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Nº 1633 - Ano 35
10.11.2008

Nanotecnologia contra o câncer

UFMG pesquisa sistema bioativo para combater células tumorais

Filipe Chaves
Rosana Zacarias, Izabela Pereira e Roberta Viana: alta temperatura deixa células sadias intactas

Manoella Oliveira

Vítimas de doenças tumorais devem, em breve, receber boas notícias em relação a novos tratamentos. Universidades de vários países, entre elas a UFMG, dedicam-se a estudar uma maneira de combater as células não-sadias a partir da síntese de nanopartículas magnéticas. Preparadas a partir de sais de ferro, essas partículas têm a capacidade de aumentar a temperatura das células, sob a atuação de um campo magnético específico. Trata-se de um fenômeno chamado de hipertermia, que pode matar as células doentes, mais sensíveis ao calor, e deixar intactas as sadias.

“Uma das possibilidades de aplicação das partículas magnéticas é em sistemas com células tumorais ou em locais em que se tem um tumor. Seria uma alternativa para tratamentos de cânceres, com a grande vantagem de não danificar as células em bom estado”, explica a professora Rosana Zacarias Domingues, do Departamento de Química do ICEx e coordenadora do projeto Sistemas bioativos incluindo nanopartículas magnéticas, que investiga a aplicação dessas nanopartículas na UFMG.

Sistema bioativo é um conjunto de materiais sintéticos que pode ser introduzido no corpo humano para liberar algum fármaco específico, como antibiótico, antiinflamatório ou hidrocortisona. Em seu pós-doutorado na Universidade da Flórida, nos Estados Unidos, a pesquisadora estudou tais sistemas à base de vidro, hoje essenciais para o desenrolar da pesquisa sobre as nanopartículas magnéticas. Se o fármaco for inserido “solto” no corpo, o efeito é semelhante ao obtido quando o paciente toma o medicamento, o que não é o objetivo. É preciso que um sistema leve o fármaco até um local específico e libere a substância.

Invólucro

Por serem muito instáveis, magnéticas e pequenas, essas nanopartículas tendem a se aglomerar. Dessa forma, os sistemas bioativos vitrosos são usados para compor um invólucro e manter um número razoável de partículas como se fosse uma casa. Há também sistemas que se valem de outros materiais, como os poliméricos. “O dispositivo deve manter as nanopartículas em bom estado funcional já que, quanto mais se agregam, mais elas se transformam em micro, em macro e perdem parte da funcionalidade que gostaríamos que tivessem”, explica a professora.

Ao encerrar seu pós-doutorado nos Estados Unidos em 2000, a professora Rosana Zacarias retornou à UFMG e começou a trabalhar com a então doutoranda Ângela Leão Andrade, da Faculdade de Farmácia, que incorporou as drogas ao sistema. Atualmente, Ângela está na Universidade de Aveiro, em Portugal, pesquisando sistemas similares aos elaborados aqui. Mais tarde, outras três pesquisadoras se juntaram ao grupo: a mestranda Roberta Viana e as alunas de iniciação cientifica Diana Lanza e Isabella Pereira, esta responsável pela otimização do preparo das nanopartículas. Hoje, o estudo sobre nanopartículas magnéticas é realizado no Laboratório de Materiais e Pilhas a Combustível (Lampac), do Departamento de Química.

O próximo passo é uma parceria com o Departamento de Engenharia Elétrica. A idéia é que um aluno de pós-graduação construa equipamento que teria no centro um local para estabilizar um rato com nanopartículas magnéticas em seu dorso, deixando-o sob a ação de um campo magnético. O objetivo é medir a freqüência e as condições de aplicação desse campo de modo a não trazer danos ao animal, já com as células tumorais inoculadas por colaboradores do ICB e da Faculdade de Farmácia. Tal teste é parte da dissertação de mestrado de Roberta Viana, que será concluída em meados de 2009. “Esperamos que os resultados sejam bem similares aos que ocorreriam nos humanos. No exterior, as constatações são positivas, por isso já existem empresas interessadas em comercializar o que pode vir a ser um produto”, diz Rosana Zacarias.

Desafios

A exemplo de outros estudos desenvolvidos em todo o mundo, a pesquisa da UFMG busca respostas para algumas questões cruciais. Qual a melhor concentração dessas partículas? Qual o tamanho adequado para que elas cumpram seu papel? Qual a intensidade do campo magnético? Por enquanto, os testes estão sendo feitos em animais e a intenção é criar um protocolo seguro para estudos clínicos, que envolve seres humanos.

“A grande dificuldade é produzir partículas em tamanhos que possam ser utilizados em sistemas vivos. Elas não podem ser muito grandes porque, caso injetadas, tendem a provocar embolia, ou seja, entupimento dos vasos sangüíneos. Se forem muito pequenas, ocorre o que denominamos fagocitose: elas são ´engolidas´ por algumas células e não conseguem chegar ao ponto desejado”, informa Rosana Zacarias.