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Nº 1811 - Ano 39
11.3.2013

Identidade na jogatina

Monografia sobre o jogo do bicho evidencia peculiaridades de bairro de BH e reafirma simpatia dos mais velhos pelas apostas

Matheus Espíndola

Uma recordação de infância povoou o imaginário de Raquel Melilo durante anos. Muitas das vezes em que ia à casa dos avós, no bairro de Santa Tereza, Zona Leste de Belo Horizonte, ouvia, invariavelmente, a mesma resposta quando perguntava pelo avô: “Ele está jogando no bicho”. Já como estudante da UFMG, decidiu canalizar essa memória em um estudo acadêmico. Sua monografia de conclusão do curso de Geografia abordou a percepção popular sobre o jogo que tanto cativava o avô, relacionando-a com a dinâmica territorial da atividade.

Instituição que resistiu na ilegalidade ao longo da maior parte da sua existência – que já dura mais de um século –, o jogo do bicho compõe a identidade coletiva das comunidades e serve de parâmetro para análises socioespaciais. “O jogo do bicho ajudou a construir a identidade do bairro Santa Tereza em relação à metrópole belo-horizontina. Além do jogo, o caráter boêmio, a arquitetura antiga de algumas casas, a ausência de prédios altos e a pracinha [a Praça Duque de Caxias] formam o cenário pitoresco do bairro”, exemplifica Raquel, que atua como professora de Geografia na rede particular de ensino em Belo Horizonte.

Encanto na ilegalidade

O jogo do bicho é interpretado pela lei brasileira como contravenção penal (crime menor ou infração para a qual a pena é mais leve). Raquel Melilo acredita que esse é, contraditoriamente, um fator ao qual se pode atribuir o crescimento da atividade no país. “Os bicheiros tiveram que se organizar ao longo dos anos para criar um mecanismo sólido que favorecesse a sobrevivência da jogatina na ilegalidade. Além do mais, se fosse legalizado, o jogo perderia seu encanto”, observa.

O mapeamento dos dados coletados por meio da pesquisa de campo (que compreendeu, entre outras ferramentas, a aplicação de questionários aos moradores) permitiu elaborar uma espacialização dos pontos de jogo do bicho no bairro. A autora atestou que existem pelo menos oito casas do ramo, mas alguns dos moradores com quem conversou declararam que sabem do funcionamento de até dez. Autoridades policiais também foram consultadas. Eles justificaram a permanência da atividade alegando que os pontos, quando fechados pela polícia, reabrem no dia seguinte, muitas vezes travestidos de pequeno comércio ou loja de serviços.

Uma das conclusões do trabalho foi a de que a esmagadora maioria dos adeptos do jogo do bicho em Santa Tereza é composta pelos moradores mais antigos. “Os entrevistados com opinião positiva sobre o jogo têm mais de 50 anos. Geralmente conhecem a família do bicheiro e garantem que são pessoas de boa índole. Há uma ligação afetiva, de respeito”, descreve a geógrafa. Para ela, a adesão ao jogo também está alicerçada na confiança em relação à sua lisura: “O jogo do bicho não passou pelo processo de informatização, tudo é feito à maneira antiga. Os que jogam confiam no resultado e na entrega do prêmio, para a qual não existe burocracia”.

De acordo com Raquel Melilo, a participação de pessoas de faixas etárias díspares é contrastante. Enquanto os mais velhos foram capazes de auxiliar na localização dos pontos, alguns jovens tampouco têm conhecimento de sua existência. Para a autora, é real a possibilidade de que essa falta de interesse resulte no fim da modalidade: “Percebo que o hábito do jogo do bicho não vem sendo passado às novas gerações. Por isso, creio que ele pode caminhar para a extinção nas próximas décadas”, finaliza.

Monografia: O jogo do bicho no bairro de Santa Tereza-BH: compreensão do processo de territorialização e espacialização da contravenção
Curso: Geografia
Data de defesa: 21de dezembro de 2012
Orientadora: professora Marly Nogueira

Balança na roda

UFMG desenvolve e transfere tecnologia para aferição de carga em caminhões

A Universidade firmou na semana passada contrato de licenciamento de tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Escola de Engenharia para medir em tempo real a carga de veículos, por meio da aferição do peso que incide sobre cada roda. A Sociedade Empresarial de Empreendimentos Tecnológicos (Sememte) vai comercializar o dispositivo. O modelo foi idealizado pelos professores Carlos Barreira Martinez, Marcos Pinotti Barbosa e Luiz Antônio Aguirre para facilitar o controle de carga em caminhões.

A expectativa é de que dentro de um ano o produto esteja no mercado. O diretor-presidente da Sememte, Marcos Vasconcellos, ressalta que o dispositivo possibilitará maior eficiência na fiscalização feita nas estradas brasileiras. “Com o aparelho acoplado aos caminhões, não haverá necessidade de balança”, adianta. Segundo ele, atualmente há 70 balanças instaladas em rodovias no país, mas apenas 30 delas estão em funcionamento.

Crescimento

Primeiro contrato do tipo assinado pela UFMG no ano de 2013, este é também o primeiro licenciamento feito pela Universidade já com a carta-patente concedida. O pró-reitor de Pesquisa, Renato de Lima Santos, enfatizou o crescimento da inovação. “O número de depósito de patentes dos últimos três anos supera a quantidade alcançada durante toda a trajetória anterior da UFMG”, ressaltou. Foram depositados 75 pedidos de patentes junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 2011, e 76, em 2012. Segundo o pró-reitor, a meta é atingir média de 200 a 250 pedidos ao ano.