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Nº 1836 - Ano 39
16.09.2013

opiniao

Geoturismo e interpretação ambiental na Serra do Rola-Moça

Charles de Oliveira Fonseca* e Vagner Luciano de Andrade**

Este artigo pretende refletir brevemente sobre como os processos geológicos e geomorfológicos interferem na dinâmica da paisagem do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, unidade de conservação de quase quatro mil hectares localizada na região metropolitana de Belo Horizonte. Seu relevo varia entre serras escarpadas, colinas suaves e depressões que seduzem e ampliam o imaginário dos visitantes. A política da unidade de conservação prioriza atividades e visitas com fins educativos e de lazer ligadas à interpretação ambiental e pesquisas científicas. Nos últimos anos, esforços têm sido feitos no sentido de se criar uma conexão dos conhecimentos das geociências com a prática do turismo no respectivo parque. Entretanto, as pesquisas ainda não objetivam um aprofundamento minucioso neste novo campo do saber denominado de “geoturismo” ou “turismo geológico”, para o qual o estado de Minas Gerais apresenta enorme potencial.

Este tema contribui para a seleção de assuntos relevantes como formações rochosas, relevo e modificação do espaço, contribuindo para a melhor compreensão da composição das paisagens do parque, legitimando sua importância e preservação. O Parque Estadual da Serra do Rola-Moça possui paisagens diversificadas relacionadas ao contexto geológico do Quadrilátero Ferrífero (QF), o que lhe confere importância ímpar no tocante às formações geológicas e geomorfológicas. A geodiversidade do QF envolve toda a história da mineração, além de aspectos paleoambientais e geomorfológicos do estado de Minas Gerais. Suas paisagens tornam-se fundamentais para a futura contemplação da geodiversidade, que, muitas vezes, é ignorada em atividades turísticas em outras unidades de conservação mineiras. A paisagem se torna aspecto crucial à abordagem da visita turística, uma vez que é o resultado da lenta ação do tempo geológico sobre as rochas. Possibilitar que as pessoas desvendem os processos formadores daquelas paisagens é uma forma de aproximá-las do parque, fortalecendo a concepção dele como espaço de aprendizado e lazer.

Trata-se aqui não do aprendizado teórico da sala de aula, mas sim do prático, por meio do contato in loco com os legados produzidos pelas ações construtivas e destrutivas que transformam geologicamente o planeta. Neste contexto, a interpretação é uma técnica a ser utilizada como forma de instituir tais condições de aprendizado. Por meio dela, criam-se novas possibilidades de se perceber o ambiente e de se formularem deduções – e, desta forma, agregar valores distintos ao espaço observado.

Interpretar é traduzir a linguagem técnico-científica inacessível ao público geral em linguagem de fácil compreensão para não especialistas. Assim, interpretar deve possuir aspecto lúdico e descontraído para que se facilite ao espectador a rápida assimilação do tema, criando condições pedagógicas de releituras da paisagem com destaque para os elementos geológicos e geomorfológicos que a compõem. Os vastos e complexos conceitos e estudos das geociências, geografia e geologia são repassados através da prática educativa de cunho turístico. Essa visão da interpretação vai ao encontro das novas propostas de turismo da contemporaneidade. E essa nova forma de turismo geológico segue os preceitos do turismo pedagógico e do ecoturismo, tendo como foco principal a geodiversidade. Por meio da interpretação de locais relevantes e da sensibilização do público participante, o geoturismo busca a conservação do patrimônio natural e geológico.

Assim, entende-se que a consolidação da prática do geoturismo no Parque do Rola-Moça é algo de extremo valor principalmente porque o Quadrilátero Ferrífero é uma das regiões propostas para a criação de um geoparque submetida à avaliação da Unesco. Além de sua importância histórica e econômica, esta região poderá ser um dos sítios de reconhecimento e diplomação internacional com fins de preservação e pesquisa. Propor atividades que valorizem o patrimônio geológico é um importante passo para a confirmação da região do parque como destino excepcional para a prática do geoturismo. Práticas nesse sentido ganharão visibilidade positiva no campo do turismo em âmbito nacional e internacional colocando Minas na vanguarda do processo. Espera-se que, em breve, o geoturismo faça parte do contexto das demais unidades de conservação, proporcionando maior envolvimento dos visitantes com o ambiente visitado, sobretudo em Minas Gerais, que possui geodiversidade única e majestosa.

*Turismólogo e mestrando em Geografia pelo IGC/UFMG
**Geógrafo e graduando em Educação do Campo/Ciências Sociais e Humanidades pela FaE/UFMG