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Nº 1790 - Ano 38
17.9.2012

Um olhar sobre os rankings

Professor da UFMG analisa parâmetros usados na composição dos sistemas de avaliação das universidades

Ana Rita Araújo

Ao avaliar o desempenho das universidades com base em indicadores, os rankings conseguem captar uma espécie de “carimbo institucional” que revela traços da identidade de cada uma delas. Embora seja um mérito do processo, essa condição impõe fragilidades na análise, ao reunir inúmeras dimensões em apenas alguns itens. “Sem dúvida há perdas nesse tipo de olhar, mas é importante que os rankings existam”, pondera o professor Ricardo Hiroshi Caldeira Takahashi, que vem estudando não apenas os resultados, mas também as cestas de parâmetros utilizados pelas instituições responsáveis por esse tipo de levantamento.

Na realidade brasileira há, segundo Takahashi, um padrão visível ao longo dos anos: uma certa estabilidade na lista das seis ou sete melhores instituições. Com pequenas variações, surgem no topo três estaduais paulistas – USP, Unicamp e Unesp – intercaladas com três ou quatro federais – Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. “É bastante consistente o fato de essas universidades estarem sempre muito destacadas em relação às outras do país”, ressalta.

Docente do Departamento de Matemática do Instituto de Ciências Exatas (Icex), Takahashi acompanha os rankings mundiais de instituições de ensino desde o início dos anos 2000, quando, de forma pioneira, a Universidade de Shangai (China) adotou métricas objetivas, ao criar o Academic Ranking of World Universities (ARWU). Devido ao seu interesse no tema, Takahashi foi convidado no final de 2010 pela Pró-reitoria de Pesquisa da UFMG para analisar sistematicamente tais classificações. “A ideia não é fazer comparações, mas extrair lições que os rankings podem nos oferecer”, define.

Uma dessas lições, em sua opinião, é a necessidade de superar um traço comum em universidades de grande porte: a diferença de qualidade entre cursos, programas e áreas. O matemático sugere a adoção de políticas internas que permitam a elevação dos padrões de pesquisa nas áreas em que patamares mais altos ainda não tenham sido atingidos. Takahashi destaca o “papel crucial” da administração central para mobilizar a comunidade acadêmica com essa finalidade, e assegura que a UFMG tem “em seu DNA” a característica de responder de forma positiva aos estímulos de construção coletiva de políticas institucionais.

Subjetividade

Na aparente objetividade dos números, uma série de quesitos de caráter subjetivo ou que comparam situações não similares pode comprometer a fidelidade das classificações de âmbito internacional, assegura Takahashi. Ele cita como exemplo os questionários que o Times Higher Education e o QS World University Ranking enviam para pesquisadores e empregadores de todo o mundo, pela internet. Aos primeiros, pedem indicações das dez universidades que considerem melhores. Aos empregadores, perguntam sobre a qualidade das universidades de onde têm recebido alunos.

“Obviamente, o local da amostra faz toda a diferença. Provavelmente alguém na Flórida dificilmente vai indicar uma instituição brasileira entre as dez melhores”, analisa o professor. Segundo ele, essa parte da metodologia contém elementos que desfavorecem muito não só instituições brasileiras, mas também de outros países que não estão no centro do circuito de produção do conhecimento. “O peso desses questionários é enorme”, assegura.

Outro indicador, de ambos os rankings, particularmente desfavorável para a nota brasileira é a quantidade de docentes e de alunos estrangeiros. Como lembra Takahashi, o deslocamento de um espanhol para estudar na França e vice-versa equivale a sair de São Paulo para Minas Gerais. “Países continentais como o Brasil são desfavorecidos por esse indicador. Os Estados Unidos não são afetados porque atraem pessoas do mundo inteiro”, explica. O pesquisador comenta que a Universidade King Fahd, na Arábia Saudita, aparece bem à frente da UFMG nesse quesito, provavelmente porque todo o seu corpo docente é composto por estrangeiros, “embora a produção científica deles seja pequena comparada com a nossa”. Devido a aspectos como esses, Takahashi acredita que a posição da UFMG entre as posições 400 e 600 no mundo, como indicado em alguns rankings, não necessariamente seja exata. “Mas isso não é algo que deva nos preocupar profundamente”, reitera.

Mesmo em âmbito mais restrito, como o QS University Rankings: América Latina, criado pela empresa Quacquarelli Symonds (QS) para atender a uma realidade específica, ocorrem distorções, aponta o professor. A presença da UFMG em 13º lugar deve-se, segundo ele, possivelmente a respostas de empregadores e dados sobre o número de alunos estrangeiros. Novamente, a dimensão continental do Brasil dificulta que o intercâmbio ocorra de forma tão intensa quanto em outros países da América Latina. “Do ponto de vista da pesquisa, talvez a única instituição latino-americana fora do Brasil que tenha peso equivalente à UFMG seja a Universidade Autônoma do México”, diz Takahashi. “Não é que devamos desprezar o ranking, ele é muito importante, mas devemos saber interpretá-lo, para não extrair lições equivocadas”, ressalta.

Takahashi tem analisado os seguintes rankings internacionais: Academic Ranking of World Universities (ARWU), QS World University Ranking, QS University Rankings: América Latina, SCImago Institutions Rankings (SIR) e Times Higher Education. Ele também se debruçou sobre os resultados do Ranking Universitário Folha, que publicou os resultados de sua primeira edição no início deste mês, apontando a UFMG como a segunda melhor universidade do país. Para o pesquisador, saber que foi bem-sucedida nos aspectos avaliados por esse levantamento ajuda a Universidade a continuar investindo em políticas para a graduação e a pós-graduação, a conectar pesquisa com ensino e a garantir que seus principais pesquisadores estejam em sala de aula, ensinando os alunos dos primeiros anos da graduação. “Práticas como essas, já adotadas pela Universidade, se traduzem em indicadores positivos”, afirma.

Na última avaliação anual do QS World University Ranking, que indica e compara o desempenho de 700 universidades em todo o mundo, a UFMG subiu de patamar. Enquanto em 2011 figurava entre as posições 501 e 550, agora aparece entre a 451ª e a 500ª colocação. À frente dela estão as brasileiras USP (na posição 139), Unicamp (228), UFRJ (333) e Unifesp (entre 401 e 450). A partir do 400º lugar, as instituições são agregadas em blocos de 50.

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