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Nº 1691 - Ano 36
19.4.2010

Almoço com arte

Há 30 anos, o Quarta Doze e Trinta dá espaço a artistas da Universidade e leva nomes conhecidos à Pampulha

Luiza Andrade

Com a intenção de promover atividades artísticas a partir de produções da própria UFMG, além de criar alternativa de lazer e cultura no campus Pampulha, surgia há 30 anos o projeto Quarta Doze e Meia. Hoje, a série – rebatizada de Quarta Doze e Trinta – abriga cerca de 35 espetáculos por ano, divididos entre o auditório da Reitoria e a lona da Praça de Serviços.

Produtor dos eventos há oito anos, Sergio Diniz considera que essa permanência se deve a seu caráter abrangente. Ele proporciona cultura a pessoas que não teriam acesso fora do espaço universitário. “Assim como a experiência acadêmica, a arte modifica as pessoas. Tem a ver com universalidade cultural, reconhecimento, integração”, lembra Diniz, que é especialista em História da Cultura e da Arte.

De acordo com ele, cada apresentação exige da equipe de produção programação espacial e tecnológica específica. “Não se trata apenas de escolher e convidar o artista, é necessário considerar a parte técnica, adequação do espaço, relação com os arredores, retorno do som. A equipe vem trabalhando duro para manter o projeto interessante e inovador”, ele diz.

O responsável pela programação ressalta o caráter democrático do projeto, que é baseado em “fluxo de mão dupla constantemente renovado”. Além de contar com artistas de fora do circuito acadêmico, o Quarta Doze e Trinta projeta, também, músicos e artistas da comunidade universitária. A Gerais Big Band é um exemplo: começou em 1995 como projeto de extensão e este ano grava CD que comemora 15 anos de atuação. Para Marcos Albricker, regente do conjunto, o que garante o sucesso do projeto é a confraternização. “Não é só o público que se diverte. Interagimos com as plateias e nos divertimos no camarim”, relata o professor da Escola de Música.

Shows memoráveis
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Laboratório

Em 1980, quando foi realizada a primeira edição do Quarta Doze e Trinta, o campus Pampulha tinha outra configuração, lembra o professor aposentado Fabio Moura, criador do projeto. “Muitos prédios ainda não existiam, havia mais espaços vazios, e ao meio-dia e meia ouvia-se apenas o barulho dos talheres”, ele conta. Maria Elena da Silva, então funcionária da Reitoria, procurou o professor Fábio, que ocupava cargo de direção, queixando-se da aridez cultural do campus. “Não havia nada para distração de funcionários, professores e alunos. E não havia condições de sair para assistir a programas culturais em outros pontos de Belo Horizonte”, explica o professor. “Por que então não realizar atividades de cultura e lazer na hora do almoço?”

O projeto nasceu fruto de parceria entre diversas áreas. O auditório era cedido pela Reitoria, o piano, emprestado pela Faculdade de Educação, havia apoio do Departamento de Fotografia e Cinema da Escola de Belas-Artes e a participação de professores, alunos e conjuntos da Escola de Música. “Era um laboratório cultural, sem cachê. A hora do almoço era perfeita para integrar a Universidade”, recorda Fabio Moura, que foi professor da Face. Mas o projeto foi recebido com reservas. “Muitos não queriam abdicar do almoço em troca de um concerto. Passei vários anos com sanduíche às quartas-feiras.” Aos poucos, o público cresceu. Eram estudantes que passavam pela Praça de Serviços, alunos do Colégio Técnico adotaram a ideia, e logo os espetáculos passaram a reunir grandes plateias, e foi preciso encontrar outros espaços para algumas apresentações. Na primeira década, as edições eram esporádicas. Mais tarde, o projeto foi profissionalizado, e passou a ser semanal.

Paulinho Pedra Azul, Nivaldo Ornelas, Francis Hime, as companhias Luna Lunera e Giullari Del Diavolo, a atriz Bete Grandi e a cantora e violonista Dona Jandira, revelada aos 66 anos, fizeram algumas das performances memoráveis do Quarta Doze e Trinta. Sergio Diniz lembra bem da apresentação do violonista Yamandu Costa no auditório da Reitoria, em 2006. “O público era enorme e não havia espaço para todos. Então, Yamandu pediu que as pessoas se sentassem pelo chão e até no palco, junto dele. Foi emocionante.” O mineiro João Donato pensa em liberdade quando lembra de sua participação no projeto. “A universidade é um jardim onde florescem as inovações nas ciências e na tecnologia, e também nas artes e na cultura. O show na UFMG teve sabor de alegria e descontração,” diz Donato.