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Nº 1547 - Ano 32
11.09.2006

A música que pára a metrópole

Conservatório completa 80 anos como um dos mais importantes espaços culturais de Belo Horizonte

Maurício Guilherme Silva Jr.

venida Afonso Pena, 12h30. Apressados, carros e pessoas correm de um lado para outro: além de perigosa, como alertou Guimarães Rosa, a vida parece frenética. Em meio ao turbilhão da “cidade pós-moderna”, no entanto, algo novo, como a flor de Drummond, capaz de perfurar o asfalto, chega aos ouvidos da multidão. Seria valsa de Strauss? Choro de Pixinguinha? Estudo de Chopin? Samba de Cartola? Curiosamente, a resposta só aparecerá caso o transeunte contemple, por meros 30 segundos, a bela arquitetura do Conservatório UFMG. É de lá que ecoam os acordes que “paralisam” a atenção de Belo Horizonte.

Fruto do projeto Música mecânica, a cena ilustra o papel hoje desempenhado pelo Conservatório UFMG, um dos mais importantes espaços culturais da capital mineira, que no dia 5 de setembro completou oito décadas de existência. “Paralisar” a metrópole com o auxílio da música é apenas uma dentre as inúmeras possibilidades de difusão das expressões artísticas. Mensalmente, cerca de duas mil pessoas assistem às atrações dos projetos Quarta cultural, Concerto às 19h15 e Concertos didáticos. Além deles, destaque para o tradicional Concerto de Natal, oferecido todos os anos à população belo-horizontina.

“O Conservatório permanece empenhado em divulgar a boa música, erudita ou popular. Buscamos, ainda, abrir o espaço para artistas com pouca oportunidade de apresentação na cidade”, ressalta o programador cultural Carlos Alberto Marques dos Reis, diretor do Conservatório.

Por décadas, o prédio do Conservatório sediou a Escola de Música da UFMG. No mandato do reitor Francisco César de Sá Barreto (1998/2002), o edifício foi restaurado para abrigar espetáculos artísticos e cursos acadêmicos, principalmente os organizados pela Fundep. Depois, veio a construção do anexo, hoje ocupado por restaurante e livraria da Editora UFMG. “A partir daí, o Conservatório iniciou nova fase”, diz Rogério Saleme, ex-diretor do espaço.

Na verdade, muito ainda está por vir. O diretor Carlos Alberto dos Reis lembra que há, por exemplo, proposta de criação do projeto Pizindim – alusão à forma como Pixinguinha era chamado pela mãe – que, aos sábados, abrigará grupos de Choro.

Formação e audiência
O Conservatório foi decisivo para a formação e projeção de várias gerações de músicos mineiros. Um deles, o violonista Eduardo Campolina, professor do departamento de Teoria Musical da Escola de Música da UFMG, foi aluno do Curso de Formação Musical (CFM), na década de 70, quando também fez sua primeira apresentação no espaço. “Já me apresentei no hall e no auditório do Conservatório. Acho interessante a audiência variada que lá aparece. Hoje, o espaço é bem mais aberto ao público”, afirma Campolina. Por lá passaram músicos do porte de Arnaldo Cohen, Irmãos Assad, Antônio Menezes, Kim Trio, José Feghalli, Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini, unânimes nos elogios à acústica do local.

Se para os músicos o espaço é especial, aos olhos do público representa a oportunidade de apreciação de boa música, associada à qualidade técnica e boa infra-estrutura oferecida pelo lugar. “Acompanho o projeto Concertos Didáticos desde o início. Quando posso, vou também aos espetáculos das quintas-feiras. Acho ótimos o espaço e a acústica do Conservatório”, ressalta Maria Amália Martins, ex-professora da Escola de Música da UFMG, freqüentadora assídua do espaço.

Templo
O Conservatório UFMG nasceu com a proposta de ser palco de eventos musicais. Não demorou muito o espaço, que teve o maestro Francisco Nunes como primeiro diretor, transformou-se num “templo” para realização de concertos, vocação agregada a seu caráter de formação de instrumentistas. Esta última, aliás, não é mais atribuição do Conservatório e sim da Escola de Música, há nove anos no campus Pampulha. Transformado em complexo cultural há cerca de seis anos, o Conservatório abriga sala de recitais e de aulas, galerias de exposições, auditórios e ambiente para concertos.