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Nº 1767 - Ano 38
19.3.2012

O diabetes tipo 2 é responsável por mais de 90% dos casos da doença. Geralmente, ocorre na idade adulta pelo excesso de peso e má alimentação. Com o tempo, excessos de doces e carboidratos prejudicam o funcionamento do pâncreas, que sintetiza insulina, podendo fazer com que a pessoa passe a necessitar de doses do hormônio. Já o diabetes tipo 1 está ligado à infância, à pouca (ou nenhuma) produção de insulina e a fatores hereditários.

Sem açúcar e com afeto

Projeto de extensão e pesquisa da Enfermagem acompanha portadores de diabetes em unidades de saúde de Belo Horizonte

João Kleber de Mattos

O trajeto entre sua casa e a unidade de saúde no bairro Alto Vera Cruz, na Zona Leste de Belo Horizonte, é feito sempre a pé. Trata-se de uma recomendação médica que Hilda Faustina Silva cumpre com gosto. Aos 76 anos e muito bem disposta, ela é portadora de diabetes tipo 2, doença que impõe restrições à sua alimentação, exigindo vigilância redobrada. “A gente procura fazer tudo o que o médico pede, até porque não podemos comer todo tipo de alimento”, explica.

Dona Hilda é uma das participantes do Programa Educativo em Diabetes Tipo 2, da Escola de Enfermagem da UFMG, desenvolvido em oito unidades de saúde da capital mineira – Alto Vera Cruz, Pompeia, Taquaril, Boa Vista, Novos Horizontes, São José dos Operários, Paraíso e Horto – e que beneficia em torno de 400 pessoas por ano.

O projeto é desenvolvido por equipe multidisciplinar composta por profissionais da área de saúde, como médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas e terapeutas ocupacionais. Em janeiro, os profissionais passam por capacitação e, em fevereiro, começam as atividades com os diabéticos.

De acordo com a professora Heloísa de Carvalho Torres, coordenadora da iniciativa, uma das condições para que o atendimento alcance resultados positivos é o vínculo que se estabelece entre o profissional e o participante. “É preciso conhecer o contexto do diabético, onde ele mora e como vive”, explica a coordenadora. Para ela, escutar o usuário também é decisivo para o sucesso do tratamento. “Ele sabe mais do que parece, pois convive com a doença há vários anos”, analisa.

De perto e a distância

Capa de cartilha educativa elaborada pelo Nugeas
Capa de cartilha educativa elaborada pelo Nugeas

A equipe do projeto lança mão de procedimentos para monitorar a saúde dos diabéticos, como formação de grupos operativos para realização de dinâmicas durante as consultas nos postos de saúde, visitas domiciliares e monitoramento telefônico. “Ligamos a cada três meses para saber se a pessoa está seguindo o plano alimentar, fazendo caminhadas e as dificuldades que encontra no tratamento”, conta Priscila de Faria, estudante de enfermagem envolvida no projeto. A professora Heloísa acrescenta que o tratamento não se baseia na proibição, pois se o usuário se alimenta a cada três horas e faz uma caminhada diária de 20 minutos, é possível manter o controle do diabetes tipo 2 sem a necessidade de medicamentos, desde que a doença tenha sido diagnosticada em seu estágio inicial.

O projeto começa o ano com cerca de 480 participantes – 60 por posto de saúde – e ao longo do período registra taxa de desistência de cerca de 20%. Para participar, a pessoa deve ter entre 30 e 80 anos, mas a maioria dos atendidos tem entre 60 e 70 anos.

Julieta Teixeira de Andrade, 70 anos, moradora do bairro Alto Vera Cruz, aprova o convívio nos grupos operativos. “O atendimento é bom, chego sempre na hora marcada e não perco um dia”, conta ela, que faz tratamento com insulina. “Depois que passei a tomar o remédio não sinto mais fraqueza nas pernas. Hoje, minha taxa de glicose está controlada”, comenta.

Avaliação

O projeto começou há nove anos na atenção secundária do Ambulatório Borges da Costa, no campus Saúde, e foi a base empírica do doutorado e do pós-doutorado da professora Heloísa Torres. Ela também trabalha com avaliação de projetos sociais – já participou de atividades de aperfeiçoamento no Canadá e Estados Unidos e na Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro – e emprega esse viés na iniciativa com os portadores de diabetes tipo 2. “O projeto mantém interface com a pesquisa e o ensino, e as ações educativas devem ser feitas paralelamente; o processo é avaliado após cada ciclo das atividades.”

Essa tarefa é atribuição do Núcleo de Gestão, Educação e Avaliação em Saúde (Nugeas) da Escola de Enfermagem, também coordenado por Heloísa Torres. É lá que os resultados do projeto e de outras ações extensionistas da área de saúde são analisados. O Nugeas também está encarregado da produção do material educativo usado nos projetos, como a cartilha Conhecendo o Diabetes, que será distribuída nas próximas semanas.

No ano passado, o projeto foi o primeiro no Brasil a ser contemplado com financiamento voltado para avaliação de práticas educativas em diabetes tipo 2. São cerca de 70 mil dólares oriundos do programa Bringing Research in Diabetes to Global Environments and Systems (Bridges), vinculado à Federação Internacional de Diabetes.