante visita a Minas do dirigente da província chinesa de Jiangsu, Liang Baohua, em outubro passado. Após assinar memorando destinado a ampliar a cooperação e o intercâmbio nas áreas de agricultura, ciência e tecnologia, infra-estrutura e cultura, o governador mineiro manifestou sua expectativa em receber auxílio chinês para instalar um centro de estudos no estado.

O esforço empreendido pela UFMG na criação do curso de mandarim não se esgota nas salas de aula. Como observa a reitora Ana Lúcia Gazzola, a universidade cumpre importante papel ao oferecer oportunidades de aprendizado de conhecimentos fundamentais nas relações internacionais contemporâneas. "Uma das prioridades dos governos brasileiro e mineiro é estreitar laços econômicos com a China", diz a reitora, lembrando que o mandarim pode ser uma importante vantagem competitiva para os executivos e empresários brasileiros.

"Estamos atentos ao que se passa no mundo contemporâneo, pois somos parte dele", reflete o professor Ricardo Fenati, assessor especial da Reitora, ao avaliar a inserção da universidade no contexto de novas experiências e aproximações entre os países. "A criação do curso de mandarim é uma iniciativa que certamente vai disparar contatos que favoreçam o intercâmbio com a China", acredita.

A articulação dessas parcerias, explica Sandra Goulart, diretora de Relações Internacionais da UFMG, ocorre num momento em que a instituição também decidiu investir no eixo Sul-Sul. De acordo com diagnóstico realizado pela área, a Universidade ocupa lugar privilegiado no cenário internacional, mas suas relações estão concentradas na Europa e nos Estados Unidos. "Decidimos agregar outros eixos, ampliando parcerias com o Mercosul, com os países da África Portuguesa e com o eixo Sul-Sul, através da Índia, China e África do Sul", informa Sandra Goulart. Ela acrescenta que a universidade já apresentou plano-piloto, solicitado pelo governo federal, para realizar com a Índia pesquisas conjuntas e intercâmbio de estudantes e professores nas áreas de Engenharia, Farmácia e Belas-Artes. Já com a África do Sul, a UFMG realizou sua primeira parceria na área de Sociologia.

Sobre as relações com a China, Sandra Goulart observa que os contatos estão sendo costurados e a articulação da UFMG caminha junto com as políticas nacionais e estaduais de aproximação com o país. "Antes da definição de uma nova política de internacionalização, os contatos com a China eram pontuais", avalia Goulart. "Hoje, temos metas e o curso de mandarim poderá instrumentalizar estudantes e professores para futuros intercâmbios", assegura a diretora.

O curso não se destina apenas à comunidade interna. "A UFMG está iniciando uma estratégia de aproximação com a China que envolve tanto sua comunidade como o estado de Minas Gerais", diz Sandra Goulart, segundo quem a área empresarial e o governo mineiro já manifestaram interesse em ter gestores como alunos do curso.

Negócios da China

Também os chineses já pensam em enviar seus alunos e professores para pós-graduação, especialmente na modalidade doutorado-sanduíche nas áreas de engenharias e ciências exatas. O intercâmbio foi proposto por comitiva de dirigentes da Universidade de Zhejiang, uma das mais importantes do país, em visita à UFMG, em junho passado.

Analistas de relações internacionais avaliam que a presença da China no Brasil tende a aumentar, pois é um país "demandante". Com projeções de um contínuo crescimento econômico, a China abre, com persistência, novos espaços no cenário internacional para sustentar o desenvolvimento de seu mercado interno.

Um sinal dessa tendência é a ampliação do comércio bilateral com o Brasil. Há 30 anos, quando os dois países retomaram relações diplomáticas, suas alfândegas contabilizaram um comércio de U$ 17,42 milhões. Na atualidade, esse valor chega a cerca de U$ 9 bilhões.

Curso : Mandarim (chinês)

Inscrições : até 27 de janeiro, pela Internet (www.fundep.ufmg.br) , ou nos postos da Fundep localizados na Praça de Serviços, campus Pampulha, ou no Conservatório UFMG

Carga horária : 60horas/aulas semestrais

Coordenação e certificação : Centro de Extensão da Faculdade de Letras da UFMG