Investimento no futuro

UFMG institui prêmio para reconhecer suas melhores teses de doutorado

Jair Amaral

O filósofo Richard Romeiro, o orientador Marcelo Marques e a vice-reitora Heloisa Starling

Uma forma de reconhecimento ao esforço e à dedicação daqueles que contribuem para o crescimento acadêmico da UFMG. Assim pode ser definido o Prêmio de Teses UFMG 2007, instituído pela Universidade como parte das comemorações de seu 80o aniversário. Trinta e um pesquisadores foram homenageados com diploma de mérito, e os autores dos três melhores trabalhos receberam o grande prêmio, em cada uma das grandes áreas do conhecimento. A cerimônia de premiação foi realizada no dia 4 de dezembro, no auditório da Reitoria.

Cada programa indicou sua melhor tese, defendida em 2006, e a encaminhou à Câmara de Pós-Graduação, que fez uma triagem dos trabalhos para avaliar se eles atendiam às exigências do Prêmio. A partir daí, as teses foram submetidas ao crivo de três comissões de especialistas para a escolha dos melhores trabalhos.

Os vencedores receberam diploma, medalha e auxílio-financeiro para participação em congresso internacional. O prêmio é estendido aos seus orientadores, que podem optar pela aplicação do recurso correspondente em custeios de projeto de pesquisa. Para o pró-reitor de Pós-Graduação, Jaime Arturo Ramirez, o prêmio é um investimento que a instituição faz no seu próprio futuro. “Esperamos que os agraciados assumam o compromisso de transmitir a qualidade da UFMG para as novas gerações”, avalia.

Segundo ele, a intenção é transformar a premiação das melhores teses defendidas no ano anterior em uma iniciativa regular no calendário da UFMG.

Platão e os artesãos da política

Bruno Vieira dos Santos

A confluência entre racionalidade e vida política é o eixo da tese Demiurgia política: as relações entre a razão e a cidade nas leis de Platão, vencedora na área de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas e Letras, Lingüística e Artes. A pesquisa, de autoria de Richard Romeiro Oliveira, foi defendida em agosto de 2006, no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Fafich.

Segundo Richard Romeiro, o termo demiurgia está associado a demiurgo, que em grego significa artesão. Em Platão, o conceito é utilizado para descrever a origem do cosmos a partir de um “artesão cósmico”. Este conceito foi, então, aplicado à política para explicar as relações que “modelam” o universo da comunidade política. O principal texto trabalhado por Richard é o último diálogo platônico, As Leis. É nesse trabalho menos conhecido que aparece a questão da organização e estruturação da vida política através das leis e normas escritas.

“Um artesão, quando produz um objeto, carrega na mente o seu modelo. Ele sabe que a feitura é limitada porque há imperfeições na matéria; o mesmo vale para o legislador político, cujos ideais de racionalidade, justiça e excelência não podem ser levados ao pé da letra por causa das imperfeições da nossa sociedade”, relata Romeiro. A questão que emerge é uma contradição entre o que se idealiza para a vida política e o que ela realmente é. “De um lado, temos ideais de justiça, de racionalidade e do que seria o bem; de outro, temos a vida política concreta, com seus limites”, esclarece o filósofo.

Richard vislumbra a atualidade dessa reflexão desenvolvida por Platão na Antiguidade. A tese traz à tona a discussão de como organizar o espaço da comunidade política e da vida social, das instituições, das leis e dos costumes que vão regê-la, tendo em vista a possibilidade de realização da justiça. O trabalho discute, ainda, até que ponto esses valores podem ser efetivados nas estruturas da sociedade política.

Richard cursou graduação e mestrado na UFMG. É professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, e da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG).

Heróis da resistência

Luiz Dumont Jr.

Jair Amaral

O prêmio foi entregue a Helton Santiago pelo professor Aluísio Pimenta

Com a tese Mecanismos de resistência à infecção por Leishmania major e Trypanosoma cruzi mediados por Interferon-gama e independentes de óxido nítrico: do reconhecimento à imunidade efetora, o pesquisador Helton da Costa Santiago foi premiado na área de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e Ciências da Saúde. Seu trabalho estudou os mecanismos de resistência a infecções intracelulares e encontrou resultados importantes para o entendimento da resposta imunológica e fisiológica a choques sépticos e infecções graves.

Os modelos de microorganismos utilizados por Santiago foram os da infecção por Leishmania major e Trypanossoma cruzi. O pesquisador investigou mecanismos de resistência, mediados por um hormônio ativador celular, o interferon-gama, que induz a célula hospedeira a matar o microorganismo invasor através da produção de óxido nítrico (NO), radicais de oxigênio (ROS) e outros mecanismos alternativos. O interferon-gama estimula as células-alvo, no caso os macrófagos, a controlar a infecção por tais parasitas.

Segundo Helton Santiago, o óxido nítrico é o mais importante antimicrobiano para resistência aos microorganismos utilizados na pesquisa. Estudos anteriores e outros realizados durante o doutorado demonstraram que camundongos com deficiência de interferon-gama são extremamente suscetíveis ao T. cruzi e à L. major. Já os animais deficientes em óxido nítrico demonstraram ser mais resistentes, confirmando a importância do interferon-gama no combate às infecções e sugerindo mecanismos alternativos ao NO nesse processo.

Vários mecanismos alternativos ao óxido nítrico foram considerados e, dentre as vias investigadas, Santiago encontrou o LRG-47, que desempenha importante papel complementar. Os estudos in vitro revelaram que macrófagos com deficiência de LRG-47 apresentavam capacidade reduzida de eliminar o T. cruzi até mesmo quando estimulados com altas doses de interferon-gama. “Vi que o LRG-47 é um mecanismo importante na resistência ao T. cruzi e possivelmente à L. major”, informa.

De acordo com o pesquisador, os radicais de oxigênio, também investigados, têm pouca participação na resistência à infecção provocada pelos dois parasitas, mas há fortes evidências de que eles ajustam a fisiologia dos camundongos, prevenindo quedas da pressão arterial durante infecções graves, nas quais o hospedeiro produz altos níveis de NO. “Trata-se de uma linha de estudo promissora, que pode ter implicações interessantes para tratamento de choques sépticos e outras infecções graves”, prevê Helton Santiago.

Rejeito ecológico

Ricardo Bandeira

Jair Amaral

Flávia Moura e o reitor Ronaldo Pena

A pesquisa vencedora na área de Ciências Exatas e da Terra e Engenharias poderá ter importante aplicação na defesa do meio ambiente e representa um avanço na pesquisa de nanomateriais. A tese, intitulada Preparação e caracterização de catalisadores baseados em compósitos metal-óxidos para aplicações ambientais e tecnológicas, é de autoria de Flávia Cristina Camilo Moura e foi defendida em março de 2006, no Programa de Pós-Graduação em Química do ICEx.

“Meu trabalho consiste, basicamente, em aproveitar óxidos de ferro, que são muito comuns aqui em Minas Gerais, até mesmo como rejeito de mineradoras, para utilização em aplicações ambientais e tecnológicas”, afirma Flávia. Ela descreve como esses óxidos de ferro podem ser transformados em catalisadores e usados para acelerar a destruição de poluentes em meios aquosos, como rios. Eles podem ser aplicados, por exemplo, para desintegrar uma substância capaz de contaminar um curso d’água. Além de encontrados na forma de rejeitos de mineração, os óxidos de ferro podem ser obtidos em laboratório.

Flávia Camilo Moura mostrou, ainda, que os óxidos de ferro podem, em contato com nanotubos de carbono, aumentar suas dimensões e transformá-los em um material semelhante a uma esponja, com propriedades para absorver o óleo de determinadas superfícies. No futuro, esse material poderá tornar-se uma alternativa para despoluir rios ou lagos afetados por derramamentos de óleo. Os nanotubos possuem dimensões milhões de vezes inferiores aos dos materiais convencionais.

A pesquisadora cursou graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado em Química na UFMG. Atualmente, é professora da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). A elaboração da tese incluiu uma temporada de estágio-sanduíche na Universidade de Montreal, no Canadá, onde ela aperfeiçoou as pesquisas sobre os efeitos dos óxidos de ferro nos nanotubos de carbono.