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Nº 1808 - Ano 39
18.2.2013

Em tom uníssono

Coral colecionou aplausos nas 79 cidades brasileiras e nos 12 países onde se apresentou

Itamar Rigueira Jr.

Mesmo depois de alguns anos longe dos palcos, o Ars Nova continua recebendo convites de festivais e outros eventos internacionais. Isso dá a dimensão da reputação que o coral construiu ao longo das décadas e também confere pleno sentido à iniciativa de resgatar sua história e seu nome em projeto de montagem de grupo do gênero vinculado à UFMG, como salienta o professor da Faculdade de Educação Sergio Cirino, exintegrante do Ars Nova e membro da comissão de reestruturação do grupo. “A referência ao passado é extremamente positiva e vai se juntar às novas ideias na formação de um grupo de excelência para dar sequência à trajetória muito bem-sucedida do Ars Nova”, afirma Cirino.

Cirino lembra que o coral, de caráter amador, chegou a recusar muitos convites para turnês internacionais, uma vez que seus integrantes nem sempre tinham disponibilidade para viagens longas. A primeira experiência do grupo no exterior foi em 1969, quando representou o país no 2º Festival Internacional de Corais Universitários, no Lincoln Center, de Nova York. “Só o Ars Nova foi aplaudido de pé”, recorda a professora Ana Maria Arruda Lana, que fazia também sua primeira viagem para terras estrangeiras.

De sua primeira fase como corista do Ars Nova – ela voltaria a cantar com o grupo no final da década de 90 –, a professora aposentada da Faculdade de Medicina destaca também o prêmio máximo no 2º Concurso Latinoamericano de Coros, em 1969, na Argentina e, um ano depois, participação de destaque, sobretudoentre os corais de fora da Europa, no 18º Concorso Polifonico Guido d’Arezzo, na Itália. Ana Lana, que integrou o naipe dos contraltos, estaria presente também na última viagem internacional do coro, convidado em 2001 para se apresentar na convenção da Associação dos Regentes de Corais Americanos, no Texas, Estados Unidos.

Origem

Estima-se que até 500 pessoas podem ter passado pelo Ars Nova em suas cinco décadas de atividades. Como parte do trabalho de resgate da história do coral, quase 300 nomes já foram levantados por integrantes da comissão de reestruturação como o advogado Marcio Velloso, um dos fundadores do coral.

Fundado em 1959, o coro logo se incorporou à União Estadual dos Estudantes (como Coral da UEE), à qual permaneceu vinculado até 1963 sob regência de Sergio Magnani. No ano seguinte, a convite do então reitor Aluísio Pimenta e já sob o comando do maestro Carlos Alberto Pinto Fonseca, passou a integrar os quadros da UFMG. Pouco depois, seria batizado de Ars Nova – Coral da UFMG, referência ao estilo musical que passou a vigorar no século 14, especialmente na França e na Itália. Foram cerca de 1400 apresentações em 79 cidades de12 estados brasileiros, mais 66 cidades de 17 países – do Uruguai à Coreia do Sul, onde o Ars Nova participou da abertura dos Jogos Olímpicos de 1988.

O repertório do grupo abrangeu peças sacras e profanas desde a Idade Média e contemplou o folclore brasileiro e latino-americano, além de músicas tradicionais de outros países. O Ars Nova fez primeira audição ou gravação de uma série de obras, como a Sexta missa, de Francisco Mignone, apresentada em 1967, no Rio de Janeiro, a convite do próprio autor, e gravada com peças também Em tom UNÍSSONO Coral colecionou aplausos nas 79 cidades brasileiras e nos 12 países onde se apresentou inéditas de Heitor Villa-Lobos. Também fez première mundial da Missa afro-brasileira – de batuque e acalanto, composta nos anos 70 pelo maestro Carlos Alberto Pinto Fonseca, e lançou CD na Alemanha com gravação do então inédito Réquiem de Francesco Durante, compositor italiano do período barroco.

Com a aposentadoria compulsória do maestro Carlos Alberto, em 2003, e a morte de seu substituto, Rafael Grimaldi, durante um ensaio cinco anos depois, o coral acabou interrompendo suas atividades. Coordenador do grupo por mais de 30 anos, Marcio Velloso diz que a reativação do Ars Nova era um sonho. “Foi um dos melhores trabalhos de minha vida”, diz o ex-corista, que colabora na reconstituição do acervo do grupo.

Grife

A ideia de retomada de atividades do Ars Nova, como programa de extensão da UFMG, começou a tomar forma em dezembro de 2011, quando um pequeno grupo de ex-integrantes do coro se apresentou, sob a regência de Iara Fricke Matte, durante a entrega do prêmio Mendes Pimentel, in memoriam, ao maestro Carlos Alberto Pinto Fonseca. “A reestruturação do Ars Nova não é ideia isolada, mas fruto do desejo de muita gente”, enfatiza a professora Ana Lana. “O nome Ars Nova acabou se tornando uma grife da Universidade”, complementa.

O professor e ex-corista (do naipe dos baixos) Sergio Cirino reforça essa visão, quando lembra que o Ars Nova foi fundamental para a formação de cantores líricos e regentes que se destacam, no Brasil e no exterior, como Sylvia Klein, Edna D’Oliveira, Sebastião Teixeira, Marcos Thadeu Gomes e Suely Lauar. Ele ressalta ainda a importância da reorganização do grupo como forma de incentivo para a comunidade universitária e para formação de músicos e de plateias. “O Ars Nova vai retomar suas atividades em diversas direções e ganha mais importância agora que o ensino de música é obrigatório no ensino básico. Poderá receber professores em seus ensaios, gravar CDs para distribuição na rede pública, além de subsidiar pesquisadores com a organização de seu acervo”, prevê Sergio Cirino.