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Nº 1767 - Ano 38
19.3.2012

Quem ganha é a capital

Tese defendida na Face e em universidade espanhola analisa impacto econômico gerado pelas atividades do Instituto Inhotim em Brumadinho

Gabriella Praça

O benefício econômico gerado pelo turismo regional é maior no centro da metrópole do que na pequena cidade que abriga a atração turística. Essa é a conclusão central da tese Análisis de la capacidad del turismo en el desarrollo económico regional: el caso de Inhotim y Brumadinho, defendida em janeiro na Universidade de Alicante, na Espanha, com transmissão por videoconferência para a Face. Sua autora, a economista Diomira Faria, realizou o trabalho em regime de cotutela entre a UFMG e a Facultad de Ciencias Económicas da universidade espanhola, tendo sido titulada por ambas as instituições.

Diomira elegeu como objeto de pesquisa a implantação do Instituto Inhotim em Brumadinho, por considerá-lo um caso singular para análise da relação entre economia e turismo. Quando Inhotim foi aberto ao público, em 2006, a economia do município tinha a mineração como carro-chefe. “Ao visitá-lo, no ano seguinte, fiquei surpresa com aquele museu-parque instalado em uma área cuja principal atividade econômica era a mineração”, justifica.

Com a novidade, Brumadinho passou a concentrar 12% de seus postos de trabalho na cadeia do turismo. Esses profissionais atuam em setores como o hoteleiro, o alimentício e o cultural. “Se o turista gasta R$ 1 em uma visita, ele influencia os vários setores econômicos que alimentam esse gasto, gerando mais de R$ 1 de impacto em toda a economia”, compara a recém-doutora. Segundo ela, uma atração como Inhotim, sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do país, provoca efeitos econômicos diretos, indiretos e induzidos, relacionados, respectivamente, à contratação da força de trabalho, aos fornecedores dos estabelecimentos turísticos e à renda dos funcionários.

Como é a metrópole que concentra os serviços e setores econômicos que dão suporte ao turismo nas pequenas cidades à sua volta, 60% dos benefícios econômicos gerados pelas atividades de Inhotim em Brumadinho se concentram em Belo Horizonte. Entre os visitantes que pernoitam na região, 89% decidem passar a noite na capital, e não na cidade-sede do museu. Esses turistas podem passear em Brumadinho durante o dia, mas, à noite, gastam com alimentação, transporte e lazer em BH. Só em 2010, Inhotim recebeu cerca de 200 mil visitantes.

A maior parte da mão de obra mais qualificada de Inhotim vive e consome na capital. O mesmo vale para os funcionários dos estabelecimentos turísticos que moram em Brumadinho, pois, em geral, frequentam semanalmente a capital, para fazer compras, tratamentos de saúde, visitar parentes ou se divertir.

Mensurar o intangível?

O impacto gerado na região vai muito além do aspecto econômico. “Minha intenção inicial era produzir uma análise quantitativa, mas, ao chegar lá, percebi que só os números não seriam capazes de explicar toda a complexidade do fenômeno”, revela a autora. A solução encontrada foi investigar, separadamente, impactos “tangíveis” e “intangíveis”. Ou seja, tanto o que pode ser medido com métodos de análise quantitativa, quanto aquilo que se reconhece como relevante, mas é difícil de calcular, por estar relacionado a percepções subjetivas.

A autora entrevistou 841 famílias, entre habitantes da região central e de distritos do município. Eles reconhecem o desenvolvimento do turismo local, a geração de empregos e o embelezamento da cidade. Brumadinho tornou-se mais conhecida, o que fortaleceu a identidade local e o desenvolvimento cultural. Por outro lado, há queixas quanto ao congestionamento de veículos em feriados e finais de semana e insegurança pelo aumento do número de pessoas desconhecidas transitando pelas ruas dos povoados. Outro efeito negativo na avaliação da população local é o aumento dos preços dos terrenos na região.

Tese: Análisis de la capacidad del turismo en el desarrollo económico regional: el caso de Inhotim y Brumadinho
Defesa: 31 de janeiro, simultaneamente na Universidade de Alicante e na Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, por videoconferência
Autora: Diomira Maria Cicci Pinto Faria
Orientadores: Roberto Luís de Melo Monte-Mór (Cedeplar/Face) e Moisés Hidalgo Moratal (Universidad de Alicante)