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Nº 1761 - Ano 38
12.12.2011

Cruzada antifúngica

Pesquisadores desenvolvem e patenteiam fármacos para tratamento de doenças provocadas por fungos

Ana Rita Araújo

Cinco pedidos de patentes de fármacos para tratamento de doenças em humanos causadas por fungos foram depositados nos últimos meses pela UFMG. Trata-se de compostos sintetizados no Departamento de Química do Instituto de Ciências Exatas (ICEx), em parceria com a equipe coordenada pela professora Maria Aparecida de Resende Stoianoff, do ICB.

Com tradição no estudo de mecanismos de ação de fármacos antifúngicos, o grupo também pesquisa compostos que transportam a droga para áreas específicas do organismo. “Eles têm forma de cálice, daí o nome calixarenos”, explica Aparecida Stoianoff. Além disso, os estudos focalizam compostos de extratos vegetais de macrófitas aquáticas e plantas medicinais; curcumina e seus complexos metálicos; goniotalamina e seu enantiômero não natural e aldiminas, além de precursores dendriméricos com alta potência e seletividade. Segundo a professora, os poucos medicamentos disponíveis no mercado para tratamento de doenças fúngicas apresentam efeitos colaterais. É o caso da anfotericina B, mais antiga e apontada como a droga mais eficaz para essa finalidade, mas que afeta os rins.

A crescente incidência de doenças emergentes e de infecções fúngicas invasivas tem se configurado como grave problema de saúde pública. Negligenciadas pelos laboratórios farmacêuticos e grupos de pesquisa mundiais, doenças provocadas por fungos ocorriam, até o início dos anos 1980, sobretudo, no chamado terceiro mundo. O panorama mudou com o crescimento do número de transplantes, devido ao uso de fármacos imunossupressores para reduzir a possibilidade de rejeição ao novo órgão e com o advento da aids, cujos pacientes tornam-se vulneráveis a infecções graves, como a meningite causada por fungos. “Quanto mais baixa a imunidade, mais o paciente é alvo de ataque fúngico”, informa a pesquisadora.

Apesar do grande aumento da população atacada por esse tipo de enfermidade nos países desenvolvidos, o que resultou na pesquisa de medicamentos menos tóxicos, ainda há um longo caminho a percorrer. Diversas doenças não têm tratamento adequado, como a blastomicose sul-americana, oitava maior causa de morte por doença infecciosa na América Latina. Nos últimos quatro anos houve registro de 13 pacientes em Belo Horizonte com aspergilose cerebral, provocada pelo fungo Aspergilus niger, de grande virulência. Já a Candida albicans comumente provoca infecções em válvulas cardíacas e em transplantados em geral, além de casos de candidíase oral de difícil tratamento em pacientes com câncer e aids.

Pesquisas integradas

Coordenadora do Laboratório de Micologia, Aparecida Stoianoff trabalha com professores do próprio ICB, como Daniel de Assis Santos, e realiza estudos transdisciplinares com pesquisadores do Departamento de Química para o desenvolvimento planejado de novos agentes quimioterápicos antifúngicos. “Há vários anos temos feito pesquisas integradas para o planejamento estrutural e a descoberta dos chamados agentes precursores dendriméricos, moléculas simétricas que exercem função específica para interação fármaco-receptor e ação biológica desejadas”, informa o professor Claudio Luis Donnici, coordenador do Laboratório de Síntese e Eletrossíntese Orgânica e Química Medicinal, do Departamento de Química. Tais moléculas foram planejadas pelo uso de modelagem molecular e estudos quantitativos de estrutura de atividade (Quantitative Structure Relationships – QSAR) com a colaboração do professor Carlos Alberto Montanari, da USP-São Carlos, à época docente da UFMG. Trata-se de método que investiga, por química computacional, a interação das moléculas propostas com o alvo biológico. As pesquisas, que envolvem mais de cem moléculas diferentes, resultaram em quatro patentes, depositadas em dezembro do ano passado. Os novos fármacos também apresentam atividade antitumoral, estudada pela professora Miriam Teresa Paz Lopes, do ICB.

A professora Aparecida Stoianoff e outros docentes da Química desenvolveram tipo diverso de agentes quimioterápicos antifúngicos, resultantes de compostos derivados de aldiminas, que geraram o quinto pedido de patente, depositada em setembro deste ano. Ela destaca a importância desse tipo de pesquisa ao lembrar que, além do efeito colateral das drogas disponíveis, os fungos têm se tornado resistentes aos tratamentos. “Por isso, é fundamental desenvolver agentes antifúngicos mais potentes e menos tóxicos”, avalia.

Equipes

Além dos professores Aparecida Stoianoff, Claudio Donnici e Carlos Alberto Montanari, as pesquisas que geraram as quatro primeiras patentes envolveram as professoras Miriam Lopes (ICB) e Vera L. de Almeida (Funed), e os alunos de doutorado Sheila R. Oliveira, Luciano J. Nogueira e Lauris L. da Silva. Já a quinta patente foi desenvolvida por Aparecida Stoianoff e pelos professores Ângelo de Fátima, Adão A. Sabino e Rosemeire Brondi Alves (Química), e os alunos de doutorado Cleiton M. da Silva (Química), Danielle L. Silva, Thaís F. F. Magalhães e Cleide V. B. Martins (ICB).