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Nº 1832 - Ano 39
19.8.2013

A força dos vermelhos

Em livro da Editora UFMG, historiadores analisam influência cultural dos comunistas brasileiros

Flávio de Almeida

Se como projeto político o comunismo naufragou, como tema de pesquisa ainda é uma importante chave para se compreender a história do século 20. No caso brasileiro, os comunistas exerceram papel de proa na literatura, no cinema, no teatro, nas artes plásticas, no jornalismo e na música, além de ter seduzido parcela expressiva da sociedade – intelectuais, artistas, estudantes e trabalhadores – com seus valores.

Um apanhado dessa influência exercida pela “ideologia vermelha” aparece na coletânea Comunistas brasileiros – cultura política e produção cultural, publicada pela Editora UFMG com a organização dos professores Rodrigo Patto Sá Motta, do Departamento de História da UFMG, Marcos Napolitano, da USP, e Rodrigo Czajka, da Unesp-Marília.

Os 16 artigos foram apresentados originalmente em colóquio realizado em outubro de 2001, no Departamento de História da USP. “Basicamente, reunimos dois grupos de pesquisa: o da UFMG, que trabalha com a abordagem da cultura política, e o da USP, que investiga como o Partido Comunista Brasileiro trabalhou como agência produtora de cultura”, explica o professor Sá Motta, que coordena na Fafich o grupo História Política – Culturas Políticas na História.

A obra, que também reúne contribuições de pesquisadores do Rio de Janeiro e Paraná que transitam entre as duas abordagens, será lançada no dia 27 de agosto, às 18h, no auditório Luiz Bicalho, da Fafich.

A visão do comunismo como uma cultura política é detalhada, sobretudo, no artigo do professor Sá Motta. Desenvolvido pelas ciências sociais norte-americanas nas décadas de 1950 e 1960 e mais tarde apropriado pela historiografia, esse conceito sugere que a cultura influencia os posicionamentos e decisões políticas, contrariando certa visão liberal que vê os agentes políticos movidos apenas por ideias e interesses. “Isso pressupõe que os homens também agem por paixões, sentimentos, medo, ódio e esperança; são mobilizados por representações e imaginários que constroem mitos e heróis”, explica o professor.

Nesse sentido, o comunismo é, em sua avaliação, um dos mais bem-sucedidos exemplos de cultura política, tendo atraído para suas fileiras intelectuais e artistas em todo mundo. “O comunismo sempre foi muito sedutor em relação aos homens e mulheres de ideias e artistas, muito mais do que a direita, embora esta também tivesse os seus intelectuais”, afirma Sá Motta, lembrando que a adesão de figuras como os escritores Jorge Amado e Graciliano Ramos, os pintores Candido Portinari e Pablo Picasso e o filósofo Louis Aragon ajudava a disseminar uma imagem positiva do movimento, contrapondo-se aos grupos anticomunistas que o demonizavam.

Engajamento

Além de Rodrigo Patto Sá Motta, dois outros pesquisadores da UFMG assinam textos na coletânea: a mestre em História Paula Elise Ferreira Soares, que faz uma análise das representações do camponês em obras de Portinari, e a professora Miriam Hermeto, do Departamento de História, que discorre sobre o Grupo Casa Grande, frente de resistência político-cultural que se formou no Rio de Janeiro na segunda metade da década de 1970.

Os demais artigos da coletânea dão uma dimensão precisa da representatividade dos comunistas na cena cultural brasileira das últimas décadas. Igor Sacramento, pesquisador da UFRJ, escreve, por exemplo, sobre a “teledramaturgia engajada” de autores comunistas – com destaque para Dias Gomes –; Marco Roxo e Mônica Mourão (UFF) identificam um pacto entre comunistas e a imprensa conservadora no Brasil; e Arnaldo Daraya Contier (Universidade Presbiteriana Mackenzie) disseca a música engajada de Sérgio Ricardo, que ficou famoso por quebrar e atirar o violão na plateia em reação à vaia que recebeu ao interpretar a música Beto bom de bola, no Festival da Record em 1967.

Livro: Comunistas brasileiros – cultura política e produção cultural
Organizadores: Rodrigo Patto Sá Motta, Marcos Napolitano e Rodrigo Czajka
Editora UFMG
Lançamento: 27 de agosto, às 18h, no auditório Luiz Bicalho, da Fafich
Preço sugerido: R$ 58