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Nº 1835 - Ano 39
09.09.2013

As quatro estações

Inspirado na obra de Vivaldi, novo programa da Rádio UFMG Educativa aborda as relações entre sociedade e natureza

Ewerton Martins Ribeiro

Os concertos de As quatro estações garantiram a posteridade para Vivaldi, que escreveu as músicas no século 18, na ­Veneza em que nasceu e viveu. Parte do charme da cidade que inspirou o músico italiano é fruto de ela ter sido construída em um contexto natural um tanto inóspito, que exigiu a adoção de soluções inovadoras para o empreendimento. Veneza foi erguida em meio a uma laguna marítima, e sua sustentação se distribui por dezenas de pequenas ilhas, que se conectam apenas por pontes e canais. As particularidades estruturais de Veneza e a temática da obra de Vivaldi inspiraram a escolha do nome do novo programa da Rádio UFMG Educativa, que estreia nesta terça-feira, dia 10, às 21h45. Em forma de pílula de três minutos, As quatro estações trata das relações entre a sociedade e a natureza ao longo da História. O programa será apresentado de terça a sexta e vai abordar temas os mais variados, como Janis Joplin, árvores ficus, Coliseu, pesticidas e King Kong.

O programa é ancorado por Regina Horta, professora do Departamento de História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), tem edição técnica de Gilberto Correia e integra as atividades do grupo de pesquisa História e Natureza, da Fafich. Regina enfatiza a importância da reflexão histórica sobre os paradoxos que envolvem a preocupação ambiental e o modo de vida contemporâneo. A um olhar incauto, aponta Regina, poderia parecer que o mundo se tornou obcecado pela natureza e sua preservação. “Mas aparece aí uma importante contradição. A sociedade que, em tese, alçou o meio ambiente a prioridade temática e estratégica é a mesma que fez e continua fazendo o consumo de bens alcançar níveis nunca antes conhecidos por nenhuma sociedade ao longo da história”, esclarece.

Segundo Regina, investiu-se no passado na ideia da abundância a ser usufruída, mas não em uma noção de limite. Daí, entre outros fatores, resultou nosso estilo de vida voltado para o consumo. “Construímos uma sociedade em que adquirir os mais novos bens de mercado se transformou em um dos principais atos de prazer”, diz a professora. No entanto, os limites se mostraram não só evidentes, mas também constrangedoramente próximos. “Percebemos o cenário, e criou-se o ideal de desenvolvimento sustentável. Mas continuamos vivendo sob o paradigma do consumo: todo país continua desejando aumentar o poder de consumo dos seus cidadãos, o crescimento de suas indústrias, a produção de automóveis, a exploração de fontes petrolíferas. Há aí um desafio político, econômico, estrutural, um desafio de diretriz social”, diz.

O olhar da história

Dos paradoxos desse cenário adveio a história ambiental, um dos principais focos de atenção dos historiadores contemporâneos. “Muitas vezes os historiadores são rotulados como pessoas que só gostam de ‘velharias’, de coisas do passado. A história ambiental é um exemplo de como a produção do conhecimento em nossa área se faz em sintonia com o seu próprio tempo”, salienta a pesquisadora.

“Compreender a historicidade das relações entre a sociedade e a natureza pode, certamente, dar-nos instrumentos para assumirmos uma postura mais crítica nos debates sobre o ambiente, para nos tornarmos mais capazes de perceber mais claramente tanto as falácias do desenvolvimentismo como as idealizações autoritárias de algumas propostas ecológicas ditas ‘alternativas’”, continua a professora da Fafich, lembrando que o programa As quatro estações representa um esforço de levar as discussões da história ambiental para o público amplo, de forma acessível. Regina Horta pretende, mais tarde, reunir os episódios em um ambiente web exclusivo, como um site ou blog, tornando-os disponíveis para que professores do 2º grau possam utilizá-los em sala de aula.