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Nº 1485 - Ano 31 - 26.5.2005

Choro à mineira

Dissertação investiga origem e lista principais compositores do gênero musical em Belo Horizonte

Maurício Guilherme Silva Jr.

o século 19, gêneros músicais estrangeiros como a polka, mazurca, s chottisch, valsa e minueto eram reinterpretados de forma original por instrumentistas brasileiros. Apoiados na modinha e no lundu, os artistas nascidos na terra descoberta por Cabral davam nova cadência a melodias criadas em outros continentes. De tal mistura "globalizada" _ para lançar mão de termo em voga no século 21 _ nascia o hoje reverenciado "choro", que, ao longo dos anos, conquistou público fiel nas principais cidades do país.

Apesar de nascido no Rio de Janeiro, o chorinho ganhou adeptos e músicos nos quatro cantos do Brasil. Em Belo Horizonte, por exemplo, além de casas e clubes especializados, há compositores e obras importantes, mas, muitas vezes, desconhecidos. Desvendar o universo do choro belo-horizontino, a partir de sua história, seus principais nomes e peças musicais, foi o trabalho a que se dedicou o professor Marcos Flávio de Aguiar Freitas, da Escola de Música. A pesquisa culminou com a dissertação de mestrado defendida em março junto ao curso de pós-graduação da Escola.

Trombonista do grupo de choro Flor de Abacate, liderado pelo compositor Sílvio Carlos, o professor Marcos Freitas sempre foi ligado ao gênero musical. E percebia certa lacuna na compreensão da trajetória do chorinho em Belo Horizonte. "Eu me perguntava quem teriam sido as primeiras pessoas a trazer o choro para a capital mineira. E se não haveria obras e compositores pouco conhecidos do público", diz o músico. As respostas surgiram com a mesma naturalidade das notas de peças de choro.


Marcos Freitas: biografia do choro
Foto: Divulgação

Pixinguinha

Até 1930, quando as rádios começaram a surgir em Belo Horizonte, não há registros de chorinho por essas bandas. "As partituras eram a única forma de o gênero chegar à capital mineira", conta Marcos Freitas. O primeiro contato efetivo da cidade com o ritmo acontece em 1920, quando o grupo Oito Batutas, liderado por Pixinguinha, passou três meses em BH, onde apresentou-se nos cines Comércio e América e no Teatro Municipal. Com o advento das emissoras radiofônicas, surgem os chamados "regionais", grupos de choro não-profissionais que tocavam ao vivo.

À época, cantores e compositores, como Emilinha Borba, Carmem Miranda, Altamiro Carrilho e Blecaute, passaram a se apresentar em Belo Horizonte. "Nas rádios, eram os regionais quem acompanhavam os grandes nomes nacionais.

Com o tempo, os músicos mineiros começaram a se profissionalizar", explica Freitas. Naquele período, pontificaram músicos como Juvenal Dias, Ofir Mendes, Hilário Alves e Márcio Vaz de Mello. Mas com desenvolvimento das técnicas de gravação, na década de 60, os "regionais" começaram a ser demitidos.

Nos anos 80, surgem grupos como Flor de Abacate, Sarau Brasileiro, Clube do Choro de Belo Horizonte e Sacatrapo, nos quais tocavam e compunham muitos dos nomes listados pela pesquisa de Marcos Freitas. Ele resgatou a biografia de oito "chorões" de Belo Horizonte e classificou, por data, ritmo e dedicatória, 164 peças compostas por eles.

Marcos Freitas resgata três gerações de compositores. A primeira reúne Waldir Silva, Hélio Pereira e Beline Andrade. A segunda conta com Sílvio Carlos e Geraldo Alvarenga, e a terceira, Gustavo Monteiro, Warley Henrique e Ausier Vinícius.

Além do texto com a análise do objeto de pesquisa, a defesa de mestrado na linha de Perfomance musical foi complementada com recital na Escola de Música. A apresentação ilustrou parte importante do choro na capital nas Gerais: na platéia, os oito compositores listados na pesquisa; no palco, as notas, "marginais e clássicas", de Saudades de Itabira, de Sílvio Carlos, e Tema pra Celinha, de Ausier Vinícius.