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Nº 1548 - Ano 32
18.09.2006

Estudo avalia pós-transplante
de medula óssea em pacientes do HC

Manoella Oliveira*

uita gente não sabe, mas o transplante de medula óssea nem sempre é feito com medula. O Hospital das Clínicas (HC) da UFMG, onde o procedimento é realizado há 11 anos, também usa outra fonte de célula-tronco, o sangue periférico, encontrado nas veias do corpo.

Essa possibilidade deve ser creditada às chamadas células-tronco hematopoéticas. Se o nome é complicado, sua utilização só traz benefícios. São elas que reconstituem o sistema responsável pela produção das células sanguíneas no indivíduo que as recebe. São encontradas em menor quantidade no sangue periférico, por isso um fator de crescimento é aplicado no doador e, em cerca de cinco dias, elas proliferam, com resultados satisfatórios. Além de restaurar a produção do sangue, essas células também fortalecem o sistema imunológico.
Foca Lisboa

A orientadora Maria Sant’Anna Dusse (esq.) e Monalisa Mendes: faltam evidências para definir a relação fonte-sobrevida

Para comparar as diferenças no pós-transplante em pacientes do HC submetidos a um ou a outro processo, Monalisa Lopes Mendes, mestre em Farmácia pela UFMG, defendeu dissertação que avalia o transplante de acordo com a origem dessas células-tronco. A pesquisa se ateve aos transplantes alogênicos – aqueles em que a transferência das células ocorre de um doador compatível para determinado receptor.

A pesquisa partiu da revisão de prontuários e planilhas eletrônicas do HC, entre julho de 1995 e março de 2005, em que 364 pacientes foram avaliados. Em todos os casos estudados, as doações ocorreram entre familiares, já que a compatibilidade deve ser alta e nem sempre é possível encontrá-la nos bancos de sangue.

“Esse tipo de estudo já foi realizado em instituições do Brasil e do exterior”, afirma Monalisa Mendes, lembrando que a pesquisa por ela desenvolvida comparou os resultados obtidos em trabalhos anteriores com os do HC para conhecer melhor o serviço de transplante do Hospital e verificar se os dados estudados divergem da literatura tradicional.

Diferenças
As conclusões do estudo condizem com pesquisas anteriores e apontam as principais diferenças entre os transplantes. De acordo com a pesquisadora, no transplante de sangue periférico, a recuperação hematológica – que caracteriza o reaparecimento de células sanguíneas como leucócitos, hemácias e plaquetas, após o transplante – é mais rápida. Assim, o período de hospitalização na primeira internação tende a ser menor, assim como a necessidade de transfusão de plaquetas nesses pacientes.

Apesar dos benefícios, o transplante com sangue periférico também apresenta problemas, como o aumento da incidência da chamada doença do enxerto contra hospedeiro. A patologia é resultado de reação adversa causada pelas células doadas, que “estranham” as células do receptor ao entrar em contato com elas. De acordo com Monalisa Mendes, trata-se de uma complicação pós-transplante freqüente e apontada como a maior causa de mortalidade decorrente desses procedimentos. Isso ocorre porque os linfócitos-T, responsáveis por esse reconhecimento, estão presentes em maior quantidade no sangue periférico do que na medula óssea. Esses linfócitos compõem o enxerto doado, assim como as células-tronco.

Sobrevida
Monalisa Mendes afirma que a definição da melhor fonte varia de acordo com a situação do paciente. “Depende da patologia e da idade, entre outros fatores. Se pudéssemos apontar uma que traz mais benefícios, a outra entraria em desuso. Em determinadas situações, uma é mais indicada do que a outra”.

No Hospital das Clínicas, a sobrevida global dos pacientes, em 45% dos casos, é de oito anos, independentemente da fonte de célula-tronco. “Ainda faltam evidências para afirmar se existe benefício ou prejuízo em relação à sobrevida dos pacientes que receberam células-tronco de medula-óssea ou sangue periférico. Não foi estabelecida relação entre sobrevida e fonte ”, pondera a pesquisadora.

Um transplante por semana

Um portador de leucemia aguda foi beneficiado, em 1992, pelo primeiro transplante de medula óssea realizado no Hospital das Clínicas. A cirurgia foi feita por equipe comandada pelo hematologista e professor Wellington Azevedo.

Em 1995, o HC criou o Serviço de Transplante de Medula, localizado no 9º andar do prédio principal do hospital, que depois destinou parte de seu espaço para os serviços de transplante de rins e fígado. Desde então, o Serviço já realizou quase 500 transplantes, mantendo a média de pelo menos um por semana. O Serviço, credenciado pelo Sistema Único de Saúde, é coordenado pelo professor Henrique Bittencourt.

 

Dissertação: Avaliação retrospectiva do transplante alogênico de células-tronco hematopoéticas em função da origem das células: médula óssea ou sangue periférico
Autora: Monalisa Lopes Mendes
Defesa: 28 de agosto, na Faculdade de Farmácia
Orientadora: professora Luci Maria Sant´Anna Dusse

 

*Colaborou Karla Ferreira, da rádio UFMG Educativa