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Nš 1501 - Ano 31 22.09.2005 |
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Capa |
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Opinião
- Rogério Cézar de Cerqueira Leite |
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Aprovada licenciatura para professores indígenas na UFMG Obras literárias traduzem culturas indígenas |
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O acadêmico e o popular
Projeto Conexões de saberes permite troca de conhecimentos entre a universidade e comunidades carentes
Ana Paula Ferreira
ma das dificuldades enfrentadas pelos universitários pobres é o custeio dos estudos. Gastos com materiais didáticos, alimentação e transporte são, em grande parte, responsáveis pela evasão de alunos do ensino público superior. Com o objetivo de favorecer a permanência desses estudantes na Universidade e a troca de conhecimentos com as comunidades populares, a Faculdade de Educação desenvolve o projeto Conexões de Saberes.
Por meio de seleção socioeconômica, foram escolhidos 25 alunos de diversos cursos para participarem do projeto. Todos são classificados como carentes de nível 1 na Fump e se autodeclaram pretos ou pardos. De acordo com Shirley Miranda, coordenadora-executiva do Conexões, todos encontram dificuldades para bancar seus estudos. "A bolsa que recebem, no valor de R$ 240, ajuda a cobrir os gastos durante a formação", explica Shirley.
Foca Lisboa Wallace Pereira: espaço de expressão |
Entre os bolsistas está Wallace Pereira, aluno do 4o período de Biblioteconomia. Natural de Santa Luzia, Wallace conta que precisa se desdobrar para chegar ao fim do mês. "Tento economizar tudo o que posso, o máximo possível", relata o aluno. Para ele, além da ajuda de custo, a participação no projeto possibilita o desenvolvimento de trabalhos sociais. "O Conexões é um espaço onde trabalhamos com um objetivo comum. Tentamos dialogar com as comunidades sobre suas demandas e, dessa forma, gerar uma sociedade mais justa", argumenta o estudante.
Os alunos realizam trabalhos nas comunidades do Aglomerado Santa Lúcia, na Zona Sul da Capital, e no bairro Icaivera, localizado em Contagem. O objetivo é favorecer a troca de conhecimentos entre jovens da Universidade e de comunidades populares. "Queremos colaborar com programas e propostas existentes na comunidade e, com isso, alcançar o conhecimento popular, conectando-o ao saber acadêmico", explica a coordenadora.
Mapa da juventude
Em Contagem, por meio de parceria com a Prefeitura, os integrantes do projeto estão desenhando um mapa da juventude. Com foco no bairro Icaivera, eles identificam organizações juvenis da região _ culturais, religiosas, esportivas ou musicais. De acordo com Shirley Miranda, o projeto quer dar visibilidade às formas de agrupamento das novas gerações. "Existe um consenso de que a juventude é despolitizada. Nós queremos mostrar que os jovens de hoje desenvolvem novas formas de participação social e, com isso, exigem novas demandas, principalmente por lazer e cultura", argumenta Shirley.
Para Wallace Pereira, que integra a equipe de Contagem, os jovens precisam de mais espaço para se expressar. "Eles enfrentam uma realidade dura e precisam de melhores condições para reivindicarem seus direitos", analisa o aluno. A expectativa da equipe do Conexões é de que o levantamento sirva como guia para o poder público na elaboração de políticas voltadas para a juventude.
Memória
As portas de entrada do Conexões no Aglomerado Santa Lúcia são duas organizações locais: o Grupo do Beco, que desenvolve atividades ligadas ao teatro, e a Associação Universitários do Morro, que reúne moradores que cursam ou já concluíram o ensino superior. Juntos, comunidade e universidade se esforçam para recuperar a memória do Aglomerado.
A estudante do 6o período de Biblioteconomia, Tatiana Cardoso, atua na comunidade do Santa Lúcia e considera o local um espaço rico para absorção de conhecimentos e saberes. "Estamos imersos num processo de aprendizagem e construção pessoal", relata. Para a estudante, sua origem popular favorece a participação no projeto. "As situações pelas quais passei antes de entrar na UFMG me ajudaram a ter uma visão mais abrangente sobre o mundo", diz a aluna. Logo que concluiu o ensino médio, aos 17 anos, Tatiana foi obrigada a entrar no mercado de trabalho para se sustentar. Sete anos depois conseguiu ingressar na Universidade e, agora, acredita ser sua obrigação retribuir à sociedade os benefícios que tem recebido.
O programa Conexões prepara, para 8 de outubro, o Dia da memória, uma série de intervenções no espaço do Aglomerado. Serão espalhados, pelas ruas e becos da comunidade, fotografias e notícias de jornais sobre a trajetória do local e de seus moradores. "Esse trabalho nos ajudará a encontrar meios de reconstruir a memória do Santa Lúcia", diz a coordenadora Shirley Miranda. Ao final da coleta, a equipe pretende reunir todo o material em um centro de memória. "Será um espaço de exposição, que permitirá às novas gerações conhecerem e se apropriarem das lutas da comunidade", explica Shirley.
O terceiro trabalho do projeto é desenvolvido dentro da própria Universidade. Cada uma das onze instituições de ensino superior integrantes do Conexões de Saberes tem a missão de pesquisar a origem de seus estudantes carentes. O objetivo do Ministério da Educação é obter dados suficientes para entender a trajetória desses alunos e favorecer a definição de estratégias voltadas para sua inclusão.
Programa: Conexões de Saberes Concepção: Ministério da Educação Densevolvimento: Universidades federais Na UFMG: Faculdade de Educação em parceria com o Observatório da Juventude e o Programa Ações Afirmativas Apoio: Pró-Reitoria de Extensão e FUMP |