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Nº 1836 - Ano 39
16.09.2013

Seleção da academia em campo

Pensadores abordam interseções do futebol com áreas como antropologia, economia e comunicação

Ewerton Martins Ribeiro

Embora seja um dos fenômenos mais significativos da cultura brasileira, o futebol foi por muito tempo mantido à margem das preocupações da academia, e se tornou objeto de análise científica apenas a partir do final da década de 1970. Nesta semana, de quarta a sexta (18 a 20), o Memorial Minas Gerais Vale (Praça da Liberdade, s/nº) recebe o 1º Simpósio Internacional Futebol, Linguagem, Artes, Cultura e Lazer, demonstração cabal de que o tema recebe cada vez mais atenção dos pesquisadores.

Dezesseis pensadores vão ministrar palestras e compor mesas em torno de aspectos variados do esporte. Entre eles, quatro especialistas estrangeiros – de Alemanha, Argentina, Inglaterra e México. Os participantes vão debater as interseções do futebol com disciplinas como estética, sociologia, política, antropologia, economia, memória, literatura e comunicação. Entre as abordagens, o conceito de brasilidade na seleção nacional, o pertencimento clubístico, o comportamento das torcidas, a popularidade do esporte, as relações entre o futebol e o modernismo e o futebol em face dos megaeventos esportivos.

Nacionalismo e globalização

A organização do Simpósio reuniu algumas das principais referências internacionais da reflexão acadêmica sobre o futebol. Na abertura, na quarta, Richard Giulianotti, da Universidade de Loughborough, Inglaterra, divide a mesa com Pablo Alabarces, da Universidade de Buenos Aires, Argentina.

Alabarces fará releitura dos argumentos de seu livro Fútbol y patria, de 2002 (sem tradução no Brasil), em que investigou as maneiras como se construíram e modificaram as relações entre o futebol e as narrativas nacionais na Argentina no século 20. “Dez anos depois, quero retomar essas reflexões, revisitar as afirmações teóricas – ou sua impossibilidade: afinal, é possível propor uma teoria geral das relações entre esporte e nacionalismo na América Latina ou devemos limitar-nos às análises de caso?”, questiona, sintetizando o problema que fomenta sua investigação.

Giulianotti, por sua vez, faz uma análise sociológica dos principais tópicos de pesquisa e problemas que surgiram na interface entre o futebol e os processos de globalização. O autor de Sociologia do futebol: dimensões históricas e socioculturais do esporte das multidões (Nova Alexandria, 2004) vai oferecer definição sociológica de processos de globalização e examinar o futebol em relação a alguns dos principais aspectos históricos, político-econômicos e socioculturais relacionados a esses processos. “Exploro particularmente a ‘hipercomodificação’ do futebol de elite e o impacto da ‘glocalização’ nas culturas e identidades do futebol nacional”, diz.

Estética e mercantilização

Na quinta será a vez de José Samuel Martínez López, professor da Universidad Iberoamericana Ciudad de México. Sob o mote ­Fútbol y experiencia estética en América Latina: un análisis de las representaciones difundidas en los textos mediáticos, museográficos y literarios, Martínez López se pergunta: no que diz respeito às abordagens literárias, museográficas e midiáticas (imprensa, fotografia, rádio, cinema, televisão), como se tem traduzido (ou tentado traduzir) a experiência estética provocada pelo futebol? “Busco responder a essa questão a partir do campo dos Estudos Literários, em especial a Literatura Comparada”, detalha.

Na sexta, Detlev Claussen, da Universidade de Hannover, Alemanha, fará palestra com o tema Dribbling and passing: from the gentleman’s game to ­professional football. Claussen aborda a transição entre amadorismo e profissionalismo e a nova realidade econômica do futebol advinda dessa mudança, com foco nos casos de Roman Abramovich e Malcolm Glazer, presidentes do Chelsea e do Manchester United, respectivamente. Claussen trata da ascensão do Chelsea após os aportes financeiros do magnata russo: “As conquistas do Chelsea reforçam a ideia de que sucesso pode ser comprado”, diz.

Além dos nomes de fora, o Simpósio terá participação de 12 dos principais acadêmicos brasileiros que pensam o futebol: Arlei Damo, da UFRGS; Bernardo Buarque de Hollanda, da FGV-SP; Flávio de Campos, da USP; Gilmar Mascarenhas, da UERJ; Luiz Carlos Rigo, da UFPel; Marcelino Rodrigues, da UFMG; Martin Curi e Simoni Lahud Guedes, da UFF; Renato Pompeu, escritor e jornalista; Raphael Rajão, do Museu Histórico Abílio Barreto; Sérgio Settani Giglio, da USP e do site Ludopédio; e Victor Andrade de Melo, da UFRJ.