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Nº 1791 - Ano 38
24.9.2012

Abre-te, cérebro

Pesquisadores de sete países se reúnem no campus Pampulha para discutir estudos neurocientíficos e lançar luzes sobre a percepção humana

Marcus Vinicius dos Santos*

Nem mesmo o mais incrédulo dos céticos consegue ficar indiferente a um bom e surpreendente número de ilusionismo. Em tempos de projeções holográficas, em 3D ou mais dimensões, ou com sistema de som surround, o mágico contemporâneo pode até abrir mão da cartola, mas a essência de sua atividade ainda envolve enganar os olhos e a percepção do público.

Parece surpreendente, mas essa é a ideia que orienta a organização da 2ª Semana Internacional de Neurociências da UFMG, que acontece de 24 a 29 de setembro, no campus Pampulha, em torno do tema Percepção. O evento, que comemora os dez anos de criação do curso de especialização e os cinco anos do Programa de Pós-graduação da área, engloba o 6º Simpósio Internacional de Neurociências e uma série de atividades de extensão, artísticas, culturais e científicas, abertas à participação da população. O Simpósio, de caráter técnico-científico mais aprofundado, é pago. As outras atividades da 2ª Semana, de alcance mais amplo, são gratuitas. As informações completas estão no site do evento: www.6simposioneurociencias.chsd.com.br.  

Segundo a professora Ângela Maria Ribeiro, do Instituto de Ciências Biológicas, presidente do evento e coordenadora do Programa de Pós-graduação, não se tem notícia de um evento dessa dimensão já realizado no Brasil em torno dessa inter-relação, com diversidade de abordagens que vão da identificação de sons e rostos até escolhas e decisões de compra, passando pelos impulsos que levam ao abuso de drogas.

Pesquisadores, brasileiros e de outros seis países, vão apresentar resultados de seus estudos sobre percepção do tempo, música, drogas, audição, visão, robótica, modelos computacionais, marketing, economia, tecnologia, estratégias de aprendizagem, saúde e tratamentos para dificuldades e disfunções.

No plural

A amplitude do campo das neurociências é confirmada até mesmo pelo fato de seu nome ser grafado no plural, algo que vai além de mera convenção ortográfica. “Tem a neurociência molecular, a sistêmica, a comportamental, a cognitiva, a computacional. A área mantém interfaces com várias áreas do conhecimento – exatas, biológicas e humanas, como por exemplo, por meio da psicologia”, explica Ângela Ribeiro. Ela lembra que essa interação já começa a alcançar as ciências sociais, especialmente as áreas da neuroeconomia e neuromarketing.

Alguns dos avanços mais importantes são observados na área de tecnologia. Técnicas de processamento e detecções de sinais capazes de gerar imagens de alta resolução podem propiciar medidas da atividade funcional de pontos específicos do cérebro, como no caso da Ressonância Magnética Funcional e da Tomografia de Emissão de Positron, o PET.

O cérebro funciona por meio da conexão de células que constituem a rede neural, pela qual passam impulsos elétricos que se relacionam com as atividades de regiões cerebrais específicas, associadas por sua vez com diferentes aspectos do comportamento humano. As técnicas de neuroimagens permitem medir a atividade de uma região do cérebro quando uma pessoa está executando uma tarefa e, dessa forma, avaliar relações entre aspectos neuroanatômicos funcionais e o desempenho de uma tarefa – cognitiva ou emocional.

Para mostrar de forma mais concreta toda essa diversidade, o Programa de Pós-graduação em Neurociências abre esta semana os laboratórios à visitação de alunos do ensino médio da rede pública de Belo Horizonte com o objetivo de mostrar como o conhecimento é produzido, difundi-lo e despertar o interesse por ele.

* Jornalista da Faculdade de Medicina e mestrando em Medicina Molecular

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