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Nº 1798 - Ano 39
12.11.2012

Arte Expandida

Em sua segunda edição, Bienal Universitária de Arte busca interagir artistas, espaço e público

Gabriella Praça

“Busco mostrar mundos de minha cabeça. Novas formas. Híbridos de algum lugar possível em qualquer parte do universo.” É assim que a estudante argentina Victoria Ruiz Díaz, aluna de Desenho na Universidad Nacional del Litoral, descreve sua proposta artística. Ela utiliza personagens e situações reais como fonte de inspiração para expressar ideias pessoais ou sentimentos momentâneos, por meio de imagens e palavras. “Ao se desprenderem de seu autorreferencial, esses personagens ganham vida própria, com personalidades distintas conectadas à energia cósmica”, revela. Victoria está entre os 69 estudantes que participam da segunda edição da Bienal Universitária de Arte, que acontece até o dia 2 de dezembro, em Belo Horizonte.

A programação do evento, que este ano homenageia o artista plástico Alberto da Veiga Guignard, morto há 50 anos, oferece mostras, palestras, conferência, debates e exposições. O intuito é envolver a cidade pela arte, ocupando simultaneamente diversos espaços. A UFMG, o Sesc Palladium, a Escola Guignard (Uemg) e o Museu de Arte da Pampulha são palcos da Bienal, além do Espaço CentoeQuatro, que abrigará os residentes, como Victoria. A partir do próximo dia 19, oito estudantes, sendo quatro brasileiros e quatro estrangeiros, utilizarão o local como ateliê público para desenvolver seus projetos artísticos. O processo criativo será compartilhado e vivenciado dentro do espaço expositivo.

Obra de Leonardo Gauna questiona o próprio processo de criação artística

Residência artística

Participante da residência na categoria Livro de artista, Victoria pretende desvelar o entorno natural de Belo Horizonte, investigando a fauna e a flora locais para descobrir suas especificidades. Segundo a artista, a ideia é fundir características de distintas espécies animais e vegetais, de forma a criar um novo mundo natural, plasmando dados e desenhos em um livro de pequeno formato. “Uma obra única, original e dedicada ao lugar”, salienta.

Também argentino, o desenhista Leonardo Gauna utilizará as janelas do Espaço CentoeQuatro como suporte material para sua produção. Seu projeto, Ventanas, nasceu em 2011 como tentativa de vincular a obra a seu entorno, de maneira que os murais desenhados interajam com o contexto social e urbano no qual se inserem. Estudante de Belas-Artes na Universidad de la Plata, Gauna busca, ainda, questionar o próprio processo de produção de desenhos. “A prática envolve não apenas as linhas que marcam o desenho, mas também o espaço em branco que o cerca – no caso de uma folha de papel”, observa. Para ele, um bom desenho deve aproveitar essa porção de branco, utilizando-se mais dela do que das próprias linhas. “Em meu projeto pretendo evidenciar essa relação, substituindo o papel por vidro e, dessa forma, trabalhando sobre algo já realizado, que é a paisagem que todos conhecemos.”

Já o artista brasileiro Paul Setúbal criará desenhos de cunho político-social que questionem a vida contemporânea. Suas obras serão produzidas a partir de pinturas, imagens fotográficas de Belo Horizonte e diversas representações de época que carreguem em sua composição elementos que retratam a sociedade brasileira, evidenciando o caráter cíclico das causas políticas e sociais. “Proponho caminhar pela cidade à procura de ‘cenas’ que se aproximem dessas imagens de época – seja por seu grau de esforço, violência ou vida cotidiana –, para fotografá-las e utilizá-las na confecção dos desenhos”, conta. Aluno de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás, Setúbal ressalta que a desconfiança das imagens que o cercam está no cerne de sua produção artística. “Essa desconfiança aponta para a abstração das imagens: o que vou apresentar são imagens fragmentadas, resquícios de paisagens”, revela.

Marcas do tempo

Na exposição Tentativas orgânicas, a aluna de Artes Plásticas da Escola Guignard (Uemg) Carolina Botura exibirá cinco obras confeccionadas a partir de flores. A artista manipula matéria orgânica coletada do chão para abordar questões como natureza, corpo e tempo. “Não pretendo produzir uma imagem predeterminada, mas deixar que o tempo responda à minha atitude em relação ao material trabalhado”, explica. A costura das flores e sua armazenagem em sacos de filó estão entre as técnicas utilizadas. Segundo Carolina, seu trabalho busca retratar o momento presente da matéria – que “carrega consigo as marcas do tempo” –, em uma tentativa de reflexão e redefinição do corpo.

Estreante em exposições, a estudante de Publicidade da UFMG Bruna Brandão exibirá dez fotografias produzidas ao longo de 25 dias em que acompanhou um grupo em viagem pela ilha de Cuba. As imagens foram feitas em cinco diferentes cidades: Havana, San Antonio de los Baños, Trinidad, Barracoa e Varadero. Sua objetiva capturou traços étnicos e flagrantes do cotidiano cubano, “de forma a retratar os hábitos peculiares dessa ilha caribenha.” A obra também faz uma crítica social, ao questionar a eficiência da famosa medicina cubana, considerada referência no mundo. “Conversando com as pessoas, descobri que os equipamentos, muitas vezes, são precários, e o atendimento não é acessível a todos”, revela.

Transversalidade

A UFMG e o Museu de Arte da Pampulha abrigam o Fórum das Américas, evento internacional promovido pelo instituto homônimo, com o objetivo de discutir questões da transversalidade na cultura contemporânea. Arte e ciência, transarquitetura, intermidialidade e crítica e curadoria serão alguns dos temas abordados. A Universidade sedia a conferência Transversalidade na arte contemporânea, que será ministrada nesta segunda-feira, dia 12, no auditório da Reitoria, pelo historiador da arte, crítico e curador mexicano Cauhutémoc ­Medina. Outra atração será a exposição UFMG 85 Anos, com fotos da Universidade, organizada pelo fotógrafo Foca Lisboa.

A Bienal Universitária de Arte surgiu em 2010 em iniciativa da UFMG em parceira com a Uemg, que resultou no evento que ficou conhecido como Bienal Zero. A proposta foi apresentar a diversidade da produção artística de estudantes universitários brasileiros e de outros países da América Latina e propiciar o intercâmbio de pesquisas em artes visuais. Em sua segunda edição, o evento – agora batizado “Bienal – 1” – comemora os 85 anos de fundação da UFMG.

Todas as atividades são ­gratuitas. A programação está disponível no site http://www.ufmg.br/bienaluniversitariadearte.

Obra de Paul Setúbal em acrílica e pigmento sobre papel: resquícios de paisagens