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Nº 1809 - Ano 39
25.2.2013

Economia nova, concentração de sempre

Mesmo com as novas tecnologias, indústria audiovisual brasileira continua enraizada no eixo Rio-São Paulo, aponta tese de doutorado

Gabriella Praça

Na quebra de estrutura imposta à indústria do audiovisual pela chamada “economia da informação”, as grandes produtoras e gravadoras lucram com prestação de serviços mais do que com a venda de seus produtos. Embora as novas tecnologias tenham reduzido os custos de produção e distribuição de conteúdo, abrindo espaço para a atuação de empreendimentos independentes, o setor ainda se concentra majoritariamente no eixo Rio-São Paulo, onde as maiores empresas do ramo estão instaladas. Esse é o panorama apresentado na tese A indústria do audiovisual no Brasil: uma análise a partir de dados cross-section e longitudinais, defendida no dia 1º de fevereiro no Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG.

O autor do trabalho, Felipe Lacerda Diniz Leroy, analisou seis bancos de microdados de pesquisas realizadas ao longo de um período de dez anos. A partir do cruzamento de informações sobre empresas, prestação de serviços, distribuição, disponibilidade de equipamentos culturais, consumo, entre outras, foi possível analisar o segmento em suas diversas facetas – da forma de organização e composição do mercado de trabalho à demanda por bens audiovisuais. As fontes de dados foram os censos 2000 e 2010, as pesquisas Industrial Anual (PIA), Anual de Serviços (PAS) e de Orçamentos Familiares (POF), todas geradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e complementadas por informações da Agência Nacional de Cinema (Ancine) e da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD).

A questão central do estudo foi identificar de que forma se sustenta a indústria do audiovisual, em que quase não se veem mais locadoras e lojas de CDs, e o usuário acessa online e gratuitamente boa parte do conteúdo. “Como não é mais possível inibir a pirataria, devido ao alto custo de fiscalização, a saída encontrada pelo setor foi investir em novas estratégias de negócios”, revela Leroy. “Ainda existe a precificação do mercado estabelecida pelas empresas ‘líderes’. Porém, hoje, elas ganham dinheiro de outra forma: não vendem CDs e DVDs, mas lucram com shows e exibições cinematográficas”, aponta o autor, professor do curso de Ciências ­Econômicas do Grupo Ibmec em Belo Horizonte.

Consumo

Assim como a indústria do audiovisual, também a massa de trabalhadores do ramo ainda se concentra no eixo Rio–São Paulo. “Com as produtoras independentes, essa força de trabalho não precisa mais estar fisicamente presente onde as grandes empresas estão, mas, na prática, ainda é isso que acontece”, observa o recém-doutor. Além disso, segundo ele, os artistas ainda necessitam das empresas de grande porte para se promoverem. “Raramente um músico consegue alcançar sucesso apenas divulgando seu trabalho pelo Youtube”, avalia. “Em vez disso, ele terá de recorrer a uma grande gravadora, que vai impulsionar sua carreira e reter a maior fatia do lucro”, acrescenta.

O consumo também se concentra nos centros mais desenvolvidos do país, já que a maior parte das salas de cinema está instalada em shopping centers. A análise de dados da POF revelou que 84% dos chefes de domicílios brasileiros declaram gasto zero com produtos audiovisuais. Na comparação entre microrregiões constatou-se disparidade intensa, devido à falta de infraestrutura que viabilize, por exemplo, exibições cinematográficas. O consumo online de bens culturais também se mostrou reduzido, devido ao baixo índice de residências com acesso à internet no Brasil. “Baixar música ou filme em casa é uma opção apenas para os 28% das famílias brasileiras que têm acesso à rede”, salienta o autor.

Tese: A indústria do audiovisual no Brasil: uma análise a partir de dados cross-section e longitudinais
Autor: Felipe Lacerda Diniz Leroy
Defesa: 1º de fevereiro, no Cedeplar
Orientadora: professora Ana Flávia Machado