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Nº 1786 - Ano 38
20.8.2012

Ossos mais fortes

Pesquisa do ICB propõe uso de nanotubos de carbono em reparos ósseos

Ana Rita Araújo

Um biomaterial que associa nanotubos de carbono à molécula hialuronato de sódio pode facilitar reparos ósseos, sugere pesquisa coordenada pelo professor Anderson José Ferreira, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Os nanotubos de carbono funcionariam como elementos capazes de aumentar a estabilidade do hialuronato de sódio, mantendo suas propriedades biológicas. O hialuronato, substância existente entre as células, já é utilizada em algumas especialidades médicas, como estética e oftalmologia.

Para validar o biomaterial, são necessários estudos de toxicidade. “Começamos pela função cardiovascular, com o intuito de avaliar se essa associação é biocompatível ou se pode trazer algum problema, se usada, por exemplo, no alvéolo dental”, relata Ferreira. Ao mesmo tempo, estão sendo realizados testes para estudar os seus efeitos na função renal.
Segundo o professor, os nanotubos de carbono ampliam a estabilidade do material proposto, tornando-o mais viável comercialmente por oferecer melhores condições de manipulação e de estocagem. “Se hoje conseguíssemos transferir essa tecnologia, seria o primeiro produto mundial para uso em odontologia à base de nanotubos de carbono”, comenta o professor, lembrando que isso poderá abrir novos horizontes de aplicação do nanomaterial.

Diabetes

A ideia da associação vem do conhecimento, já demonstrado na literatura específica, de que os nanotubos de carbono sozinhos funcionam como sítios de nucleação de depósito de cristais. “Se colocados em uma membrana, servem como iniciador do reparo ósseo, pois o organismo identifica ali um local de depósito de novas células”, explica o professor.

Já o hialuronato de sódio ou ácido ­hialurônico é uma das várias substâncias existentes na chamada matriz extracelular – espaço entre as células. Um dos inconvenientes do uso dessa molécula é sua instabilidade, o que a leva a se degradar facilmente. A união das duas substâncias demonstrou bons resultados tanto no tratamento do alvéolo dentário quanto de outros ossos.

O estudo coordenado por Anderson Ferreira foi dividido em duas partes – a primeira apenas com o hialuronato de sódio e a outra com os nanotubos de carbono associados com a substância. Nos testes, têm sido usados ratos com diabetes, doença que dificulta a cicatrização. “Quando introduzimos os biomateriais no osso do animal, o processo cicatricial volta para os padrões do animal-controle. Ou seja, não estamos tratando o diabetes, pois a cobaia continua com a doença, mas contornamos um dos problemas decorrentes dela, que é a dificuldade no reparo ósseo”, relata.
A partir de projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (Coep), o tema será estudado no Programa de Pós-graduação da Faculdade de Odontologia, com o intuito de selecionar pacientes para tratamento do alvéolo dentário com hialuronato de sódio. “Se funcionar bem, como vem ocorrendo nos trabalhos em laboratório, e os testes de toxicidade com nanotubos de carbono forem satisfatórios, haverá mais segurança para se propor o uso do biomaterial em humanos”, prevê Ferreira, que já depositou patente do nanomaterial.

Inovação

O trabalho coordenado por Anderson José Ferreira é uma das iniciativas selecionadas em edital do Programa de Bolsas de Iniciação ao Empreendedorismo e Inovação, conduzido pela Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica (CTIT), em parceria com a Inova – Incubadora da UFMG, e copatrocinado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

A intenção é oferecer a alunos de graduação a oportunidade de participar de atividades em empresas de base tecnológica (start-ups). A aluna selecionada para o projeto é Larissa Costa Coimbra Santos Dumbá, do quinto período de graduação em Ciências Biológicas. “Considero uma grande honra, pois é a minha primeira chance como bolsista e já começo com um projeto de nanotecnologia, com resultados muito bons tanto na odontologia quanto na ortopedia”, comenta a estudante.

Projeto: Estudo de toxicidade de nanotubos de carbono funcionalizados ou não com hialuronato de sódio na função cardiovascular
Coordenador: Anderson José Ferreira