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Nº 1644 - Ano 35
16.3.2009

Um nome elevado aos céus

Descoberto em 1992 e recém-batizado, asteroide Tarsia
homenageia professor do Departamento de Física

Itamar Rigueira Jr.

Foca Lisboa
Rodrigo Tarcia
Társia: pioneiro da astrofísica na UFMG

Os asteroides são pedras pequenas – para os padrões espaciais, bem-entendido –, cujo diâmetro pode variar de dezenas de metros a cerca de 800 quilômetros. Esses resíduos foram impedidos de se juntar para formar planetas pela força gravitacional de Júpiter e do Sol. São dezenas de milhares já catalogados, desde que o primeiro foi identificado, em 1801, e batizado de Ceres Ferdinandea. Um dos últimos corpos celestes descritos acaba de ganhar o sobrenome do professor aposentado do Departamento de Física da UFMG Rodrigo Dias Társia.

O asteroide Tarsia (a grafia perde o acento, para efeito de padronização internacional) foi descoberto pelo astrônomo belga Eric Walter Elst em 1992, mas só agora foi definitivamente batizado – pelo Comitê de Nomenclatura de Pequenos Corpos, nos Estados Unidos – porque o único meio de confirmar a identificação desses objetos é a verificação de sua órbita. É necessário acompanhar pelo menos três voltas em torno do Sol, o que leva vários anos. E muita pesquisa terá ainda de ser feita para determinar, ainda que de forma aproximada, outras medidas, como tamanho e massa.

O descobridor tem a prerrogativa de batizar o asteroide, e Eric Elst – hoje aposentado e vivendo em Antuérpia, na Bélgica – homenageou um grande amigo e companheiro dos primórdios da astrofísica no Brasil. Elst esteve na UFMG algumas vezes nos anos 1970, ministrou cursos e chegou a orientar dissertações de mestrado.

Rodrigo Társia considera – e ele garante não se tratar de falsa modéstia – que a distinção é apenas uma forma de agradecimento. “É claro que fico contente porque ele se lembrou de mim, mas a homenagem é também à UFMG e ao Brasil, que representaram para ele a oportunidade de ensinar em um país em que a astronomia era incipiente”, comenta Rodrigo Társia.

iderança

Ex-aluno e mais tarde colega de Társia no ICEx, o professor Wagner Corradi prefere ressaltar que o asteroide de número 39.564 “reconhece a carreira de um astrofísico de peso no Brasil, responsável pela instalação do Observatório Frei Rosário, da UFMG, na Serra da Piedade, que exerceu papel de liderança e que ainda escreve livros e desenvolve softwares, sempre com a preocupação de transmitir conhecimento”.

Um dos fundadores da Sociedade Astronômica Brasileira e integrante do grupo que definiu o local para a instalação do Laboratório Nacional de Astrofísica, em Brasópolis, no Sul de Minas, Rodrigo Társia teve o interesse despertado para a astronomia ainda na adolescência, influenciado pelo casal Maria da Conceição (dona Zininha) e Henrique Wikrota. Em 1965, iniciou a graduação em Física na UFMG e, no ano seguinte, fez na USP o primeiro curso de astrofísica no Brasil, com o francês Roger Cayrel. Àquela altura, já dedicava fins de semana à observação do céu na Serra da Piedade. Mais tarde, Társia fez o mestrado na UFMG e passou quase cinco anos no Observatório de Paris.

Coordenador do Observatório Frei Rosário por 14 anos, o professor se aposentou em 1993. Dentre as lembranças mais fortes da carreira, ele destaca a inauguração do Laboratório em Brasópolis. Sobre a UFMG, que continuou frequentando por muitos anos como professor voluntário, Társia afirma que a Instituição tem produção científica de alta qualidade e colaboração internacional relevante em sua área. “Isso se deve em grande parte ao esforço para implementação da astrofísica e ao trabalho de retaguarda desenvolvido pelo Rodrigo”, avalia o professor Luiz Paulo Ribeiro Vaz, ex-aluno de Társia na iniciação científica.

Aos 62 anos, apreciador de música – “toco flauta barroca, mas perdi o hábito” –, Rodrigo Társia cultiva a astronomia também como um hobby. “Às vezes nos juntamos, colegas e ex-alunos, e vamos para o mato olhar estrelas”, conta ele. Garante que nunca se sentiu um burocrata da profissão, mas que, com a idade, aprendeu a tirar mais filosofia e poesia dos astros. “Assim como o universo não é o que você vê, e a qualidade da observação muda de acordo com o comprimento de onda que utilizamos, é preciso prestar atenção para evitarmos, em nossa vida pessoal, a visão unilateral das coisas”, reflete.