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Nº 1641 - Ano 35
16.2.2009

Com outros olhos

UFMG promove série de eventos no Ano Internacional
da Astronomia, que marca os quatro séculos da
revolução iniciada por Galileu Galilei

Filipe Chaves
astronomia
Frequentadores do Observatório do Museu: local privilegiado para observar os astros

Ricardo Bandeira

Quando, em 1609, o cientista italiano Galileu Galilei fez as primeiras observações astronômicas com um telescópio e confirmou que a Terra girava em torno do Sol, ele não iniciou apenas uma revolução científica. Começou a mudar a própria maneira de o homem pensar o mundo ao seu redor. O impacto daqueles experimentos pode ser medido pela punição imposta ao cientista. Julgado e condenado como herege pela Inquisição, Galileu foi mantido em prisão domiciliar até sua morte, em 1642, e absolvido formalmente pela Igreja Católica há apenas dez anos.
Para celebrar os 400 anos desse marco da ciência, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 2009 o Ano Internacional da Astronomia. Desde o mês passado, uma série de atividades é realizada em todo o mundo, com o objetivo de mostrar as contribuições da área para o conhecimento científico e despertar o interesse do público, sobretudo dos jovens. Em Minas Gerais, parte dos eventos está a cargo do Grupo de Astronomia da UFMG.

“Aquele foi um dos principais momentos da humanidade. As observações de Galileu permitiram a ele provar que a Terra não era o centro do Universo”, afirma o coordenador do Grupo de Astronomia e professor do Departamento de Física da UFMG, Renato Las Casas. No início do século 17, o cientista polonês Nicolau Copérnico já havia afirmado que a Terra gira em torno do Sol, e não o contrário, como se acreditava. Mas Copérnico sustentava-se apenas em teorias. Foram as observações de Galileu que demonstraram que ele estava certo.

Na opinião de Las Casas, o Ano Internacional da Astronomia vai contribuir para o que chama de “alfabetização científica”. “Nós precisamos de uma humanidade que conheça ciência”, defende o professor. Além das tradicionais atividades em Belo Horizonte e na Serra da Piedade, em Caeté, onde fica o Observatório Frei Rosário, o Grupo de Astronomia da UFMG prevê para este ano visitas a cidades do interior de Minas, a bordo de sua mais recente aquisição, o AstroCar, van equipada com telescópios, planetário e laboratório interativo.

Meteorito

As comemorações do Ano da Astronomia em Minas começaram em 19 de janeiro, com a observação, no Laboratório de Microanálises da UFMG, de fragmentos do meteorito Bocaiuva, o maior já encontrado no estado. No dia 23, o Grupo de Astronomia promoveu uma festa científica para a reinauguração do Observatório do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, no bairro Santa Inês, em Belo Horizonte, que passará a dividir o calendário de eventos com o Frei Rosário.

Para Las Casas, o Museu de História Natural é um dos melhores locais para observações astronômicas em Belo Horizonte. Além da baixa luminosidade do entorno, ocupado por área verde de 600 mil metros quadrados, o Museu está na região Leste da capital. Como em Belo Horizonte as correntes de vento geralmente deslocam-se de leste para oeste, o local concentra menos poluição atmosférica, o que favorece as observações do céu.

A recuperação do Observatório do Museu, que estava desativado desde o início dos anos 80, custou cerca de R$ 100 mil. Os recursos são da Fapemig.

Do telescópio ao microscópio

Filipe Chaves
Meteorito de Bocaiuva
Meteorito de Bocaiuva: artigo científico

Além de abrir o Ano Internacional da Astronomia em Minas Gerais, a análise do fragmento do meteorito Bocaiuva marcou o lançamento de novo projeto do Grupo de Astronomia da UFMG, chamado Do muito grande ao muito pequeno. O objetivo é relacionar as observações de astros de grande dimensão, feitas nos telescópios, com as análises microscópicas de materiais como aqueles encontrados nos meteoritos.

O Bocaiuva foi examinado numa microssonda eletrônica, que permite verificar os elementos químicos que fazem parte de sua composição. De acordo com o professor Aba Israel Cohen Persiano, do Departamento de Física e coordenador do Laboratório de Microanálises da UFMG, foi detectada, por exemplo, a presença de carbono no meteorito, o que ainda não havia sido descrito em análises anteriores. Isto pode contribuir para identificar a origem do Bocaiuva. O meteorito pesa 62 quilos, tem cerca de 50 centímetros de diâmetro e foi encontrado na cidade de mesmo nome, no Norte de Minas, em 1965. Ele está exposto no Museu de Mineralogia Professor Djalma Guimarães, na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte.

Os estudos sobre a composição do Bocaiuva resultarão em artigo científico elaborado por Persiano, pelo professor Renato Las Casas e pelo engenheiro-geólogo Luís Rodrigues Armoa Garcia. Segundo Las Casas, normalmente as pesquisas é que dão origem a trabalhos de divulgação científica. No caso do projeto Do muito grande ao muito pequeno, o caminho é inverso. Concebido como atividade de divulgação, ele renderá artigos e pesquisas.

O Laboratório de Microanálises fica no prédio do ICEx, no campus Pampulha, e é financiado pela Fapemig. A agência também apoia o projeto Do muito grande ao muito pequeno, junto com o CNPq.

Observatório Astronômico Frei Rosário
Onde fica: Serra da Piedade, em Caeté, nas imediações da
BR-381, a 50 quilômetros de
Belo Horizonte
Informações: (31) 3409-5679 e astrovis@fisica.ufmg.br

Observatório do Museu
Onde fica: Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG. Rua Gustavo da Silveira, 1.035, Santa Inês, Belo Horizonte
Informações: (31) 3461-7516 e dir@mhnjb.ufmg.br

Um ano para observar

O Ano Internacional da Astronomia reserva, na UFMG,
uma série de atividades ao longo de 2009. Confira.

  Durante todo o ano – No primeiro sábado de cada mês, o Observatório Frei Rosário, na Serra da Piedade, em Caeté, abre ao público com aulas multimídia, laboratório interativo e observações astronômicas.

  A partir de março – Às quartas, quintas e sextas-feiras, o Observatório Frei Rosário receberá turmas de escolas. Agendamento prévio pelo telefone (31) 3409-5679 ou pelo e-mail astrovis@fisica.ufmg.br.

  De abril a setembro – Nas noites de lua crescente, o Observatório do Museu estará aberto ao público para o evento Quarta Crescente, com aulas multimídia, laboratório interativo e observações astronômicas.

  Em seis datas a definir – Eventos especiais nos observatórios Frei Rosário e do Museu. Uma delas deverá ser a observação das Persêiades, chuva de estrelas cadentes que ocorrerá em agosto.

  Visitas ao interior – O Grupo de Astronomia organizará eventos itinerantes em cidades de Minas Gerais, em datas a definir. Estão confirmadas visitas a Salinas e Araçuaí.

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