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Nº 1835 - Ano 39
09.09.2013

opiniao

Yes, nós temos bananas!

Eduardo Marchetti Pereira Leão da Motta*

Somos uma espécie exótica, do tipo interessante, que desperta sorrisos e comentários calorosos. Sambamos, bebemos caipirinha e fazemos festa durante todo o ano. Reza a lenda que também existem cobras em nossas cidades. E que nosso bom humor e nosso otimismo se devem ao nosso bendito clima. Enfim, somos brasileiros.

Nosso país possui diversidade e adversidade de enormes proporções. São altos e baixos, e extremos radicais. Beleza, pobreza, riqueza, esperteza. São tantas coisas para falar sobre ele que parece ser fácil. Ou, justamente por isso, não. São tantos extremos que evitar estereótipos parece difícil. Ou não. Estereótipos e generalizações são construídos como sendo representações equivocadas e preconceituosas da identidade nacional. Além do mais, podem nos fornecer uma armadilha facilitadora nas discussões, oferecendo uma visão simplista da situação. Se até entre as regiões e os estados do Brasil existem os estereótipos, que dirá a partir do olhar dos estrangeiros. Foi isso que me motivou a realizar minha pesquisa. Quando alguém me perguntava como era o Brasil, o que fazíamos, nossos hábitos, aspectos da nossa vida, eu sempre tinha medo de responder, pois podiam me tomar como amostra única e a minha resposta como se fosse a de todos os brasileiros. Daí surgiu a ideia de elaborar uma pesquisa sobre a imagem do Brasil no exterior durante o meu período de intercâmbio acadêmico, no primeiro semestre de 2012, na Università di Siena, Itália. A metodologia utilizada foi bem simples e consistia em uma só pergunta: “Quais são as três primeiras coisas que lhe vêm à mente quando ouve falar em Brasil?” O objetivo era entrevistar apenas jovens que nunca haviam estado no Brasil. A pesquisa também foi feita pela internet para facilitar a participação de outros jovens.

A pesquisa obteve amostra de 101 pessoas com idades entre 19 e 29 anos (média de 23) e chegou aos seguintes resultados: “carnaval/samba” foi a resposta mais recorrente (19%), seguida por “natureza/praias/florestas” (14%), “futebol/jogadores” (11%), “Rio de Janeiro” e “calor/Sol/clima” (10% cada). Alguns aspectos negativos foram citados, como corrupção, violência, desigualdade social e degradação ambiental, somando 2%. Elementos avulsos foram categorizados como “Outros” – capoeira, loucura, paz, grandes distâncias, grandes cidades, bandeira e o curioso “depilação brasileira”.

Não foi por acaso que, na festa de apresentação do Brasil na cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres, a primeira imagem foi a de um gari e mulatas fantasiadas que sambavam. É certo que o feriado e a festa de Carnaval são esperados ansiosamente por nós, brasileiros, tanto pela possibilidade de descanso prolongado, quanto pelo frenesi do festejo pagão. É tão importante e presente na nossa cultura que até existe a máxima: “Aqui, o ano só começa depois do Carnaval”. O segundo conjunto de termos mais popular refere-se à nossa beleza natural: praias, florestas, Amazônia, natureza. Nada mais justo e honroso para nós, gigantes pela própria natureza – se não acreditarem, claro, que moramos em casa sobre as árvores, que temos chimpanzés de estimação ou que nossas cidades são infestadas de cobras. E, sim, nossas praias são realmente estonteantes, não só visualmente, mas também pela temperatura agradável de sua água, pela areia fininha e por ela ser um espaço realmente democrático.

Ah, o futebol! Colocado em terceiro lugar da pesquisa, é considerado patrimônio cultural, paixão nacional, única felicidade desse nosso povo tão sofrido, e está inegavelmente enraizado em nosso país, para o bem e para o mal. Podemos observar a quantidade de músicas, filmes, novelas, peças de teatro que tiveram/têm este esporte como destaque. Sem falar no espaço dedicado a ele pela mídia. O futebol transpõe os limites do campo esportivo e se constitui de forma complexa em nossa sociedade; através dele podemos exprimir sentimentos como paixão, ódio, alegria, tristeza, prazer, fidelidade, coragem, superação, dentre outros. As expressões “pisar na bola” e “bola fora” também têm sua origem no futebol. Estádios figuram entre os pontos turísticos e estampam cartões-postais. Não é à toa que a personalidade mais citada nesta pesquisa foi o ex-jogador Ronaldo.

Temos o péssimo hábito de achar que somente nós podemos falar mal de nossas terras tupiniquins. Ledo engano. E não adianta apontar a miopia estrangeira como única ré. Nós, brasileiros, principalmente os que moram fora, ajudamos a construir essa visão deturpada. É muito mais fácil e menos desgastante se submeter a uma ideia preconcebida do que discordar e apresentar uma realidade muito mais complexa. Somos nós mesmos que não conhecemos bem nosso próprio país, nossa própria cultura, origens, problemas, contradições, belezas. Nós, que adoramos falar bem do Brasil quando estamos no exterior, mas que, aqui, o insultamos sem piedade. Brasil: ame-o – e ajude a construí-lo – ou deixe-o.

*Economista formado pela UFMG