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Nº 1786 - Ano 38
20.8.2012

Alessandra Rodrigues (Química, 4°ano),
Arthur Moraes Faasen (Eletrônica, 3°ano),
Gabriel Gonçalves Santos (Análises Clínicas, 3°ano),
Keila Eduarda Martins de Vasconcelos (Análises Clínicas, 2°ano),
Láyza Silva Jardim (Análises Clínicas, 2°ano),
Luisa Guimarães Carlos Silva (Automação, 3°ano),
Luisa Vilaça Gomes da Silva (Análises Clínicas, 3°ano),
Rafaela Jéssica Calmon Chaves (Química, 4°ano),
Thaís ­Rodrigues de Oliveira (Química, 2°ano) e
Vinícius Leonardo de Oliveira (Eletrônica, 3°ano)

Lições de uma educadora

Seminário discute o legado de Helena Antipoff, que influenciou gerações de pedagogos e psicólogos no Brasil

Ana Rita Araújo

Dentre os intelectuais que deixaram a Rússia por motivos políticos no início do século 20, Helena Antipoff (1892-1974) notabilizou-se por seu trabalho de atendimento psicológico e psicossocial e de educação de crianças e adolescentes em situação de risco social que alcançou a Europa e a América Latina. A psicóloga, que obteve cidadania brasileira em 1952 e se tornou professora emérita da UFMG em 1972, continua a inspirar estudos em diversos países. Estudiosos que se dedicam à sua obra participam, de 29 a 31 de agosto, no campus Pampulha e na Fundação Helena Antipoff, em Ibirité, da 30ª edição de encontro anual que leva o nome da educadora.

Ao organizar o evento, a professora de psicologia da educação Regina Helena de Freitas Campos, da Faculdade de Educação (FaE), procurou trazer para Belo Horizonte alguns pesquisadores que participaram, em junho passado, de seminário sobre Helena Antipoff realizado em Moscou (Rússia). Os convidados são brasileiros, russos, norte-americanos e europeus, que vão discutir seu “legado de excelência, lição para as novas gerações” e sua influência na Psicologia.

Com o tema A profissão do psicólogo no Brasil: história e desafios contemporâneos, em alusão às comemorações dos 50 anos da profissão no país, o evento será realizado em associação com o X Encontro Interinstitucional de Pesquisadores em História da Psicologia. A programação inclui mesas-redondas, conferências, apresentação de trabalhos, visita ao memorial de Helena Antipoff e abertura da exposição O acervo Helena Antipoff e a história da profissão de psicólogo no Brasil. Sob a curadoria do bibliotecário Ricardo Miranda, da FaE, a mostra será aberta na manhã do dia 30, na Biblioteca Central da UFMG.

A educadora, que deixou a antiga União Soviética em 1924, radicou-se em Belo Horizonte cinco anos depois, a convite do governo mineiro. “Ela deu grande contribuição à psicologia e à educação brasileiras”, resume Regina Freitas Campos, que preside o Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff (CDPHA), entidade que realizou o simpósio de junho, em parceria com o Centro Alexander Solzenitcyn de Estudos sobre a Diáspora Russa, em Moscou.

A entidade russa foi instituída há 15 anos pelo escritor e dissidente soviético Alexander Solzenitcyn, Prêmio Nobel de Literatura em 1970. “Seu objetivo é promover estudos e pesquisas sobre a chamada ‘diáspora russa’, isto é, a história de cientistas, escritores e intelectuais que deixaram o país por motivos políticos e construíram obras relevantes em outros países”, explica a pesquisadora, que também destaca a importância de um evento de porte internacional dedicado à obra de uma docente da UFMG.

Integrantes do Centro Solzenitcyn, as pesquisadoras Marina Sorokina e Natasha Masolikova trarão à UFMG dados sobre o trabalho de Antipoff em seu país de origem. Outro palestrante convidado é o professor David Baker, do Centro de História da Psicologia, da Universidade de Akron (EUA). Segundo Regina Freitas Campos, a visita desses pesquisadores vai estreitar a colaboração acadêmica e científica entre Brasil, Rússia e América do Norte. Também participam professores de instituições brasileiras e estudantes de pós-graduação na UFMG e na École des Hautes Études em Sciences Sociales, em Paris (França).

Herança

Quais os ideais e interesses das crianças mineiras das décadas de 1930 e 1940? Em questionário aplicado em escolas de Belo Horizonte nos anos de 1929, 1934, 1939 e 1944, Helena Antipoff colheu material para conhecer o público com o qual trabalhava. Em 1990 e 2000, Regina Freitas Campos e sua equipe aplicaram os mesmos questionários na capital mineira, e a professora Nádia Rocha realizou a pesquisa em Salvador no biênio 2011-2012. “Na comparação dos resultados, o principal achado é a mudança nos modelos adultos adotados pelas crianças no início do século passado e de hoje”, comenta a diretora do CDPHA, que prepara lançamento de livro sobre o tema.

Segundo ela, enquanto as crianças dos anos 1930 citavam adultos da própria família ou santos como modelo nos quais se espelhavam, os padrões atuais são os chamados heróis da mídia, como jogadores de futebol e supermodelos. “As habilidades cognitivas e socioafetivas são construídas e mudam de acordo com as transformações na sociedade e nas culturas”, diz a pesquisadora.

O trabalho é parte de vasto acervo de pesquisas decorrentes da obra de Helena Antipoff. Entre elas, estudo do professor da FaE Sérgio Dias Cirino aborda um dos primeiros laboratórios de psicologia estabelecidos no Brasil – na então Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte – na década de 1930, com sólida produção científica, nas áreas da psicologia do desenvolvimento humano e da educação, sob a direção de Helena Antipoff.

O professor Bernardo Jefferson Oliveira, também da FaE, estuda o debate entre educadores católicos e escolanovistas no Brasil dos anos 1920-1930 e seus reflexos na recepção do trabalho de Helena Antipoff em Belo Horizonte. Há também os trabalhos das doutorandas Adriana Araújo Borges e Carolina Bandeira de Melo e de docentes de outras universidades brasileiras que participam do evento deste mês. Fora do Brasil, existem estudos como o da pesquisadora Silvia Parrat-Dayan, dos Arquivos Jean Piaget, da Universidade de Genebra, que focaliza o apoio do Bureau Internacional de Educação, sob a direção de Jean Piaget, à obra de Antipoff no Brasil.