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Nº 1782 - Ano 38
2.7.2012

Também chamadas de “tags”, fazem o link entre a imagem de uma pessoa na foto e seu perfil no site.

A ferro e fogo

Pesquisa do DCC revela que marcações de usuários em fotos no Facebook carregam muitas informações pessoais

Gabriella Praça

Marcações de usuários em fotos do Facebook permitem inferir informações privadas dos envolvidos com alto grau de precisão. Formada por sujeitos mais próximos que a média, a rede de indivíduos indicados em imagens traduz o círculo social de uma pessoa de maneira mais satisfatória que seu próprio grupo de amigos no site. Essas são as revelações do estudo Privacy attacks in social media using photo tagging networks: a case study with Facebook, desenvolvido por pesquisadores do Centro de Análise e Modelagem de Performance de Sistemas (Camps) do Departamento de Ciência da Computação da UFMG, ligado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Web (Inweb). O estudo integra projeto de coleta de dados de usuários do Facebook desenvolvido em parceria com pesquisadores da Índia.

A equipe desenvolveu aplicativo destinado a capturar informações pessoais, divididas em quatro categorias: idade, sexo, cidade e país atuais. O programa, instalado nas contas de 664 usuários do Brasil e da Índia, utilizava algoritmos que permitem inferir atributos de usuários a partir de suas conexões sociais na rede. “Se a maioria dos amigos de uma pessoa for de Belo Horizonte, por exemplo, o algoritmo assume que ela também seja de lá”, explica o autor principal do estudo, João Paulo Pesce. “O que observamos foi que a precisão dos resultados aumenta quando restringimos a amostra a pessoas que aparecem em fotos com o usuário, em vez de considerar todo seu círculo de amigos no Facebook”, revela. Segundo o pesquisador, aluno do curso de mestrado em Ciência da Computação da UFMG, o resultado é ainda mais confiável se for atribuído um “peso” maior a amigos que aparecem em mais fotos.

Embora já existam outros trabalhos que buscam inferir atributos privados em redes sociais – como descobrir onde o indivíduo mora, ainda que essa informação não esteja explícita em seu perfil –, trata-se do primeiro estudo do gênero a explorar tags em fotos. Segundo Pesce, esse tipo de marcação exerce duas funções: uma social e outra de privacidade. “Por um lado, o usuário intensifica o contato com as pessoas marcadas em suas fotos, que passam a receber notificações sobre atividades ocorridas naquele link”, salienta. “Por outro”, completa, “é a função de privacidade que permite ao indivíduo saber o que está sendo postado sobre ele na rede, por meio do monitoramento das fotos em que aparece.”

Precauções

Orientado pelo professor Virgílio Almeida, o trabalho sugere que o site adote novas configurações para o uso de tags em fotos, como a possibilidade de “esconder” as marcações, em vez de deletá-las. Dessa forma, seria mantida a intensidade da interação do usuário marcado com o “dono” do álbum, com o recebimento de notificações a respeito de comentários postados, mas sem um link direto para seu perfil. “Outra alternativa seria oferecer ao usuário o privilégio de deletar as fotos em que foi marcado, o que minimizaria o dano causado por tags feitas em imagens comprometedoras”, observa o mestrando.

Mesmo com as configurações atuais, é possível se preservar na rede, com a adoção de algumas medidas simples, como não permitir a visualização pública dos álbuns fotográficos. Também é preciso ter atenção ao se instalar um aplicativo no perfil, para verificar se ele pede acesso a mais dados do que o necessário. Pesce recomenda, ainda, que se adicionem como amigas somente pessoas conhecidas, e que se tome cuidado para não mostrar mais do que o necessário. “É importante ter em mente que, ao fornecer uma informação, o usuário pode estar revelando muito mais do que o pretendido.”