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Nº 1809 - Ano 39
25.2.2013

Cultura do impresso

Núcleo da EBA estuda as formas de expressões textuais, iconográficas e materiais relacionadas ao livro

“Apenas preservando a inteligência da cultura do códex poderemos gozar a ‘felicidade extravagante’ prometida pela tela”, escreveu Roger Chartier, um dos mais respeitados pesquisadores da história do livro. A frase poderia servir de lema para o Núcleo de Estudos da Cultura do Impresso (Neci), criado em 1999 na Escola de Belas-Artes (EBA).

“Nosso objetivo é refletir sobre as relações estabelecidas entre as diferentes formas de expressão – textuais, iconográficas e materiais – que constituíram a cultura do impresso. Para isso é fundamental a identificação das diferentes práticas socioculturais e das tradições gráficas e estéticas fixadas em torno da tipografia”, comenta a professora de gravura Daisy Turrer, uma das fundadoras do Neci e coordenadora até o início deste ano, quando passou o bastão para a professora Ana Utsch.

Um exemplo representativo do trabalho do Núcleo é o projeto Arqueologia do Impresso, que promoveu estudos do acervo da Biblioteca do Santuário do Caraça. Os professores Paulo Bernardo Vaz (Fafich), Eliana Mussi (Fale), Daisy Turrer (EBA) e Alexandre José Gonçalves (na época doutorando em História na Unicamp) se debruçaram sobre a coleção do século 16 para estudar as características paratextuais das obras naquele período, cerca de 100 anos depois da invenção da imprensa.

“Os livros dessa época encerravam na página de rosto os rastros precisos das diferentes modalidades de produção e de difusão do livro impresso no Antigo Regime, evidenciando a convivência das antigas práticas de mecenato, de privilégio (autorização) e de censura com as estratégias de difusão concebidas pelo editor-impressor. O acervo do Caraça não chega a ser grande, mas é muito significativo”, comenta Daisy Turrer.

Outro produto das investigações do Neci é um estudo comparativo de duas edições de Dom Quixote, uma do final do século 17 e outra do século 19. A primeira é ilustrada em gravura em metal, e a segunda, em litografia. Elas se prestam de forma exemplar à pesquisa em torno das mudanças paratextuais na construção do livro a partir do século 17. O trabalho será publicado em breve com o título D. Quixote: encenações tipográficas, organizado por Daisy Turrer e Eliana Muzzi.

Doação

A origem do Núcleo de Estudos da Cultura do Impresso remonta a 1997, quando a Imprensa Universitária ofereceu equipamentos antigos ao setor de gravura da Escola de Belas-Artes. Uma pequena oficina tipográfica foi instalada junto ao setor. “Não tinha capacidade para grandes edições, mas nos inspirou a criar o grupo de estudos”, relembra Daisy Turrer, mestre e doutora pela Faculdade de Letras da UFMG, onde pesquisou o livro como experiência de escrita.

Daisy acrescenta que foi contratado à época o tipógrafo aposentado Daniel Walter, para dar suporte técnico às atividades. “O apoio do tipógrafo operacionaliza as aulas, já que é preciso organizar os tipos, preparar as máquinas etc.”, ela justifica. Com a morte de Daniel, em 2006, e diante da dificuldade de encontrar outro profissional na área, o trabalho da oficina tipográfica ficou inviabilizado. Atualmente, os equipamentos estão sob responsabilidade dos professores Amir Brito e Mario Azevedo, que elaboram projeto de retomada das atividades da oficina tipográfica do Neci.

Ao longo dos anos, o Neci também promoveu exposições de arte tipográfica, seminários mensais conduzidos por professores de diferentes unidades acadêmicas, e elaborou oficinas para o Festival de Inverno da UFMG, coordenadas pelos professores Maria do Carmo Freitas, Tânia Araújo, ­Marcelo ­Drummond e Daisy Turrer.

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