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Nº 1595 - Ano 34
17.12.2007

Oito vezes favela

Projeto experimental da Comunicação reúne fotografias produzidas por crianças moradoras de vila de Belo Horizonte

Angela Bacon
a alma da festa
Crianças da Vila São Francisco das Chagas que participaram da oficina: olhar particularizado sobre o próprio ambiente

Luiz Dumont Jr.

A palavra fotografia vem do grego e significa escrita com a luz. Muitas são as técnicas que orientam a sua produção. Luz, foco, ângulo, tipos de filmes. Essas regras fotográficas, no entanto, passaram ao largo da oficina que a estudante de Comunicação Social Ângela Bacon, da Fafich, ministrou a oito crianças carentes moradoras da Vila São Francisco das Chagas, no bairro Carlos Prates, região Noroeste de Belo Horizonte, e atendidas pelo Projeto Acolher.

yuri
Yuri/Auto-retrato
 
thalita
Thalia/bonecanacadeira

Durante três meses – de agosto a outubro –, cada criança recebeu uma câmera fotográfica e uma única orientação: registrar o que lhe viesse à cabeça. Desse exercício nasceu o projeto experimental de Ângela Bacon, intitulado Imagens do meu mundo.

O projeto tentou romper com o olhar padronizado que normalmente é lançado sobre as favelas e seus moradores por fotógrafos profissionais, oriundos, em geral, de outras classes sociais. Segundo a estudante, as imagens que aparecem nos jornais focam apenas a pobreza, o desemprego e a criminalidade. “Minha intenção era promover um deslocamento de ponto de vista”, diz Ângela. Para isso, ela valeu-se da visão das crianças sobre o seu próprio ambiente.

Sem rótulos

keyla
Keyla/Vasovermelho

De acordo com ângela Bacon, as crianças receberam conhecimentos básicos de fotografia, para que pudessem utilizá-la como meio de expressão. “Tentamos evitar os rótulos de certo e errado. Até porque conceitos técnicos acabam por engessar demais as possibilidades de criação de imagens”, explica. Ela conta que algumas crianças tiraram fotos de um jogo de futebol na TV ou de um desenho animado; várias imagens são desfocadas ou foram feitas em ambiente com iluminação inadequada.

“Isso é errado? Quem pode dizer? Apesar do amadorismo da produção, surgiram fotografias surpreendentes, que talvez digam mais da experiência das crianças do que as imagens tecnicamente corretas”, conclui a estudante, cujo projeto experimental foi aprovado por uma banca examinadora do curso de Comunicação Social, no último dia 11. Ela foi orientada pelo professor César Guimarães.

Parte das fotografias foi reunida na mostra Imagens do meu mundo, exposta, recentemente, no Centro de Educação São Francisco (CESfran), no bairro Carlos Partes, e no Centro Cultural UFMG. Entre os dias 10 e 31 de janeiro, a exposição poderá ser visitada no Centro Cultural Lagoa do Nado, no bairro Planalto, na Pampulha.