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Nº 1717 - Ano 37
01.11.2010

NEM sempre ANTAGÔNICOS

Campus Pampulha é prova viva de que natureza e espaço urbano podem coexistir em harmonia

Gabriela Garcia

Foto: Foca Lisboa
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Quero-quero: campus é refúgio para a fauna

Três aves da espécie Vanellus chilensis, mais conhecida como quero-quero, provocaram o isolamento de uma área de cinco metros quadrados do jardim da Reitoria da UFMG nos últimos dias. O fato despertou a atenção da comunidade acadêmica para a biodiversidade do campus, que tem cerca de 120 hectares de espaço natural. A cantora Mônica Salmaso, quando de seu show durante o evento UFMG Conhecimento e Cultura, comentou: “São coisas de Minas Gerais”.

Toda a mobilização ocorreu porque as aves montaram um ninho no local e começaram a atacar os pedestres para proteger os ovos ali depositados. O episódio evidencia a interação natureza-espaço ­urbano no campus. Segundo o engenheiro agrônomo do Departamento de Gestão Ambiental da UFMG Fábio Dornelas, as áreas de matas do campus proporcionam aos animais a sensação de que não há intervenção humana, o que cria um espaço de refúgio para a fauna. “Ela é muito rica, e está representada por várias espécies de micos e de aves que se sentem atraídas pelos frutos das árvores”, diz Dornelas.

A flora também se destaca na paisagem da cidade universitária. Metade de sua área é de cobertura florestal. “O campus é um local de transição do bioma de mata atlântica para o cerrado. Temos muitas espécies aqui”, explica o engenheiro, que integra o grupo de 110 funcionários – entre efetivos e terceirizados – responsável pela manutenção da área verde na Universidade.

A interação natureza-espaço urbano no campus Pampulha é tema do livro Cidade Universitária da UFMG – História e natureza, organizado pelas professoras Regina Horta Duarte e Heloisa Starling, do Departamento de História da UFMG. Um dos objetivos da obra, segundo Regina Horta Duarte, é mostrar que natureza e sociedade não são necessariamente antagônicas: “A ocupação humana modifica as paisagens naturais, e as cidades, por sua vez, são também constituídas por elementos naturais, como rios, árvores e animais”, argumenta.

O livro revela como o campus, estruturado na década de 1960, teve seu território transformado ao longo dos anos. A Estação Ecológica, seu principal patrimônio ambiental, foi criada graças ao empenho de parte da comunidade acadêmica que lutou pela preservação da área. O resultado desse processo é que hoje 50% do espaço natural do campus compõe-se de fragmentos de floresta nativa, fazendo que ele se destaque como um dos lugares mais arborizados de Belo Horizonte, em meio a um cenário de concreto e expansão imobiliária.

Desafios

Segundo a professora Regina Horta Duarte, a consolidação das áreas verdes da UFMG não foi um processo simples. Ela ocorreu ao longo de várias gestões, com maior ou menor destaque. Ainda que essas áreas estejam atualmente estabelecidas, há sempre o desafio de sua preservação, frente às demandas crescentes da comunidade universitária de ocupação de espaços por meio de construção de instalações físicas.

Para a historiadora, a questão ambiental, interpretada em seu sentido mais amplo, representa um desafio a ser enfrentado. “É preciso combater o desperdício e controlar a produção de lixo pela UFMG”, exemplifica ela, citando também a necessidade de soluções para o trânsito no campus, que se intensificou recentemente com a transferência de algumas unidades e a expansão dos cursos, gerando significativa poluição atmosférica e sonora.

Sua opinião é compartilhada pelo diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da UFMG, Fausto Brito. Entrevistado na edição 1.715 (18 de outubro) do BOLETIM, ele lembra que o campus Pampulha mantém “presença determinante” na bacia do Ribeirão Engenho Nogueira e se constitui no segundo centro de convergência de trânsito de Belo Horizonte. “Precisamos reduzir a geração e a destinação de resíduos e a pressão que exercemos sobre os sistemas de esgoto e drenagem urbana”, defende o professor.